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Mourinho perde intensidade

Goleada sofrida em Stamford Bridge (4x0) revela a perda de iniciativa do treinador do United

José Mourinho recrimina Antonio Conte.
José Mourinho recrimina Antonio Conte.John Sibley (REUTERS)

A perda de motivação é um tópico universal quando se trata de apontar as causas do declínio dos futebolistas. Chama-se isso, eufemisticamente, de “intensidade”, e é invariavelmente aplicado ao conjunto dos que trabalham de shorts. Dá-se como certo que os dirigentes e os treinadores vivem na plenitude do entusiasmo. José Mourinho é o paradigma que desvenda um preconceito. Os jogadores e os técnicos que cruzaram com ele nos últimos anos vêm anunciando isso. O desânimo do treinador mais famoso do mundo é diretamente proporcional à sua escalada no cachê profissional. Estava havia duas décadas sonhando em treinar o Manchester United e, por fim, depois que chegou ao banco vermelho vive a pior época de sua carreira. O 4x0 que ele sofreu no domingo no retorno a Stamford Bridge é seu pior resultado na Premier. A goleada o empurra para a sétima posição na classificação, a seis pontos do City.

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“Sack in the morning! You will be sack in the morning! Sack in the moooorning…!”. Uma parte da torcida do Chelsea lhe dedicou cânticos depreciativos como este, alertando-o que seria despedido na manhã desta segunda-feira, dia seguinte ao jogo.

O United não pensa em despedir Mourinho. Pelo menos por ora, a meta é cumprir o contrato que o vincula ao clube até 2020, à razão de 20 milhões de euros (68 milhões de reais) líquidos por temporada. A novidade, de fato, foi a divisão na torcida do Chelsea. Se algo levou a definir o mito de Mourinho como carismático imbatível foi por sua relação com a multidão que semana após semana acorre a Stamford Bridge. Durante a última década, neste canto mais seleto de Londres, o treinador português foi reverenciado de modo unânime. Ele respondeu jurando lealdade e um compromisso sentimental que a contratação pelo United pôs em xeque. Os fiéis começaram a se dispersar. O 1x0 de Pedrito, depois de uma bolada de Marcos Alonso no primeiro minuto da partida, expôs o esfacelamento na arquibancada blue.

O português criticou Conte por animar a torcida no 4x0: "Nos humilha"

Uns o aclamaram, outros o vilipendiaram, e finalmente todo mundo guardou silêncio ante o espetáculo inverossímil de um Manchester que se desmanchava. Mourinho assistiu à goleada com a cara amarrada, quase não fazendo indicações aos jogadores. A perplexidade geral mergulhou o campo em um clima fúnebre. Antonio Conte, o técnico local, disse que aquilo lhe pareceu tão intolerável que sentiu vontade de encorajar os torcedores

“Vi que com o 4x0 as pessoas estavam caladas e me pareceu que nossos jogadores mereciam um gesto de reconhecimento”, disse o treinador italiano. “Fui jogador e sei como devo comportar-me. Respeito todo mundo, inclusive o United.”

Conte teve de dar explicações depois que as câmeras seguiram Mourinho após o apito final, dirigindo-se a ele para lhe dizer no ouvido que seu comportamento não agradou ao técnico do United. “Com 1x0 você pode pedir que incentivem; com 4x0, nos humilha”, criticou Mourinho.

Mourinho não quis comentar isso na coletiva de imprensa. “Cometemos um erro defensivo incrível no primeiro minuto da partida”, lamentou no tom apagado que caracteriza sua última fase. “Isso nos condicionou.”

O United está há 17 meses sem ganhar em Londres e mergulha na crise. A equipe conta com cinco pontos menos que no ano passado nesta altura do campeonato, na calamitosa campanha que acabou com Louis van Gaal demitido e a equipe na quinta colocação, e fora da Champions. Os quase 400 milhões de euros (1,36 bilhão de reais) investidos em contratações desde 2013 sumiram num redemoinho. Não há linha que não pareça disfuncional. Os centrais, Smalling, Bailly e Blind, parecem aturdidos, quando não abertamente incompetentes; a presença de Fellaini no meio de campo é um mistério; Rooney decai semana a semana e Pogba, a contratação mais cara da história, não encontra um papel. Obrigado a reagir, no domingo o United exibiu apenas um rastro de raiva. Teve a bola, mas lhe faltou imaginação, critério e ordem. À frente, jogadores que até há poucos meses estiveram a cargo de Mourinho, como Costa, Pedrito, Cahill e Hazard, se empenharam com a energia dos vingadores.

Nunca Mourinho foi tão questionado na Inglaterra como nestes dias. A suspeita de que se trata de um treinador desorientado se espalhou primeiro nas secretarias técnicas, coincidindo com sua última temporada no Real Madrid, o período 2012-2013. Agora é a imprensa britânica quase por inteiro que põe em dúvida sua permanência.

Antonio Conte, seu sucessor no Chelsea, usou o 4x0 para sair da zona sombria. A equipe do oeste de Londres se recupera colocando-se a um ponto da liderança, que compartilham, com 2 pontos, Liverpool, Arsenal e, no topo, por diferença de gols, o Manchester City.

Arsenal, City e Tottenham tropeçam

Mau dia no Manchester. Mau dia para os dois treinadores estrelas do Campeonato Inglês. Se o City de Guardiola empatou em casa com o Southampton (1 x 1) – quinto jogo consecutivo sem vitória dosskyblues –, o United de Mourinho desmoronou diante do Chelsea (4 x 0). Apesar do novo tropeço, o City se mantém como líder do torneio, mas empatado em 20 pontos com Arsenal e Liverpool. Pior é a situação de seus vizinhos do United, que depois do desastre deste domingo são os sétimos na tabela, com seis pontos e apenas uma vitória nos últimos seis jogos.

Mourinho voltava ao Stamford Bridge, e Pedro se encarregava de lhe dar as boas vindas com um gol aos 30 segundos, colocando o Chelsea na frente após assistência de outro espanhol, Marcos Alonso. O calvário do técnico português mal acabava de começar, seu United não andava, e aos 20 minutos já perdia por dois gols com o tento de Cahill num escanteio. A segunda parte serviu para que o Chelsea sangrasse mais, nos gols de Hazard e Kanté, este após grande jogada individual. A arquibancada estava em festa, e a torcida blue se lembraram do Mou, seu antigo ídolo. "Você já não é mais o Special One", gritava o público local, enquanto Mourinho aguentava a tempestade como podia.

Tampouco vai muito bem o City, que teve a chance de crescer moralmente nesta rodada diante um rival teoricamente acessível como o Southampton – e ainda mais jogando em casa. Mas o confronto desandou depois do gol de Nathan Redmond para os visitantes, que veio precedido por uma falha de John Stones. O City pouco incomodava, e Guardiola colocou Kelechi Iheanacho no lugar de De Bruyne após o intervalo. A mudança deu certo, e o jovem nigeriano anotou o gol do empate com um passe de Sané.

Ainda faltava mais de meia hora de partida, mas o City não encontrou o caminho para a meta contrária, apesar das mudanças claramente ofensivas de Guardiola. Os citizens se mantêm no alto da tabela por só um gol de diferença, e porque nem Arsenal nem Tottenham ganharam no sábado. Muita igualdade nesta Premier League com cinco equipes separadas por apenas um ponto no topo.

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