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Governo de Maduro deporta líder estudantil opositor para a Espanha

Lorent Saleh, preso desde 2014, foi libertado por “condutas suicidas” e obrigado a abandonar a Venezuela imediatamente por ordem da Constituinte

A mãe do ex líder estudantil Lorent Saleh espera a saída de seu filho do Sebin
A mãe do ex líder estudantil Lorent Saleh espera a saída de seu filho do SebinMiguel Gutiérrez (EFE)
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Yamile Saleh esperou durante horas na sexta-feira, 12, na entrada do El Helicoide, sede do Serviço Bolivariano de Inteligência Nacional (Sebin) em Caracas, para ver em liberdade seu filho Lorent Gómez Saleh, preso desde 2014 por sua suposta participação em planos desestabilizadores. Não foi possível encontrá-lo – só recebeu um telefonema no qual ouviu sua voz. As autoridades venezuelanas transferiram em segredo o opositor, um dos vencedores do Prêmio Sakharov 2017, ao aeroporto internacional Simón Bolívar, a uma hora da capital, para enviá-lo à Espanha. “Não sabia de nada disso. Pensei que iam me entregá-lo aqui, mas está em liberdade e isso é que importa”, disse à imprensa.

Gómez Saleh, de 30 anos, foi deportado por ordem da autodenominada Comissão da Verdade da Assembleia Nacional Constituinte que, em um comunicado divulgado na televisão governamental VTV, afirma que durante sua prisão de quatro anos foi submetido a diversas avaliações psicológicas nas quais havia manifestado condutas “violentas, destrutivas e suicidas” que colocavam sua vida em risco. Para o líder estudantil, presidente da ONG Operação Liberdade, nunca nenhum crime foi comprovado. Os tribunais venezuelanos contestaram 53 vezes a audiência preliminar de seu caso.

Sua libertação coincide com uma curta visita de Juan Pablo de Laiglesia, secretário de Estado de Cooperação Internacional da Espanha, a Caracas e também com a comoção internacional pela morte, cercada de incógnitas, do conselheiro metropolitano Fernando Albán nas instalações da Sebin. “É satisfatório saber que Lorent Saleh foi libertado, nunca deveria ter sido preso. Não acreditem, porém, que sua libertação nos fará esquecer o assassinato de Fernando Albán, dos demais presos políticos e dos perseguidos”, disse o deputado de oposição Juan Pablo García.

Na segunda-feira, Néstor Reverol, ministro do Interior e da Justiça, e Tarek William Saab, promotor geral designado pela Constituinte, informaram que horas antes de transportar o prisioneiro a um tribunal da capital ele tinha se atirado do 10º andar do corpo policial. A oposição e a comunidade internacional questionam a versão oficial. Albán foi preso na sexta-feira depois de ser acusado de participar do atentado contra Nicolás Maduro em 4 de agosto. O Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos pretende investigar sua morte de forma independente da justiça venezuelana.

Libertação de presos políticos

“A Ditadura libertou Lorent Saleh depois de anos de tortura e prisão injusta! A imensa pressão pelo assassinato brutal de Fernando Albán os obriga a libertar presos políticos para lavar o sangue das mãos! Me alegro muito por Lorent e sua família!”, afirmou o dirigente de oposição Sergio Contreras, que já esteve preso por manifestar-se contra o Governo.

A reação não é inédita. Uma série de libertações de presos políticos, entre eles o missionário norte-americano Joshua Holt, aconteceram dias depois de um motim nas celas de El Helicoide, em meados de maio.

A Sebin se tornou um ícone tenebroso do Governo de Maduro. Seu diretor, o general Gustavo González López, acumula várias sanções internacionais por ser inclemente contra os opositores. Até quinta-feira, havia 226 presos políticos no país, segundo a ONG Foro Penal Venezuelano. Com a soltura de Gómez Saleh seria um a menos, apesar de a perseguição persistir no país. “Alerta, funcionários do Sebin entraram em minha casa para gravar um vídeo, uma prova de vida de meu marido Leopoldo López, preso com o aval da ditadura, preso por sua palavra, preso por denunciar o regime e convocar um protesto pacífico para conseguir uma mudança na Venezuela”, denunciou Lilian Tintori nesta sexta-feira em sua conta no Twitter.

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