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O frio apoio de Ciro a Haddad

Candidato não fez declarações públicas. Partido afirma que não ocupará cargos em um eventual governo do PT nem participará da campanha petista

Ciro Gomes em ato de campanha perto de fábrica da General Motors em São Caetano do Sul (SP).Vídeo: SEBASTIAO MOREIRA (EFE) / VIDEO: REUTERS-QUALITY
Beatriz Jucá
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Terceiro lugar no primeiro turno da campanha presidencial com 12,4% dos votos válidos, Ciro Gomes (PDT) declarou um apoio discreto ao candidato Fernando Haddad (PT), recusando participação na campanha ou na composição de um eventual governo petista. A decisão, classificada pelo presidente do PDT, Carlos Lupi, como meramente "institucional", foi anunciada no final da tarde desta quarta-feira (10), após reunião na executiva nacional do partido, em Brasília, com dirigentes e parlamentares da sigla. O apoio do pedetista, que contabilizou 13,3 milhões de votos no primeiro turno, é importante para Haddad, que agora disputa o segundo turno contra o candidato de direita Jair Bolsonaro (PSL), fortalecido nas urnas com 46% dos votos válidos. Haddad teve 29%.

Ciro Gomes não discursou. Na nota, o PDT anunciou um "apoio crítico" ao petista "para evitar a vitória das forças mais reacionárias e atrasadas do Brasil e a derrocada da democracia". Ao deixar a sede do partido após a reunião que homologou o apoio, Ciro foi questionado por jornalistas se ele seria mais contra Bolsonaro que a favor de Haddad, se limitou a responder: "Abaixo o fascismo, pela democracia! Abaixo a ditadura! Nunca mais de volta". Enquanto isso, no Twitter, a ex-candidata a vice na chapa de Ciro Kátia Abreu chamou a renúncia de Haddad para que Ciro assumisse a vaga.

As declarações de Ciro Gomes logo após a apuração das urnas no último domingo, 7, adiantavam que o candidato não manteria neutralidade no segundo turno. “Minha história de vida é uma história de vida de defesa da democracia e contra o fascismo. Ele não, sem dúvida", afirmou à imprensa, em referência ao movimento de mulheres contra Bolsonaro, #EleNão. Nos dias seguintes, porém, o silêncio do candidato e as declarações de correligionários começavam a lançar luzes sobre qual seria o seu envolvimento na campanha do segundo turno. O presidente do PDT, Carlos Lupi, começava a falar na possibilidade de um "apoio crítico", sem participação direta. Lupi chegou a citar Ciro como opção para 2022. O senador eleito Cid Gomes, irmão de Ciro, chegou a defender, em entrevista ao jornal O Globo, a necessidade de o partido pontuar que considera as duas opções do segundo turno ruins para o Brasil e manifestar a opção que considera "menos pior". "Daremos nossa opinião e faremos atos nossos, mas sem ter um papel de submissão à campanha”, adiantou Cid.

Enquanto isso, Haddad tentava flertar publicamente com um apoio mais direto de Ciro Gomes. Chegou a afirmar que estava aberto para negociar com o pedetista, inclusive para adotar parte de suas propostas no seu programa de governo. A resposta oficial dada pelo PDT nesta quarta-feira, no entanto, foi por não aderir completamente à plataforma petista. A relação de Ciro Gomes com o PT começou a estremecer antes mesmo do início da campanha eleitoral. Para tentar isolar Ciro na disputa, o Partido dos Trabalhadores costurou uma aliança com o PSB e renunciou a candidaturas próprias para evitar o apoio a Ciro de seus antigos colegas de partido no Nordeste — Ciro foi filiado ao PSB de 2005 a 2013.

A estratégia funcionou, por exemplo, no segundo maior colégio eleitoral do Nordeste. Pernambuco reelegeu o governador Paulo Câmara já no primeiro turno, após o PT rifar sua candidatura própria no Estado. Marília Arraes encabeçaria a chapa petista e aparecia em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto. Sem o apoio do PSB, Ciro ficou com menos tempo de TV e um palanque enfraquecido no Nordeste. Na região, o pedetista ganhou apenas no Ceará, base de sua vida política. Nos demais, venceu Fernando Haddad.

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