Presidente chileno elogia plano econômico de Bolsonaro, premiê espanhol o vê com preocupação
O presidente do Chile analisa os desafios da América Latina em um fórum de investimentos organizado pelo EL PAÍS, em Madri
O presidente do Chile, Sebastián Piñera, tem um objetivo claro para o atual mandato: acabar com a pobreza em seu país. Já havia dito isso em uma entrevista ao EL PAÍS no último domingo e voltou a repetir a meta nesta terça-feira, durante o fórum “Desafio no Chile. Rumo a um Crescimento Integral, Inclusivo e Sustentável”, organizado pelo EL PAÍS com o patrocínio das empresas Ferrovial, Enagás e Suez. Mas, além disso, o presidente chileno fez uma profunda análise da situação "difícil" enfrentada pelo continente latino-americano e colocou o foco no Brasil que, segundo as pesquisas, está prestes a cair nas mãos da extrema direita no segundo turno das eleições a serem realizadas em 28 de outubro: "Conheço pouco [Jair] Bolsonaro, mas, no [aspecto] econômico, aponta na direção certa", ressaltou o presidente chileno por três vezes.
Já o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, foi especialmente duro com o candidato de extrema direita. "Não só o Brasil, mas hoje vemos uma fotografia de dois candidatos de ultradireita [Salvini e Le Pen]. É de uma enorme preocupação. Que o Brasil possa sair do acordo de Paris quando estamos vendo as consequências da mudança climática é de uma enorme preocupação", disse durante o fórum. "Como é que podem trasladar valores contra a igualdade de gênero ou da democracia. Esperamos que o próximo Governo do Brasil se comprometa com os compromissos internacionais", completou.
Bolsonaro, candidato do Partido Social Liberal (PSL), de extrema direita, venceu o primeiro turno com 46% dos votos e enfrentará Fernando Haddad (29,3%), do Partido dos Trabalhadores (PT) – nomeado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso por corrupção –, no segundo turno. Para Piñera, favorável à privatização, Bolsonaro, no que se refere ao seu programa econômico, está no caminho “correto”. Especificamente, se referiu às promessas de Bolsonaro para reduzir o tamanho do Estado por meio de "muitas privatizações", da redução do déficit fiscal, reforma da previdência e, acima de tudo, de uma luta "frontal" contra a corrupção, que definiu como "o mal que arrastou o Brasil à crise". Piñera admitiu, em uma conversa posterior com o diretor da edição do EL PAÍS América, Javier Moreno, o comportamento "homofóbico" e a "linguagem agressiva contra as mulheres" do candidato de extrema direita, mas evitou se aprofundar sobre os rumos políticos do Governo brasileiro.
Reduzir o tamanho do Estado e, sobretudo, os processos burocráticos, é algo que Piñera também busca no atual mandato. "O Estado deve ser modernizado para ser um amigo, um parceiro, não um obstáculo ou dificuldade" para empreender. Destacou as quatro prioridades de que todo o continente precisa: uma revolução "copernicana" na educação, o aumento do investimento em pesquisa e desenvolvimento para enfrentar a revolução tecnológica, a modernização do Estado e o desenvolvimento do livre comércio. O Chile já possui acordos comerciais com 64 países, sendo a China seu maior parceiro.
Em sua palestra, o presidente do Chile também comentou outros pontos críticos de seu continente além do Brasil, como a Argentina e a Venezuela. Sobre seus vizinhos argentinos, Piñera destacou o recente resgate do Fundo Monetário Internacional (FMI) de 57 bilhões de dólares (cerca de 212 bilhões de reais) como "o maior de sua história." "[Mauricio] Macri está enfrentando uma crise de confiança", disse o mandatário chileno, com certa preocupação. Em relação à Venezuela, foi muito mais crítico e observou que a situação de crise humanitária, política econômica e de direitos humanos provocada pelo regime de Nicolás Maduro é "um drama que poderia ter sido evitado", porque, em sua opinião, "estava anunciado".
A ministra da Indústria, Comércio e Turismo do Governo espanhol, Reyes Maroto, inaugurou o evento destacando a "estreita relação histórica e cultural" mantida entre a Espanha e o Chile. "Nosso compromisso com o Chile é forte, e estamos muito satisfeitos que as empresas chilenas queiram vir à Espanha. Contem conosco", disse a Piñera. Em uma das salas do Hotel Intercontinental, em Madri, diante de uma plateia lotada com investidores espanhóis e uma ampla delegação de representantes chilenos, Piñera, durante a conversa com o diretor da edição do EL PAÍS América, destacou os pontos positivos do mercado chileno desde que chegou ao poder em dezembro de 2017.
"O Chile é o país com o nível mais alto de desenvolvimento" na América Latina, gabou-se Piñera, e, portanto, quer erradicar a pobreza até 2030 e propiciar mais justiça, mais democracia, mais estabilidade e mais igualdade para seguir o caminho dos países desenvolvidos, com democracias estáveis e de paz, resumiu durante seu discurso. "A América Latina não soube derrotar a pobreza", reconheceu várias vezes. E isso, disse, é o que deseja mudar. Piñera tem como meta uma renda per capita entre 35.000 e 40.000 dólares por ano para os chilenos (entre 130.000 e 148.000 reais). "Desta forma, vamos nos aproximar da mãe-pátria", concluiu, em referência à Espanha.
Pobreza, investimento e crescimento
O Chile, destacou Piñera, tem duas transições; a democrática, nas décadas de oitenta e noventa; e a transição econômica, na qual a "capacidade de crescer" deve prevalecer e que pretende realizar com base em investimentos, investimentos e investimentos, principalmente estrangeiros e privados, resumiu. De fato, seu principal parceiro econômico é a China, seguida dos Estados Unidos e da União Europeia. O Chile tem crescido nos últimos anos abaixo de 2%, e Piñera se auto-impôs um ritmo de crescimento anual ambicioso, entre 5% e 7%, para sustentar sua meta de renda per capita de até 40.000 dólares por ano. "O crescimento não é um maná que cai do céu, são necessários três fatores: investimento, produtividade e educação", explicou.
Piñera destacou que seu país está melhorando no aspecto econômico, mas não deixará de lado o objetivo de erradicar a pobreza, o calcanhar de Aquiles do continente. Também também afirmou que, no Chile, 70% da população se identifica como classe média, mas que, no entanto, um terço dos habitantes da América Latina continuam vivendo na pobreza. "Espero que a América Latina viva seu renascimento", afirmou.
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