_
_
_
_

Bolsonaro vai de ‘outsider’ a candidato do establishment político em uma semana

Centrão se dilui em bancadas no Congresso para apoiar o candidato do PSL em movimento inédito. Ojeriza aos últimos governos petistas também leva mercado a se posicionar ao lado do deputado

Jair Bolsonaro fala em sessão para votar o pedido de cassação do mandato do deputado André Vargas, em dezembro de 2014.
Jair Bolsonaro fala em sessão para votar o pedido de cassação do mandato do deputado André Vargas, em dezembro de 2014.Lucio Bernardo Jr. (Câmara dos Deputados)
Rodolfo Borges
Mais informações
A euforia de investidores que normalizam o risco do extremista Bolsonaro
Mercado vira termômetro frenético do curto-circuito político do Brasil
A prolongada e incômoda sombra dos militares nas eleições brasileiras

Se havia alguma reserva do establishment brasileiro em relação ao deputado Jair Bolsonaro (PSL-RJ), seu crescimento nas pesquisas de intenção de voto na reta final da eleição presidencial vai tratando de dissipá-la. Movido pela ojeriza aos últimos anos dos governos petistas, o mercado fechou os olhos às controvérsias protagonizadas pelo capitão reformado do Exército e sua equipe econômica — e os receios causados por sua retórica autoritária — para se posicionar ao seu lado, o que contribuiu para frear as seguidas elevações do dólar e amortecer as bruscas variações da Bolsa de Valores. Além disso, o Centrão, composto por oito partidos que embarcaram na candidatura de Geraldo Alckmin (PSDB) no início da campanha e que migrava paulatinamente para a campanha de Bolsonaro, se diluiu em bancadas temáticas no Congresso Nacional para aderir de vez àquele que desponta cada vez mais como favorito para assumir o Palácio do Planalto.

"De um lado está a esquerda. De outro, o Centrão. Vou até agradecer Alckmin por ter juntado a nata do que há de pior no Brasil ao seu lado", disse Bolsonaro em julho. Agora, a base do Centrão está com ele, mas sem o inconveniente de levar esse nome. Composta por 261 deputados e senadores, a Frente Parlamentar da Agricultura declarou apoio a Bolsonaro na última terça-feira, "atendendo ao clamor do setor produtivo nacional, de empreendedores individuais aos pequenos agricultores e representantes dos grandes negócios". "As recentes pesquisas eleitorais trazem o retrato da polarização na disputa nacional, o que causa grande preocupação com o futuro do Brasil. Portanto, certos de nosso compromisso com os próximos anos de uma governabilidade responsável e transparente, uniremos esforços para evitar que candidatos ligados à esquemas de corrupção e ao aprofundamento da crise econômica brasileira retornem ao comando do nosso País", diz a nota divulgada pela chamada bancada ruralista.

Esse tipo de manifestação não é usual, segundo Marcos Verlaine, analista político e assessor parlamentar do Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar). Para o analista, a manifestação ostensiva de apoio se justifica pela afinidade da bancada com a política professada pelo candidato, liberal na economia e conservadora no plano dos costumes. “Não me lembro de apoio formal da bancada em outras eleições. Estas eleições não têm paralelo”, analisa. Outra bancada que promete se posicionar oficialmente a favor de Bolsonaro é a evangélica, que reúne 199 deputados e quatro senadores — os parlamentares podem compor mais de uma bancada, então não faz sentido somar os números brutos de apoiadores de diferentes bancadas.

Presidente da Frente Parlamentar Evangélica, o deputado Hidekazu Takayama (PSC-PR) lidera o movimento de apoio e promete entregar uma carta ao candidato à Presidência nos próximos dias. "Mais que uma questão natural, é uma questão espiritual. Está acima de qualquer doutrina partidária. É a defesa dos valores da família cristã ", diz trecho da carta revelado pelo Estado de S.Paulo. "Certos de nosso compromisso com os quase 86,8% de cristãos de todo o território nacional, declaramos nosso amplo apoio aos candidatos da Frente em todo o Brasil, bem como o nosso apoio a Jair Messias Bolsonaro. Nosso intuito é evitar que candidatos filiados a extrema esquerda assumam, mais uma vez, a direção do país causando ainda mais crises do que as que atravessamos nos últimos anos”, diz a manifestação de apoio.

Bolsonaro tá com Fraga

Eu e Bolsonaro temos a mesma coragem para enfrentar quem for preciso e, juntos, vamos colocar o Distrito Federal e o Brasil no caminho certo! O futuro presidente da República vai precisar de um governador que o apoie na Capital do país. Eu estou com Bolsonaro e vamos rumo à vitória! #vote25 #vote17 #FragaGovernador #Fraga25 #TocomFraga

Gepostet von Alberto Fraga am Mittwoch, 3. Oktober 2018

Outro apoio projetado, mas não formalizado, é o da chamada bancada da bala. Candidato ao Governo do Distrito Federal e criador da Frente Parlamentar da Segurança, o deputado Alberto Fraga (DEM) começou a eleição atrelado a Alckmin, para manter o deputado e candidato ao Senado Izalci Lucas (PSDB) em sua coalizão, mas nesta semana debandou para o lado de Bolsonaro. "Eu e Bolsonaro temos a mesma coragem para enfrentar quem for preciso e, juntos, vamos colocar o Distrito Federal e o Brasil no caminho certo! O futuro presidente da República vai precisar de um governador que o apoie na capital do País", escreveu Fraga, que, a depender do instituto, ocupa o quarto ou quinto lugar nas pesquisas de intenção de voto, em seu perfil no Facebook nesta quarta-feira.

Fraga não estará, contudo, na próxima Legislatura. Com quanto desse apoio Bolsonaro poderá contar no Congresso Nacional caso eleito? Praticamente todo, segundo as projeções do DIAP. O departamento intersindical prevê renovação de entre 40% e 45% na Câmara, em consonância com as eleições anteriores, o que deve significar a reeleição de cerca de 300 deputados. O levantamento feito em parceria com a empresa Queiroz Assessoria Parlamentar e Sindical indica que "a composição das bancadas da futura Câmara não será muito diferente da atual, com pequeno crescimento da direita e da esquerda e encolhimento discreto do centro".

"O levantamento evidencia também que haverá elevado índice de reeleição e grande 'circulação no poder', com deputados estaduais, senadores, ex-ministros, ex-deputados, suplentes bem votados, ex-prefeitos e ex-secretários se elegendo para as vagas decorrentes de desistência de atuais deputados e da não-reeleição daqueles que tentaram renovar seus mandatos", diz o Diap. O PT deve ser o partido com maior número de parlamentares (entre 55 e 65), mas com um número menor do que os eleitos em 2014 (68). Na sequência das projeções de maiores bancadas aparecem MDB, PSDB, PP, PSD, PR, DEM e PSB. O PSL, de Bolsonaro, deve pular de um deputado eleito em 2014 para até 18 neste ano, e provavelmente ganhará adesões caso o capitão reformado do Exército se eleja presidente.

Segundo Marcos Verlaine, analista do Diap, "se não formalmente, informalmente o PSL deve compor num segundo momento a maior bancada" em caso de eleição de Bolsonaro. "Há mais de 100 deputados de outros partidos que apoiam o Bolsonaro de maneira avulsa", comenta. Cotado por Bolsonaro para assumir a Casa Civil de seu possível governo, o deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS) disse à Gazeta do Povo que atualmente o candidato do PSL conta com o apoio de 310 deputados e de 27 senadores, apesar de ele não contar com o apoio de todos os parlamentares das bancadas que se manifestaram por Bolsonaro.

Projeções

No Senado, a seguir as projeções do Diap, 16 dos 29 candidatos à reeleição devem conseguir permanecer nos cargos, enquanto 11 deles têm chance de se reeleger e apenas dois estão virtualmente derrotados. Nas 54 vagas em disputa (dois terços do Senado), portanto, a renovação seria de metade. "Tal como na Câmara dos Deputados, a futura composição do Senado Federal pouco difere da atual. O MDB continuará como o maior partido, seguido do PSDB e do PT", diz o departamento intersindical. O PSL tem projetados apenas dois senadores eleitos nesse cenário.

O PSL, que passava até o início deste ano por uma reformulação liberal com apoio do Livres, pode colher muito mais rápido do que se imaginava os frutos da tumultuada decisão de dar uma legenda para a candidatura Bolsonaro. Já o deputado federal que deu a largada na corrida presidencial com uma única parceria, com o inexpressivo PRTB, pode chegar à Presidência com o Congresso Nacional mais coeso dos últimos anos. Isso não quer dizer, todavia, que não terá de enfrentar oposição. No melhor dos cenários para a esquerda projetado pelo Diap, partidos como PT, PSOL, PDT e PCdoB podem reunir até 163 deputados e 18 dos 54 senadores possíveis.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_