‘Nasce uma Estrela’: O primeiro desafio de Lady Gaga como atriz dramática
Em sua estreia na direção, Bradley Cooper resolve com elegância o trágico final do protagonista
A frase "só queria te ver outra vez” (ou suas variações) atravessa as quatro versões de Nasce Uma Estrela, deixando claro que, por baixo de suas reflexões sobre o estrelato e a indústria do espetáculo, o que sempre continua firme é a essência do melodrama: a trágica história de amor entre dois corpos que seguem trajetórias inversas – a ascendente e a descendente – e que talvez só possam brilhar juntos, e se iluminarem mutuamente, num momento efêmero, condenado de antemão. Aí reside o segredo da imortalidade dessa história que já no momento de seu surgimento foi tão sedutora que, poucos meses depois da sua estreia, inspirou uma imitação extraoficial: a deliciosa Aconteceu em Hollywood (1937), de Harry Lachman, um dos primeiros trabalhos de Samuel Fuller como roteirista. Também não seria descabido considerá-la a principal fonte de inspiração do O Artista (2011), de Hazanavicius.
Na nova encarnação deste mito – que, além dos talentos óbvios e visíveis, teve oficiantes tão ilustres e díspares como Dorothy Parker, Joan Didion e Barbra Streisand –, as duas figuras principais, Lady Gaga e Bradley Cooper, investem um considerável capital de risco: a nova versão de Nasce Uma Estrela tem para ambos a evidente condição de batismo de fogo – primeiro grande desafio como atriz dramática para ela; estreia como diretor para ele –, e a tensão elétrica do desafio galvaniza a tela desde a primeira imagem.
Cooper parte claramente da versão de Frank Pierson, de 1976, mas consegue melhorá-la cercando seus protagonistas de uma série de figuras secundárias que substituem o arquétipo pelo personagem (carregado de história): assim ocorre com o irmão de Jackson Maine (Cooper) – um Sam Elliott que arca com o peso de atuar como uma figura paterna que nunca deve ter sido – e o pai de Ally (Gaga) – um surpreendente Andrew Dice Clay, sempre rodeado por seu afetuoso coro de motoristas. A elegância do estreante ao resolver o trágico final do protagonista parece antecipar que por trás desta estreia não há só domínio do ofício, e sim um olhar próprio. E neste filme, no qual se fala de discurso e imagem, Lady Gaga, essa estrela que surgiu disfarçada de instalação artística modelo Galeria Saatchi, demonstra que havia verdade sob a máscara, embora o filme desperdice a chance de se aprofundar na natureza da nova cultura da fama.
NASCE UMA ESTRELA
Direção: Bradley Cooper.
Elenco: Bradley Cooper, Lady Gaga, Sam Elliott, Andrew Diz Clay.
Gênero: musical. Estados Unidos, 2018
Duração: 135 minutos.
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