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Indonésia luta contra o relógio para encontrar vítimas da tragédia

Governo pede ajuda internacional depois do terremoto e do tsunami que sacudiram a ilha Celebes na sexta-feira, deixando pelo menos 1.234 mortos

Serviços de socorro procuram sobreviventes entre os escombros de um edifício em Palu
Serviços de socorro procuram sobreviventes entre os escombros de um edifício em PaluEFE
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O momento em que o tsunami atinge a cidade de Palu, na Indonésia

Nabella Salsabilla passou quatro dias esperando um telefonema animador vindo de Palu. Ele veio na noite desta segunda-feira, 1º, quando sua irmã finalmente confirmou que ela e toda a sua família estão a salvo do violento terremoto e tsunami que atingiram na sexta-feira essa localidade na área central da ilha indonésia de Celebes, deixando pelo menos 1.234 mortos, segundo o balanço oficial. Esse número pouco evoluiu nas últimas horas, mas as perspectivas ainda são sombrias: centenas de pessoas continuam presas sob os escombros, as equipes de resgate operam com enormes dificuldades, e o país pediu ajuda humanitária para fazer frente ao desastre.

Salsabilla, uma estudante de 20 anos, permaneceu dia e noite, durante 72 horas, junto à sua mãe numa mesquita perto da base aérea de Makassar, a capital de Celebes (ou Sulawesi, no idioma bahasa). Procuram lugar em algum dos aviões de transporte militar Hércules que viajam entre esta instalação e o maltratado aeroporto de Palu, a única oportunidade para ver e estar com suas famílias em curto prazo. Talvez na manhã de terça-feira consigam a esperada vaga, ou isso esperam. “Entendemos que é preciso dar prioridade à ajuda humanitária, como alimentos e remédios. Nossa família nos contou que a casa está muito danificada, mas tiveram sorte de que o tsunami não os alcançou, porque o edifício está um quilômetro terra adentro”, conta. Ambas sabem pelo menos que seus familiares estão a salvo; outros no mesmo recinto não podem dizer o mesmo.

A situação em Palu, cidade de 350.000 habitantes na costa ocidental da ilha de Celebes, é crítica. A ajuda humanitária entra principalmente através do aeroporto, porque o acesso por terra é difícil em decorrência dos deslizamentos de terra. As comunicações e o fornecimento de energia elétrica são intermitentes, e as equipes de resgates usam suas próprias mãos para procurar os possíveis sobreviventes enterrados sob os escombros, dada a impossibilidade de acesso do maquinário pesado. A Indonésia, através do presidente Joko Widodo, autorizou formalmente a abertura da zona à ajuda humanitária internacional, e as Nações Unidas calculam que 191.000 pessoas precisam desse socorro urgentemente. A ONG Oxfam prevê fornecer ajuda a 100.000 pessoas, fundamentalmente alimentos, equipamentos de purificação da água e barracas, indica Ancilla Bere, diretora dessa instituição na Indonésia.

O porta-voz da Agência Nacional de Gestão de Desastres, Sutopo Purwo Nugroho, disse em Jacarta que o número de vítimas chegou a 844, uma cifra semelhante à anunciada no domingo, enquanto mais de 59.000 moradores seguem desabrigados e dependem de alimentos que escasseiam. A Equipe de Intervenção Rápida, citada pela agência de notícias Antara, eleva a cifra de mortos para 1.203. Quase não há notícias sobre os danos na ainda inacessível região de Donggala, uma faixa litorânea de 300 quilômetros no noroeste da ilha, com uma população de 300.000 habitantes, mais próxima do epicentro do sismo, que teve magnitude 7,5.

Uma das zonas mais afetadas nos arredores de Palu, segundo as autoridades, é o povoado de Petobo, onde dezenas de moradias foram parcial ou totalmente engolidas pelo lodo. “Calculamos que somente ali há centenas de pessoas sepultadas”, disse o porta-voz à Antara.

Num sinal de que as autoridades ainda esperam encontrar mais corpos, operários começaram a cavar uma vala comum perto de Palu com uma capacidade para 1.300 corpos. Em princípio, optou-se por deixar os cadáveres em necrotérios improvisados, para facilitar sua identificação, mas essa ideia acabou descartada pelo risco de doenças.

Enquanto Nabella e sua mãe se preparam para voar nesta terça a Palu, milhares de outras pessoas querem fazer o percurso contrário o quanto antes, depois de ficarem sem nada. Os Hércules já transportaram centenas de indonésios de volta a Makassar – embora muitos continuem amontoados no aeroporto –, e as autoridades fretaram um navio de cruzeiro, com capacidade entre 3.000 e 5.000 pessoas, que deveria facilitar dessa tarefa, segundo a agência de notícias indonésia Antara. A prioridade é retirar primeiro os feridos que podem ser deslocados.

“Tivemos muita sorte”, diz Nabella. Ela sabe que pode ficar retida com sua mãe por vários dias na arruinada Palu, mas não se preocupa. “A única coisa que queremos é dar um abraço em toda a família.”

Dúvida sobre o sistema de alerta contra tsunamis

Persistem as dúvidas entre a opinião pública sobre a eficácia do sistema de alerta contra tsunamis no desastre. As autoridades relatam que o aviso foi enviado aos telefones celulares da população residente nas zonas de risco, mas foi desativado apenas 30 minutos depois e não conseguiu detectar a virulência do maremoto, que em alguns pontos trouxe ondas de até seis metros.

As autoridades reconheceram que o erro foi não ter sistemas de detecção de fluxo perto de Palu. A boia mais próxima que dá conta das mudanças súbitas de maré fica a 200 quilômetros da cidade e registrou uma variação insignificante no nível da água depois do terremoto. Também se especula que o sistema baseado em mensagens de celular não funcionou porque o sismo teria prejudicado as comunicações, e por isso o alerta nunca chegou a muitos telefones. A faixa costeira dessa região tampouco contava com sirenes de aviso.

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