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Terremoto em Lombok: “Não sei se meu chefe está vivo ou morto”

Ao menos 91 pessoas morreram no terremoto de magnitude 6,9 que sacudiu a ilha indonésia

Mulher diante de escombros, neste domingo em Lombok.
Mulher diante de escombros, neste domingo em Lombok.REUTERS
Macarena Vidal Liy
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“Todas as atividades foram interrompidas em Lombok”, lamenta Bansal, operário de uma empresa de transporte em Senggigi, no noroeste da ilha indonésia. O terremoto que a sacudiu no domingo, de magnitude 7 na escala Richter, o segundo de grande intensidade em apenas uma semana, atingiu duramente essa região e o restante da metade norte. Por enquanto, foram confirmadas as mortes de 91 pessoas e teme-se que o número aumente com o passar das horas, como apontou a Agência Nacional de Gerenciamento de Desastres (BNBP). Há centenas de feridos, enquanto dezenas de milhares de casas desmoronaram. As estruturas já haviam sido afetadas no terremoto de 29 de julho, e desta vez o tremor foi muito mais forte.

Na aldeia de Bansal duas pessoas morreram, diz ele. Suas casas desabaram com elas dentro. Seu chefe está, pelo menos, entre os feridos. “Um grande pedaço de entulho caiu sobre sua cabeça, abrindo-a. Foi levado para o hospital. Não sei se está vivo ou não”, explica. Olha nervoso para o telefone, de vez em quando recebe uma ligação com notícias sobre algum membro da família. Sua casa ficou muito danificada, conta esse homem robusto, de pele bronzeada e jovial. “O andar de cima caiu. Os escombros estão por todo lado. Nós dormimos debaixo de uma lona plástica, ao relento. Muita gente também; estávamos com muito medo.”

Senggigi é a principal região turística de Lombok, ilha que tenta competir com a vizinha Bali, muito maior e mais famosa, na hora de atrair visitantes. Nessa altura da alta temporada, os hotéis estão lotados e as ruas estão repletas de turistas e vendedores ambulantes que, resistindo ao desalento, tentam vender cangas, pingentes, pérolas cultivadas ou passeios turísticos. Nesta segunda-feira, sem eletricidade na maior parte da região –como no resto da área afetada pelo terremoto–, era uma cidade deserta, cruzada apenas por algum comerciante que estudava com desespero ou alívio os danos causados ao seu estabelecimento. As lojas estavam fechadas; as aulas e as atividades administrativas foram suspensas em toda a ilha. “A prioridade agora é se concentrar em nossas famílias”, explicou Bansal, “os negócios ficam para depois”.

Enquanto o Governo indonésio enviou um navio militar com suprimentos de emergência para a ilha, os turistas foram em massa para o aeroporto, para tentar pegar um voo para Bali ou seus lugares de origem. Outros, diante dos danos nos hotéis da região –muitos foram declarados inseguros– se deslocavam para o sul da ilha, onde os efeitos do tremor foram muito menores. A Garuda, companhia aérea indonésia, anunciou que fará voos extras para permitir que aqueles que desejem deixar a ilha o façam o mais rapidamente possível.

“Vamos tentar chegar a Bali”, disse Sam, um jovem turista britânico que mora na Coreia do Sul e havia desembarcado em Lombok apenas um dia antes do desastre. Depois de quase 20 horas de viagem, ele decidiu relaxar com uma massagem nos pés. O terremoto o pegou no salão de beleza. “Tudo começou a tremer. Não percebi o que era, nunca tinha vivido um terremoto. Foram as massagistas que começaram a gritar para que corrêssemos, que tínhamos de sair de lá. Saí correndo descalço. Só depois de um tempo me atrevi a entrar novamente para buscar os sapatos. Mas esta noite dormi com eles, aprendi a lição”, brincou, ainda com a toalha que seu hotel ofereceu como cobertor enquanto tentava cochilar no chão do estacionamento.

A Agência de Busca e Resgate da Indonésia tenta evacuar quase mil pessoas presas nas Ilhas Gili, três ilhotas paradisíacas que em dias normais atraem os amantes de mergulho e de praias de areia branca. Na noite passada, depois do alerta de tsunami após o terremoto, a cena era muito diferente. Na maior delas, a mais popular entre os mochileiros, Gili Traganwan, turistas e moradores locais se aglomeravam na colina mais alta. Em Gili Meno e Gili Air, quase totalmente planas, algumas pessoas chegaram a subir em árvores.

“O processo de evacuação de cidadãos e estrangeiros de Gili Traganwan será feito gradualmente. Estima-se que cerca de 700 pessoas serão evacuadas com botes infláveis, que se aproximarão dos barcos” de resgate, tuitou a agência. O porto, explicou a instituição, foi danificado e não permite o acesso de navios de grande porte, uma complicação que se junta às fortes ondas.

Em Mataram, a capital da ilha, onde foi realizada uma reunião de autoridades de segurança dos países asiáticos, os danos também são dignos de nota. Uma mesquita perdeu os minaretes, seus escombros estão agora espalhados pelo chão; os tijolos do que era um pequeno restaurante bloqueiam parcialmente a estrada; em um cemitério, os fiéis rezam em torno de um caixão aberto, como manda o costume islâmico. Nos solares e nos campos de cultivo entre um edifício e outro, alguém plantou uma barraca de campanha. Mais gente que tem medo de dormir sob um teto nestes dias em Lombok.

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