Após incêndio no Museu Nacional, Reina Sofía coloca em prática plano para salvar ‘Guernica’ do fogo
Museu em Madri trabalha há dois anos em um método que usa tecnologia geoespacial para salvar obras de arte. Implementação foi acelerada após a tragédia no Rio
O talismã contra a violência, que nasceu da morte e terminou transformado em ícone da paz, é grande demais para escapar do fogo sem problemas. Onde qualquer quadro pode girar, os mais de sete metros de comprimento e quase quatro de altura impediriam a remoção do Guernica do Museu Reina Sofía, em Madri. Nunca foi retirado dessa parede. Para removê-lo —como sempre afirmaram os conservadores e a direção até este momento— seria necessário desenrolá-lo e a tela de mais de 200 quilos não suporta mais uma tortura: a obra de Picasso foi enrolada e desenrolada mais de 90 vezes —em uma turnê por 38 exposições internacionais— antes de chegar à instituição que o exibe, guarda e conserva.
Há 37 anos chegou enrolado de Nova York e antes de sair do Casón del Buen Retiro para o Reina Sofía, em julho de 1992, foi necessário ensaiar os movimentos em um modelo reduzido. Os especialistas simularam o deslocamento cruzando as salas labirínticas do antigo hospital projetado por Francesco Sabatini, que veio a ser o museu. Para subi-lo ao segundo andar foi construído inclusive um elevador, que também está previsto no novo plano de emergência, lançado depois do relatório do Tribunal de Contas da Espanha de 2015. Nele se afirmava que o plano de autoproteção não era atualizado desde 2009. O recente incêndio do Museu Nacional, no Rio de Janeiro, mais uma vez colocou as atenções nas medidas de segurança nos centros de arte.
“Decidimos criar um protocolo inovador que contemplasse a operação de evacuação e resgate das obras de arte”, explica ao EL PAÍS Javier Pinto, arquiteto responsável pelo PROCOERS, projeto desenvolvido pelo Museu Reina Sofía e a Universidade Complutense de Madri, financiado pelo Ministério da Economia desde 2016. Dentro de seis meses o projeto estará pronto para a licitação do software que dará à luz um projeto revolucionário, inspirado na tecnologia Sistema de Informação Geográfica (SIG), o mesmo que é utilizado pelo Google Maps para escolher a melhor rota para chegar a um destino. Uma tecnologia familiar para um caso de salvamento extraordinário. “A inovação não está na tecnologia, mas em sua aplicação à proteção das coleções do museu”, acrescenta Pinto. Uma comissão ministerial reúne outros museus, que são informados sobre a evolução deste procedimento pioneiro e “multiusuário”. Dentro de quatro anos terá recebido um apoio de 70.000 euros (cerca de 342.000 reais). O custo do desenvolvimento totalizará aproximadamente 400.000 euros quando sua execução for licitada; para essa fase final espera-se que atraia o investimento de empresas de tecnologia ou seguradoras.
Um big data foi criado com as informações cartográficas e alfanuméricas do museu, e os especialistas estão a um passo de criar uma ferramenta capaz de prever e propor soluções imediatas em caso de emergência. Não existem referências de um banco de dados semelhante ao que está sendo construído por essa equipe de conservadores, restauradores, segurança, químicos e arquitetos. O sistema de informação geográfica dinâmica irá monitorar cada sala em tempo real, poderá calcular a capacidade de cada uma, fará a geolocalização das obras de arte, alertará sobre os riscos e, o mais importante, será capaz de propor a melhor rota de evacuação aos vigilantes das salas por meio de dispositivos móveis.
10 minutos a menos
O tempo de evacuação do ‘Guernica’ foi reduzido em mais de dez minutos. No plano antigo, o quadro deveria ziguezaguear até chegar a uma porta na qual não cabia. Para levá-lo até o elevador, uma parede de MDF aparafusada devia ser removida. A nova rota, criada graças ao SIG, é mais direta e efetiva, sem paredes. “Um formato tão especial quanto o deste quadro exigia máxima eficiência em sua evacuação. Agora estamos investindo muito tempo para tornar eficazes as operações de resgate e eliminando os elementos que interrompem a saída do público e da obra de arte”, diz Jorge García Gómez-Tejedor, chefe de restauração do Museu Reina Sofia.
Se há 24 anos especialistas fizeram um modelo reduzido, agora usam a tecnologia 3D. A nova rota de fuga foi implementada, depois do treinamento de todo o pessoal, em abril de 2017, na exposição temporária “Piedad y Terror en Picasso”. O novo sistema reduz o perigo de destruição da obra e facilita o movimento de um quadro que nunca foi emprestado desde que está na Espanha. O museu sempre recusou porque “as grandes dimensões do quadro tornam impossível evitar vibrações e os riscos que envolveriam sua manipulação”, de acordo com um relatório do Reina Sofía feito quando era dirigido pelo atual ministro da Cultura, José Guirao.
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