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Presidente Daniel Ortega expulsa missão da ONU da Nicarágua

Alto Comissariado de Direitos Humanos divulgou um duro relatório sobre a ação do Governo contra manifestantes

Carlos S. Maldonado
O presidente Ortega na quarta-feira passada.
O presidente Ortega na quarta-feira passada.I. OCON (AFP)

A uma semana da reunião do Conselho de Segurança da ONU que discutirá a crise na Nicarágua, o presidente Daniel Ortega expulsou uma missão do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, que nesta semana apresentou um duro relatório que responsabiliza o Governo por graves violações aos direitos humanos dos nicaraguenses no contexto das manifestações que exigem o fim do regime, submetidas a uma brutal repressão que deixou mais de 320 mortos e mais de 2.000 feridos.

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Está previsto que no próximo 5 de setembro o Conselho Permanente analisará os acontecimentos dos últimos quatro meses na Nicarágua a partir das denúncias documentadas pela missão da ONU no país, o que representa um duro golpe para o Governo sandinista, em plena campanha internacional para desmentir as acusações de atrocidades cometidas contra os manifestantes que de forma pacífica exigem a renúncia de Ortega.

Fontes diplomáticas confirmaram que na noite de quinta o Governo de Ortega enviou uma carta à missão do Alto Comissariado em Manágua informando sobre a expulsão. “Retiraram o convite e lhes disseram que sua missão acabou. A desculpa é que, como estavam aqui para acompanhar a comissão de verificação sobre os distúrbios, e já não há mais distúrbios, que sua finalidade terminou. É uma expulsão encoberta”, disse uma fonte diplomática consultada pelo EL PAÍS.

A missão chegou à Nicarágua em 26 de junho para acompanhar à chamada Comissão de Verificação e Segurança do Diálogo Nacional, como se conhece a mesa de negociação mediada pela Igreja que busca uma saída para a crise. A missão mobilizou seus técnicos para monitorar a situação de direitos humanos no país. O Alto Comissariado publicou na quarta-feira um relatório que responsabiliza o Governo Ortega por graves violações aos direitos humanos.

O relatório reúne relatos de execuções extrajudiciais, torturas, detenções ilegais, abusos sexuais aos detidos, inclusive usando rifles, queimaduras com pistolas elétricas ou cigarros, uso de arame farpado, surras com socos e canos e tentativas de enforcamento. O relatório também denunciou o uso de grupos armados irregulares para reprimir as manifestações. "Estes elementos armados estão bem equipados com veículos, equipamento militar e armas, inclusive com armas de alto calibre como os rifles AK-47 e Dragunov”, diz o texto.

“A repressão e a represália aos manifestantes continuam na Nicarágua enquanto o mundo olha para outro lado", afirmou em nota o alto comissário de Direitos Humanos da ONU, Zeid Ra'ad al-Hussein. "A violência e a impunidade dos últimos quatro meses deixaram clara a fragilidade das instituições do país e do estado de direito e geraram um contexto de medo e desconfiança", acrescentou. A ONU recomendou ao regime de Ortega a criação de uma Comissão Internacional de Investigação ou uma Comissão da Verdade “para assegurar o acesso à verdade, à justiça e à reparação às vítimas”.

Ortega rejeitou o relatório na quarta-feira e acusou o Alto Comissariado de ser “um instrumento dos poderosos que impõem sua política de morte”. O mandatário se mostrou furioso frente a dezenas de milhares de simpatizantes convocados pelo Governo na avenida Bolívar, em Manágua. Em seu discurso, Ortega acusou a organização de parcialidade: “Para eles, as vítimas sandinistas não existem. Se o torturado é sandinista, não existe. É uma comissão dirigida já sabemos por quem, pelos poderosos, pelos que se apropriaram de continentes inteiros, pelos que cometeram genocídios contra povos inteiros, esses são os donos desta comissão de direitos humanos das Nações Unidas, que vêm à Nicarágua, porque os convidamos, e em seus relatórios estes assassinados, estes torturados, não existem”.

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