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Estudante brasileira é morta por paramilitares na Nicarágua

Raynéia Gabrielle Lima, de 31 anos, levou um tiro no peito e faleceu na noite de segunda-feira

Raynéia Gabrielle Lima, de 31 anos.
Raynéia Gabrielle Lima, de 31 anos.FB

Raynéia Gabrielle Lima, uma estudante brasileira de 31 anos, foi assassinada na Nicarágua, na noite desta segunda-feira, 23, vítima de disparos efetuados por um grupo paramilitares no sul de Manágua, capital do país. Ela cursava o sexto ano de Medicina na Universidade Americana de Manágua, segundo confirmou Ernesto Medina, reitor da instituição.

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O Governo brasileiro convocou a embaixadora da Nicarágua, Lorena Martinez, para explicar a morte da estudante. O ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes, também pediu ao embaixador do Brasil em Manágua, Luís Cláudio Villafañe, que explique o que aconteceu.

O assassinato ocorre em meio a uma crise sociopolítica de manifestações contra o presidente de esquerda Daniel Ortega, cuja repressão já deixou cerca de 351 mortos, segundo organizações humanitárias locais e internacionais. "Isso deve ser dito, os paramilitares que estavam na casa de Chico (Francisco) López, foram os que atiraram", disse Medina. 

López, tesoureiro da Frente de Libertação governante sandinista Nacional (FSLN) e até recentemente gerente de duas grandes empresas estatais relacionadas ao setor de petróleo e construção foi enquadrado pela Lei Global de Magnitsky, dos EUA, que o acusou de sérias violações aos direitos humanos.

A estudante brasileira morava no mesmo bairro que López, uma zona exclusiva no sul da capital nicaraguense. "As forças paramilitares acham que têm carta branca, ninguém vai dizer nada, ninguém vai fazer nada, eles vão sequestrando e atacando pessoas por aí", disse o reitor.

"A morte desta menina é um símbolo do que está acontecendo na Nicarágua, que contradiz o que diz Ortega de que tudo está normal. Ele fala em uma paz de mentira, tem paramilitares em todos os lados", acrescentou Medina.

A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) e o Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (OHCHR) acusaram o Governo da Nicarágua por "assassinatos, execuções extrajudiciais, maus-tratos, possível tortura e detenções arbitrárias" depois da onda de violência que agita o país há três meses, quando começaram os protestos contra o Governo.

A Nicarágua está submersa na mais sangrenta crise de sua história em tempos de paz, e a mais forte desde os anos 80, também durante um Governo de Ortega. Os protestos contra o presidente e sua esposa, a vice-presidenta Rosario Murillo, começaram no dia 18 de abril, por umas reformas fracassadas na segurança social, e acabaram tornando-se uma demanda pela renúncia de Ortega, que acumula denúncias de abuso de poder e corrupção ao longo de 11 anos na presidência.

Em nota, o Itamaraty informou que "recebeu com profunda indignação e condena a trágica morte" da estudante e que está buscando esclarecimentos junto ao governo nicaraguense sobre as circunstâncias do assassinato. "O governo brasileiro exorta as autoridades nicaraguenses a enviarem todos os esforços necessários para identificar e punir os responsáveis pelo ato criminoso", diz o comunicado.

O Ministério de Relações Exteriores aproveitou para voltar a condenar o "aprofundamento da repressão, o uso desproporcional e letal da força e o emprego de grupos paramilitares" por parte do Governo de Ortega. "Ao repudiar a perseguição de manifestantes, estudantes e defensores dos direitos humanos, o governo brasileiro volta a instar o governo da Nicarágua a garantir o exercício dos direitos individuais e das liberdades públicas".

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