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Eleição estaduais 2018
Tribuna
São da responsabilidade do editor e transmitem a visão do diário sobre assuntos atuais – tanto nacionais como internacionais

A triste conveniência dos candidatos que querem ser eleitos sem enfrentar seus eleitores

Na apagada eleição de São Paulo, está difícil convencer candidato a debater em bairro rico, que dirá na periferia

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O Tuca (Teatro da PUC São Paulo) é um desses locais da capital paulista que ficaram marcados na memória coletiva da cidade como símbolo de resistência à ditadura militar. Quando ocupadas, as 652 cadeiras do espaço, inaugurado em 1965, abrigam discussões acaloradas que fazem tremer as paredes de tijolos aparentes. Não à toa, foi escolhido pelo projeto Universidade vai às Urnas para receber um debate de candidatos ao Governo do Estado de São Paulo. O local impõe respeito.

Mas nem todos compartilham dessa opinião. Há quem acredite que o TUCA é só mais um aparelho ideológico da esquerda ativista. Um clichê, é verdade, mas que não impede ninguém de ir assistir aos diversos eventos culturais que acontecem na localização privilegiada, em meio ao rico bairro de Perdizes, na zona oeste de São Paulo.

Por isso, foi com um sentimento de resignação que os estudantes receberam a recusa em participar do evento do ex-prefeito de São Paulo, João Doria Junior (PSDB), e do ex-presidente da Fiesp, Paulo Skaf (MDB), ambos alegando problemas de agenda. O governador Márcio França (PSB) cancelou sua participação no último minuto, sob a justificativa de que estava acompanhando uma rebelião com reféns em um presídio em Taubaté, no interior do Estado. Nos bastidores, no entanto, a sensação era de que, por ser um local que tradicionalmente recebe a juventude dos partidos políticos, esses candidatos ficaram com receio da recepção negativa que poderiam sofrer. E não há dúvidas de que eles deveriam esperar dificuldades, afinal o embate político por vezes se assemelha às discussões entre fanáticos de futebol. Mas será que isso justifica a falta? Imagine se o convite fosse de um banco, associação empresarial ou clube social.

Esse fenômeno é conhecido: são candidatos que querem ganhar eleição sem ter que lidar diretamente com os eleitores, especialmente com aqueles que pensam diferente e que não representam ganho econômico e/ou político para sua campanha. Uma postura que fica ainda mais confortável nas eleições de 2018, quando o foco da cobertura de imprensa está nas eleições presidenciais.

O paradoxo desse posicionamento é que ele mostra um desinteresse desses candidatos em abrir novos canais de diálogo, mesmo em um cenário de desalento com as opções disponíveis. Na pesquisa Datafolha realizada em abril com sete candidatos para o Governo de São Paulo, Doria e Skaf saíram na frente na preferência do eleitorado, mas também foram os mais rejeitados. Somados, votos brancos nulos e indecisos ganhariam a eleição paulista, com 31% das intenções.

E se é difícil convencer um candidato a conversar com estudantes em meio à rica Perdizes, que dirá em uma comunidade no Capão Redondo? É só perguntar para quem tentou. Em 2016, a Rede Jornalistas das Periferias, que reúne vários coletivos de comunicação, convidaram os 13 candidatos à Prefeitura de São Paulo para uma sabatina. A ideia era fazer um dia de entrevistas entre líderes de movimentos sociais de várias periferias e os candidatos.

Toparam PSTU, PCO e Democracia Cristã e REDE. Dória (PSDB) e Marta (na época MDB) queriam mandar o vice ou gravar um vídeo; Russomanno (PRB) alegou outros compromissos; Erundina (PSOL) estava cansada e Haddad (PT) deu a negativa praticamente em cima da hora. O evento acabou sendo cancelado pelo que os organizadores chamaram de "problemas logísticos".

Para os organizadores, ficou uma lição: nem partidos de esquerda, nem de direita parecem interessados no diálogo direto. Preferem manter o modelo, até então vencedor, de campanha por monólogo intermediado, esse que é feito nos debates nas grandes redes de televisão (onde o candidato responde o que quer, e não necessariamente o que foi perguntado, sobre temas pré-aprovados) ou as famosas carreatas eleitorais (onde o candidato come pastel de feira e dá um beijo constrangido em alguma criança para sair bem na foto).

No TUCA, os candidatos Lisete Arelaro (PSOL), Luiz Marinho (PT), Marcelo Cândido (PDT) e Cláudio Aguiar (PMN) pareciam confortáveis em meio ao seu próprio público. Alinhados em grande parte das questões, pouco falaram para realmente diferenciar suas propostas das dos oponentes. À parte a intervenção de Lisete, única mulher dentre os candidatos, com seu discurso em defesa da legalização da maconha para combater a guerra às drogas, que sacudiu o TUCA, e da simpatia do público com Marcelo Cândido, único negro entre os candidatos, o destaque ficou com Rogério Chequer (NOVO).

O discurso liberal do fundador do Movimento Vem Pra Rua – com sua defesa apaixonada das privatizações e do Programa Escola Sem Partido –, desagradou a grande maioria dos estudantes presentes. Ouviu vaias, foi chamado de golpista e de coxinha. Mas respondeu a todos, valorizando a oportunidade e utilizando cada minuto para mostrar suas ideias. Se conseguiu convencer alguém, não é possível afirmar. Mas no final do debate, saiu pela porta da frente do teatro, aparentemente sem receio de represálias.

Com tantas novas formas de estabelecer contato como eleitor, e num cenário em que a população demonstra enorme desânimo em fazer valer seu voto nas urnas, é desalentador perceber que os candidatos ainda optam por se encastelar e evitar o debate. Até então, essa estratégia era garantia de votos. Mas até quando?

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