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Trump recua e diz agora que acredita que Rússia interferiu nas eleições dos EUA

Após ser duramente criticado no dia anterior por afirmar que confiava na versão de Putin sobre o caso, republicano matizou suas palavras e disse acreditar na conclusão da inteligência norte-americana

Donald Trump chega à Casa Branca, na segunda-feira à noite, acompanhado por sua esposa, Melania.
Donald Trump chega à Casa Branca, na segunda-feira à noite, acompanhado por sua esposa, Melania.Andrew Harnik (AP)
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O presidente dos EUA, Donald Trump, ficou sozinho em sua defesa da atitude mostrada na segunda-feira perante o russo Vladimir Putin, em que conferiu ao mandatário tanta credibilidade como a seus serviços de inteligência, além de evitar criticar a ingerência eleitoral de 2016, que todas as instituições norte-americanas dão como certa. Trump matizou suas palavras nesta terça-feira, após a onda de críticas dos próprios republicanos, e salientou que acredita nas conclusões de suas agências com relação ao Kremlin, e que seu Governo evitará novas interferências nas eleições legislativas de novembro. Além disso, atribuiu a crise gerada por essa entrevista coletiva com Putin a um lapso verbal.

“Tenho uma confiança absoluta nas agências de inteligência”, disse ele na Casa Branca. “Aceito a conclusão da ingerência da Rússia nas eleições de 2016, embora não tenham tido efeito algum no resultado, nem havido conluio [com a equipe de Trump]”. Na segunda-feira, na cúpula de Helsinque, o mandatário norte-americano havia equiparado a credibilidade de seus serviços de espionagem com a do Kremlin em relação às acusações de ingerência. “Meu pessoal, Dan Coats [diretor nacional de Inteligência] e outros, veio até mim e me disse acreditar que era a Rússia. O presidente Putin diz que não é a Rússia. Direi que não vejo nenhuma razão para ser, mas gostaria seriamente de ver o servidor [de correios da sua adversária Hillary Clinton], tenho confiança em ambas as partes”, comentou na entrevista coletiva conjunta.

Trump disse terça-feira que tudo se deveu a um lapso. “Olhei para a transcrição e vi que onde disse ‘não vejo nenhuma razão pela qual poderia ser’ queria dizer não vejo nenhuma razão pela qual ‘não poderia’ ser. Pensei que devia esclarecer isso”, explicou, embora o conjunto de sua declaração na segunda-feira pareceu dar esse voto de confiança a Putin.

Em um comício em Iowa em janeiro de 2016, no início da campanha eleitoral, Donald Trump disse que ficaria no meio da quinta Avenida, onde morava na época, e atiraria em alguém sem perder um mísero voto. Nos meses seguintes, até as eleições de novembro, ele não atirou em ninguém, mas em termos políticos fez coisas semelhantes para a moral republicana (ou do país em geral): atiçou de forma explícita e entusiasmada a islamofobia, atacou a família de um soldado muçulmano norte-americano morto no Iraque e viu correr como um rastilho de pólvora um vídeo de 2005 em que falava de forma vulgar e misógina sobre as mulheres, afirmando que poderia tocá-las sem seu consentimento.

Ganhou as eleições presidenciais e, depois de uma série de excessos, os republicanos cerraram fileiras com seu presidente. O que aconteceu na segunda-feira em Helsinque provocou uma comoção geral em Washington.

Paul Ryan, porta-voz e membro da Câmara dos Representantes e líder dos republicanos, fez à imprensa uma emenda a todas as questões levantadas pelo presidente dos Estados Unidos em relação ao Kremlin, mas sem atacá-lo diretamente ou exigir qualquer retificação. “Estamos com nossos aliados da OTAN e com todos os países que enfrentam agressões da Rússia. Vladimir Putin não compartilha nossos valores ou nossos interesses. Acabamos de realizar uma investigação de um ano sobre a interferência da Rússia nas nossas eleições. Está muito claro que eles intervieram, está muito claro, não deveria haver dúvida sobre isso. Também está claro que não tiveram efeito sobre o resultado [que deu a vitória a Trump], mas como resultado disso aprovamos duras sanções contra a Rússia”, explicou.

Ryan também se mostrou aberto a novas punições contra o Kremlin. Um jornalista perguntou-lhe concordava com o que havia dito um dia antes o ex-diretor da CIA, John Brennan, que a declaração de Trump entrava no território do crime de “traição”, e mostrou-se contrário.

As palavras de Ryan se juntam a uma avalanche de críticas de suas próprias fileiras republicanas e de outras vozes conservadoras dirigidas a Trump por causa dessa declaração O nova-iorquino se defendeu em sua conta no Twitter pela manhã. “Tive uma grande reunião com a OTAN, consegui aumentar grandes quantidades de dinheiro, mas tive uma reunião ainda melhor com Vladimir Putin, da Rússia. Infelizmente, isso não está sendo informado. A imprensa mentirosa está enlouquecendo!”, escreveu.

Todas as agências de inteligência dos EUA concluíram que Moscou orquestrou uma campanha de ataques cibernéticos e propaganda para interferir nas eleições de 2016 para favorecer a vitória de Trump. Os legisladores do Congresso concluíram no mesmo sentido e o Departamento de Justiça acusou 25 cidadãos russos. Continua sendo investigado por um procurador especial, Robert Mueller, se houve algum tipo de conluio entre a Rússia e o entorno do republicano nesse estratagema, algo sobre o qual não foram encontradas evidências e que os republicanos não colocam sobre a mesa. As dúvidas do presidente sobre seus serviços de inteligência, no entanto, representam uma granada institucional e a proximidade mostrada com o presidente russo, como toque final de uma viagem na qual não deixou de carregar nas tintas contra a UE e os aliados da OTAN, desconcertam em Washington.

“O presidente precisa entender que prejudicou a política externa dos EUA”, disse o republicano Mike Turner, membro do Comitê de Inteligência da Câmara dos Representantes, em declarações à CNN. “Ele lhes deu um passe e, claro, não está exigindo responsabilidades pelo que estão fazendo”, acrescentou.

Um dia antes, o senador democrata Jeff Merkley, do Oregon, disse que a atitude de Trump refletia a possibilidade de que o Kremlin tivesse algum tipo de informação comprometedora sobre Trump e pudesse estar extorquindo-o com ela. Merkley se referia ao que foi informado no explosivo relatório Steele. Trata-se de um dossiê preparado por Christopher Steele, ex-agente do serviço britânico MI6, que com base em fontes não validadas apontava a existência de ligações de Trump com Moscou e de vídeos de sexo do hoje presidente com prostitutas na capital russa. Em uma entrevista na televisão, Mekley considerou “provável” algo assim, “algo próximo disso”. Na época, o FBI qualificou o relatório de lascivo.

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