_
_
_
_
_

Senado dos EUA sustenta que Putin ajudou Trump a ganhar as eleições

Republicanos do Comitê de Inteligência contradizem os da Câmara e apoiam a tese da CIA sobre a ingerência russa

O democrata Mark Warner (à esquerda) e o republicano Richard Burr, respectivamente vice-presidente e presidente do Comitê de Inteligência do Senado, em 9 de maio.
O democrata Mark Warner (à esquerda) e o republicano Richard Burr, respectivamente vice-presidente e presidente do Comitê de Inteligência do Senado, em 9 de maio.J. Scott Applewhite (AP)

O Comitê de Inteligência do Senado norte-americano, de maioria republicana, sustenta que a Rússia interferiu nas eleições presidenciais de 2016 a fim de favorecer a vitória de Donald Trump, uma tese que se alinha com a dos serviços de inteligência dos Estados Unidos, mas se choca com o que defenderam há apenas dois meses os próprios republicanos da outra Câmara do Congresso, a de Representantes (deputados).

Nesse comitê, os conservadores emitiram seu próprio relatório – sem o apoio dos democratas – no qual inocentavam o presidente republicano de qualquer conchavo com o Kremlin e, além disso, rechaçavam a ideia de que o objetivo de Moscou fosse ajudar o bilionário a chegar à Casa Branca. A declaração divulgada nesta quarta-feira pelo outro comitê, por sua vez, tem apoio dos dois partidos.

Mais informações
Consultoria que trabalhou para Trump fez maior roubo de dados da história do Facebook
Dentro da fábrica russa de mentiras
Investigação sobre influência russa nas eleições dos EUA bate à porta de Trump

Não é o relatório final do Comitê de Inteligência do Senado sobre a ingerência eleitoral russa, mas suas conclusões são claras. Trump minimizou o alerta dos serviços de inteligência sobre os esforços de Moscou para ajudá-lo a ser presidente, negou qualquer coordenação com a Rússia e disse sofrer uma “caça às bruxas”.

“Nosso pessoal entendeu que as conclusões [dos serviços de inteligência] eram precisas e corretas”, disse o vice-presidente do comitê do Senado, o democrata Mark R. Warner, em uma declaração conjunta com o presidente, o senador republicano Richard Burr. Em 12 de março, entretanto, o deputado Michael Conaway, encarregado de fiscalizar a investigação da trama russa na Câmara de Representantes, rejeitou a teoria do apoio a Trump. “Não estamos de acordo com a narrativa de que estavam tentando ajudar Trump”, disse à imprensa, acrescentando que não foi encontrado “nenhum indício de conluio”.

Os serviços de inteligência deram como certo em seu relatório, parcialmente divulgado no começo de 2017, que o Governo de Vladimir Putin tinha tentado ajudar o republicano a ganhar as eleições contra Hillary Clinton. Para levar a cabo essa interferência, realizaram ataques cibernéticos, divulgaram e-mails privados dos democratas e espalharam propaganda tóxica para a ex-secretária de Estado, segundo suas conclusões. Se nessa estratégia houve ou não alguma colaboração com o próprio círculo do hoje presidente é algo que ainda está sendo analisado.

As CPIs sobre a trama russa transcorrem no Congresso paralelamente à investigação iniciada há quase um ano pelo promotor especial Robert Mueller, e que trata de esclarecer se houve conchavos entre o Kremlin e o círculo de Trump. As investigações também exploram uma possível obstrução da Justiça por parte do presidente dos Estados Unidos, que alimentou essa suspeita quando, em maio do ano passado, demitiu o diretor do FBI, James Comey, diretamente envolvido na investigação. Comey declarou logo depois que se sentiu pressionado a resolver rapidamente o assunto.

A polêmica reunião russa de Trump Jr.

Por outro lado, o Comitê Judicial do Senado divulgou nesta quarta-feira 2.500 páginas de transcrição dos depoimentos a portas fechadas de Donald Trump Jr. e de outras pessoas que participaram em junho de 2016, a cinco meses das eleições presidenciais, de uma reunião com uma advogada russa em Nova York. Nos e-mails enviados a Trump Jr. para marcar o encontro, Natalia Veselnitskaya foi apresentada como uma “advogada do Governo russo” que, como “parte do apoio da Rússia e de seu Governo a Trump”, tinha informação comprometedora sobre a democrata Hillary Clinton. A reunião é um dos pilares da investigação de Mueller e do próprio comitê judicial, que ainda não anunciou suas conclusões.

Os testemunhos publicados amparam a versão de Trump Jr. de que a reunião foi uma perda de tempo, porque a advogada não ofereceu nenhum detalhe relevante sobre Clinton e em troca pediu que fosse alterada uma lei que restringe adoções de crianças russas nos EUA. Mas a transcrição dos depoimentos alimenta algumas das suspeitas ao redor do caso. Por exemplo, Trump Jr. admite que seu pai poderia ter participado da redação de um comunicado da Casa Branca em que se omitia que a reunião foi proposta como parte do esforço russo para ajudá-lo na campanha eleitoral. Mueller investiga se a nota pode equivaler a um crime de acobertamento.

Em seu depoimento, Trump Jr. diz não recordar muitos detalhes e minimiza outros tantos. Por exemplo, o fato de ter dito, nos e-mails de preparação da reunião, que adoraria encontrar a advogada. Alega que tinha pouquíssima informação, mas que receber uma oferta de roupa suja de Clinton não lhe pareceu suspeito. Também garante que não comunicou a polêmica reunião ao seu pai. Uma das suspeitas é se procedia de Trump um telefonema, feito de um número secreto, que Trump Jr. recebeu após conversar com Emin Agalarov, o astro musical russo vinculado à advogada e que promoveu o encontro. Trump Jr. afirmou no Senado que não lembra com quem falou naquele momento.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_