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A comemoração ‘política’ dos suíços que irritou a Sérvia

Xhaka e Shaqiri, de origem albanesa-kosovar, festejaram seus gols com o sinal da águia, símbolo da bandeira da Albânia

Xhaka (esquerda) e Shaqiri comemoram os gols contra a Sérvia com o gesto da águia, símbolo da bandeira albanesa.
Xhaka (esquerda) e Shaqiri comemoram os gols contra a Sérvia com o gesto da águia, símbolo da bandeira albanesa.LAURENT GILLIERON (EFE)
Eleonora Giovio

Shaqiri e Xhaka são internacionais como a Suíça. O primeiro nasceu em Kosovo de pais albaneses; o segundo, na Suíça de pais albano-kosovares. Shaqiri e a família de Xhaka migraram para a Suíça fugindo da guerra na ex-Iugoslávia e das perseguições sérvias contra as etnias albanesas. Na última sexta, eles marcaram o 1 a 1 e o 2 a 1, respectivamente, na virada da Suíça sobre a Sérvia. E comemoraram os gols fazendo o sinal da águia, símbolo da bandeira da Albânia. Kosovo, uma ex-província sérvia de maioria albanesa, obteve a independência em 2008, mas a Sérvia nunca a reconheceu. Para este país, Kosovo continua sendo sua província. Foi por isso que a comemoração de Khaka e Shaqiri irritou Belgrado.

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A imprensa sérvia deu destaque. “Xhaka provocou vergonhosamente nossos torcedores”, afirmou o jornal on-line Blic. Já o Telegraph criticou a “provocadora gesticulação albanesa”, enquanto o Vecernje Novosti estampou “Provocação dos suíços” na capa, com uma foto das chuteiras de Shaqiri, que trazem a bandeira suíça e também a de Kosovo. Jovan Surbatovic, secretário-geral da Associação de Futebol da Sérvia, também reclamou das chuteiras. “Tentamos fazer com que ele mudasse as chuteiras. Foi uma provocação. Estávamos jogando contra a Suíça, não contra Kosovo”, comentou.

“Minha comemoração depois do gol? Preferiria não falar sobre isso. Estava emocionado por ter marcado, nada mais”, respondeu Shaqiri na noite de sexta aos jornalistas. “Sinceramente, para mim o rival não importava. O gol e a comemoração eram para meu povo, que sempre me apoiou, para minha pátria e para os meus pais”, explicou Xhaka, o autor do gol de empate.

“Quando marca um gol, você sente emoções especiais. Mas acho que todos deveríamos deixar a política fora do futebol”, disse o técnico da seleção suíça, Vladimir Petkovic. Bósnio de origem croata, o treinador também se refugiou na Suíça com sua família, no final dos anos oitenta, quando escapava dos tambores de guerra que começavam a soar na velha Iugoslávia. Sua seleção é agora uma torre de Babel, com jogadores de até 12 procedências. O capitão Stefan Lichtsteiner, no entanto, apoiou seus companheiros. “Para eles foi um jogo muito duro, do ponto de vista mental. Isso é mais do que futebol. Sofreram a guerra. Para seus pais foi duríssimo, e por isso os entendo. Houve provocações antes da partida, então acho normal que comemorem assim”, disse Lichtsteiner à rede italiana Mediaset.

A UEFA proíbe a mistura entre política e futebol. Mladen Krstajic, treinador da Sérvia, não quis entrar na polêmica das comemorações: “Não vou comentar nada. Sou um homem do esporte, e continuarei sendo.”

A chuteira de Shaqiri com a bandeira da Suíça e de Kosovo.
A chuteira de Shaqiri com a bandeira da Suíça e de Kosovo.

Em 15 de outubro de 2014, o árbitro do jogo Sérvia x Albânia, de classificação para a Eurocopa, precisou suspender o duelo aos 43 minutos devido à tensão no gramado entre os jogadores das duas equipes. A Albânia visitava Belgrado pela primeira vez desde 1967, num contexto político marcado pelo conflito de Kosovo. Até sete jogadores da Albânia nasceram em Kosovo, cuja independência é rejeitada pela Sérvia. Nos dias anteriores ao jogo, a UEFA decidiu proibir a presença de torcedores visitantes por motivos de segurança. Mas um drone que sobrevoou o centro do campo no minuto 43 colocou tudo a perder. O aparelho exibia a bandeira dos territórios que a Albânia reivindica. O jogador sérvio Mitrovic recolheu a bandeira, gerando a revolta dos atletas albaneses, que questionaram seu gesto. Foi o início de uma briga que forçou o árbitro a suspender o jogo.

A Comissão Disciplinar da UEFA sancionou ambas as seleções com uma multa de 105.000 dólares (397.000 reais) e com a perda de três pontos para a Sérvia e dois jogos sem público.

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