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Governo cede e anuncia concessões chave para caminhoneiros, mas fim da greve é incerto

Após semana de impasse e derrotas, Temer se dispõe a congelar valor do diesel por 60 dias, além de aumentar desconto por litro

Soldados tentam desobstruir bloqueios de caminhoneiros.
Soldados tentam desobstruir bloqueios de caminhoneiros.Joédson Alves

Após uma semana de impasse e derrotas sofridas nas mãos do movimento dos caminhoneiros grevistas, o Governo de Michel Temer cedeu, agora completamente. Em pronunciamento realizado por volta das 22h de domingo, o presidente anunciou cinco medidas adotadas pelo Planalto para tentar debelar a paralisação da categoria. De acordo com o emedebista, "as medidas atendem a praticamente todas as reivindicações que nos foram apresentadas". Dentre elas está o aumento no desconto por litro de diesel (de 41 centavos para 46 centavos) e o congelamento deste valor por 60 dias. "A partir disso só haverão reajustes mensais, para garantir a previsibilidade do caminhoneiro", disse Temer. O presidente também anunciou que o Governo irá editaria três medidas provisórias para beneficiar a categoria dos fretistas - o que aconteceu na própria noite de domingo. Uma delas prevê a suspensão da cobrança de eixo suspenso em todo o Brasil (quando o caminhão passa sem carga), a segunda garante aos caminhoneiros autônomos 30% dos fretes da Companhia Nacional de Abastecimento, e, por fim, o estabelecimento de uma tabela mínima de frete.

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Ainda não se sabe qual será a reação global dos caminhoneiros, cuja greve se mostrou um movimento horizontal com muitos líderes e articulações feitas por Whatsapp. O presidente da Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos, Diumar Bueno, afirmou pouco após a fala de Temer que as propostas "contemplam" as demandas do movimento, mas que ainda é cedo para falar em fim da greve. A desmobilização dos caminhoneiros, de acordo com ele, "vai depender da base", e que apenas ela "tem competência para avaliar as propostas do Governo". Outras associações até então arredias, como a Abcam, também se mostraram satisfeitas nesta segunda, num sinal de que anúncio de Temer pode encerrar uma semana de caos, na qual o brasileiro sofreu com o desabastecimento de supermercados, aeroportos, hospitais e postos de gasolina por todo o país.

Apesar do aceno, o presidente fez questão de frisar que "para chegar a isso [as propostas anunciadas] o Governo está assumindo sacrifícios no orçamento", e que a Petrobras "não será onerada". Ou seja, não está prevista uma revisão na política de preços da estatal petroleira, atrelada às oscilações do mercado internacional de petróleo e do dólar e um dos cernes do conflito. O subsídio do diesel será financiado, segundo o emedebista, com a renúncia fiscal do PIS/COFINS e da CIDE somados.

O pronunciamento de Temer neste domingo marcou uma mudança no tom do Governo na relação com os caminhoneiros. Até então, o Governo Federal mantinha a mesma política de enfrentamento com o movimento adotada desde o início da crise. No sábado o ministro Raul Jungmann voltou a bater na tecla de que parte da greve é orquestrada por patrões, o que configuraria o locaute, que é ilegal. De qualquer forma, mesmo após anunciar que o Exército iria ajudar a desobstruir as rodovias, a situação no país continuou caótica, na medida em que centenas de bloqueios ainda impediam a circulação nas estradas do país na noite de domingo.

Diante da perspectiva de uma crise aprofundada de abastecimento nas cidades e com o anúncio feito no sábado pela Federação Única dos Petroleiros (FUP) de que a categoria dos petroleiros deve cruzar os braços por 72 horas à partir de quarta-feira, 30 de maio, Temer precisou ceder.

No sábado o Estado-maior do presidente ainda tentou mostrar que tinha a situação sob o mínimo de controle. Os ministros Raul Jungmann, da Segurança Pública, e Sérgio Sérgio Etchegoyen, do gabinete da Segurança Institucional, culparam empresários donos de transportadoras de estarem por trás de parte da mobilização. Após reunião do o gabinete de crise do Governo Federal, Jungmann chegou a dizer que "mandados de prisão já foram expedidos". Ele não informou, no entanto, se já haviam sido cumpridos e quem seriam os empresários responsáveis pelo locaute (espécie de greve patronal, proibida por lei). "Alguns caminhoneiros receberam ordens de permanecerem paralisados, o que configura a prática do locaute", disse."Esta paralisação teve, em parte, a promoção e o apoio criminoso de proprietários e patrões de empresas transportadoras e distribuidoras. E podem ter certeza, eles irão pagar por isso".

O ministro Etchegoyen foi realista quanto à normalização do abastecimento no país. "É difícil prever qualquer data para a normalização. Queremos que seja o mais rápido possível, mas não há indicação se isso ocorrerá em um dia, dois dias... O que percebemos é que o abastecimento começa a caminhar no sentido da normalidade". O ministro disse ainda que o caminhão parado "deixa de fazer uma série de viagens", o que provoca uma demora no restabelecimento dos estoques.

Governador de São Paulo toma a dianteira na crise

Enquanto o Planalto não conseguia avançar no diálogo com os caminhoneiros, quem alcançou um papel de destaque nas negociações com a categoria foi o governador de São Paulo, Márcio França (PSB), que fez esforços para mediar a crise. Candidato à reeleição, o peessedebista alcançou uma exposição midiática e política que não havia tido desde que assumiu o Bandeirantes para que Gerado Alckimin pudesse disputar o Planalto, no início de abril. Desde sábado o governador tem se reunido com lideranças dos grevistas. Com a ajuda da Polícia Militar e da Guarda Civil Metropolitana, que escoltaram caminhões-tanque, França conseguiu garantir o abastecimento de combustível para os serviços básicos na capital até o final de segunda-feira.

Neste domingo o governador se reuniu novamente com caminhoneiros na tentativa de emplacar um acordo que desmobilizasse de vez a paralisação da categoria. França afirmou que os grevistas querem o congelamento do preço do diesel por 60 dias: "Vamos conversar com o Temer e ver o que conseguimos", disse após o encontro. Ele sugeriu ainda que o Governo estabeleça um teto para o preço do combustível, de forma a fomentar "a confiança" entre as partes.

Por fim, França cobrou do Congresso que retome suas atividades na segunda-feira e não na terça, data em que costumam ser realizadas as primeiras sessões da Câmara e do Senado. "Eles precisam antecipar a volta para segunda-feira, não dá para fingir que não tem nada acontecendo", afirmou.

São Paulo continua em Estado de emergência, declarado na sexta-feira. A capital tem gasolina suficiente para manter seus serviços básicos até o final da segunda-feira.

Morte de animais

Os reflexos da produção também são sentidos pelo produtor. A Associação Brasileira de Proteína Animal informou que "lamenta anunciar que a mortandade animal já é uma realidade devido à falta de condições minimamente aceitáveis de espaço e quantidade de ração". De acordo com a entidade, "um bilhão de aves e 20 milhões de suínos estão recebendo alimentação insuficiente". A nota informa ainda que "com risco de canibalização e condições críticas para os animais, 64 milhões de aves adultas e pintinhos já morreram, e um número maior deverá ser sacrificado em cumprimento às recomendações da Organização Mundial de Saúde Animal e das normas sanitárias vigentes no Brasil". A associação estimou o impacto da greve na balança comercial do setor em 350 milhões de dólares.

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