_
_
_
_
_

Feministas chilenas exigem nas ruas uma educação não sexista

Milhares de estudantes universitárias marcham em diferentes cidades para protestar contra casos de abuso acadêmico e violência contra mulheres

Rocío Montes
Estudantes chilenas em um dos protestos.
Estudantes chilenas em um dos protestos.M. BERNETTI (AFP)
Mais informações
Estupro coletivo choca o Chile
Chile não consegue conter feminicídios
Indignação nas ruas da Espanha por sentença branda a um caso de estupro coletivo

A nova onda feminista chilena, liderada pelas estudantes universitárias, saiu às ruas de todo o país nesta quarta-feira em uma nova demonstração de força. “A maior passeata desde 2011 foi feita por nós, mulheres: O feminismo veio para ficar!”, tuitou a porta-voz da Confederação de Estudantes do Chile (CONFECh), Araceli Farías, referindo-se aos protestos históricos de sete anos atrás que exigiam uma educação pública, gratuita e de qualidade. Desta vez, as grandes protagonistas foram as estudantes do ensino superior, às quais se juntaram as do ensino médio. A imagem de uma jovem sem sutiã ao lado de uma estátua de João Paulo II, em um dos pátios da conservadora Pontifícia Universidade Católica, é a expressão da indignação das manifestantes, que marcharam sob o lema Contra a violência de gênero, educação não sexista.

Segundo os dados oficiais dos Carabineros (polícia militar), só na capital, 25 mil pessoas participaram da passeata. Os organizadores não concordam: “Estimamos que 150 mil pessoas marcharam em Santiago e outras 50 mil em nível nacional”, diz Farías. Os protestos aconteceram também em Antofagasta, Valparaíso, Concepción, Temuco e Valdivia, entre outras cidades. “Mostramos que esse movimento é amplo e transversal na sociedade, independentemente de você ser estudante ou trabalhadora. Aponta para um problema que afeta a nós, mulheres, que somos maioria no país “, acrescenta a representante do CONFECh.

”Trinta e sete relatos de abuso este ano somente na UC. Quantas continuam caladas?” dizia um cartaz das estudantes da Pontifícia Universidade Católica. “Alerta, alerta, alerta machista. Que todo o país se torne feminista”, gritavam as milhares de mulheres que chegaram à principal avenida da capital chilena, a Alameda, onde ficam as universidades mais antigas e de maior prestígio, bem como o palácio de La Moneda, sede do Governo chileno. “Não, não, não é não. Que parte você não entendeu?”, entoavam.

As lutas mundiais pela igualdade da mulher explodiram em um campo muito específico da sociedade chilena: a universidade. Mas não é só o contexto internacional que impulsiona a mobilização das jovens: alguns casos de violência têm tido um impacto significativo na sociedade chilena, como a morte por estupro de uma menina de um ano de idade, o abuso coletivo de uma mulher de 28 e a divulgação da conduta imprópria de um conhecido diretor de televisão. Em abril, as universitárias começaram algumas ocupações em protesto contra casos de abuso sexual de estudantes e funcionárias por parte de professores. Mas as mobilizações se expandiram e dezenas de faculdades, em instituições públicas e particulares, estão paralisadas pelas jovens.

A intenção é tornar visível o sexismo na educação, melhorar os procedimentos de investigação de assédio sexual e ampliar as punições aos culpados. Mas protestam, principalmente, contra um problema estrutural: a violência contra as mulheres em todas as suas dimensões. “O lugar da mulher é a resistência”, dizia um cartaz. “Aqui se educam os machinhos”, dizia outro, de uma aluna do Liceo 1, um dos estabelecimentos femininos mais simbólicos de Santiago, à frente do Instituto Nacional. O liceu público masculino mais tradicional do país foi escola de vários ex-presidentes do Chile, mas, nas últimas semanas, seus alunos protagonizaram episódios de violência machista. Os estudantes do último ano produziram um agasalho com os seguintes dizeres: “Queria ser bissetriz para te dividir em duas e altura para passar pelo seu ortocentro”. Outro grupo de estudantes fez piada com o caso de estupro coletivo na Manada de San Fermín em vídeo postado em uma rede social. Paralelamente, está sendo investigada a denúncia de agressão sexual contra uma assistente escolar.

“A gente se torna feminista por necessidade”, disse Sofia Brito, estudante de Direito da Universidade do Chile, na manhã de terça-feira, no programa de Súbela Radio, da comediante feminista Natalia Valdebenito. Foi Brito que denunciou um destacado professor de sua faculdade e expôs o caso que acendeu o alerta feminista na educação. Sua luta continua nas ruas e nas salas de aula.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_