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Coluna
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O vazio que Joaquim Barbosa deixa

A desistência do ex-presidente do STF enfraquece a centro-esquerda, exceto Marina Silva, e fortalece a direita, incluindo Bolsonaro

Juan Arias
Joaquim Barbosa ao chegar à sede do PSB no dia 19 de abril
Joaquim Barbosa ao chegar à sede do PSB no dia 19 de abrilJOÉDSON ALVES (EFE)
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Se sobrava emoção e perplexidade às eleições presidenciais diante a impossibilidade de Lula concorrer, a saída de Joaquim Barbosa confundiu ainda mais as coisas, se for possível. O paradoxo é que o juiz emblema da luta contra a corrupção, consagrado no julgamento do mensalão, nem sequer era pré-candidato e já se transformara no “candidato novidade”, como escreveu a catedrática em Sociologia na USP Angela Alonso, no jornal Folha de S.Paulo.

E agora?, podem se perguntar os analistas políticos, enquanto os partidos já devem estar revisando suas cartadas. A desistência do ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) representa duas derrotas: a dos candidatos não políticos, de Doria a Huck, já que Barbosa era a única figura de peso, alheia à política tradicional, que restava, e a da centro-esquerda, que fica debilitada. Barbosa era um candidato da esquerda social com o plus de ser, por sua biografia, um representante herdeiro das injustiças que o Brasil arrasta desde a escravidão. Não por acaso havia recordado que a miséria que castiga ainda milhões de pessoas no país é sobretudo “estrutural”.

Joaquim Barbosa poderia em sua campanha eleitoral ter colocado em relevo as veias abertas no Brasil pela escravidão que condenou à pobreza física e cultural milhões de pessoas para as quais se cunhou a ideia de que somente os filhos dos ricos deviam estudar. Os dos pobres, filhos da escravidão, estavam condenados a trabalhar como seus pais. Ao mesmo tempo, uma candidatura de Barbosa teria posto à prova a capacidade dos brasileiros, acusados de racismo, de aceitar um presidente negro. Ele mesmo se havia perguntado dias atrás se o país estaria preparado para aceitá-lo.

A saída de Joaquim Barbosa não só enfraquece a centro-esquerda como fortalece a direita, que, apesar de arrastar o lastro da experiência de um governo qualificado de golpista, poderá enfrentar em um segundo turno uma esquerda desorientada com o caso Lula, um PT sem candidato no qual apostar e, como quase sempre, mais difícil de unificar que a direita, que, embora apenas por sobrevivência, acaba sempre se unindo.

Se a candidatura do extremista e violento Bolsonaro, que apesar do vazio cultural e imaginativo que o personagem representa ainda aparece com possibilidades de estar presente em um segundo turno, se via esvaziada em parte com a chegada de Barbosa, um homem também duro e severo com a violência e a corrupção, mas de grande estatura intelectual e moral, agora a incógnita se torna mais perigosa.

A desistência de Joaquim Barbosa reforça ao mesmo tempo a candidatura de Marina Silva, que, sem ser novidade, já que leva uma vida inteira na política e disputou duas presidenciais, de alguma forma aparece senão como o novo, pelo menos como o diferente da velha política, com o plus de não estar contaminada pelos escândalos de corrupção.

Agora, o desafio da esquerda necessitará mais do pragmatismo político de Lula do que a exaltação quixotesca de sua porta-voz, a incendiária Gleisi Hoffmann. Talvez seja o próprio Lula que entenda que, sem ele, o PT poderá ter alguma sobrevivência – embora delegada a outros – somente apoiando uma candidatura fora do partido, como a de Ciro Gomes. Seria talvez a única possibilidade de frear, se é que ainda há tempo, outro candidato que ponha de joelhos toda a esquerda, mais enfraquecida que nunca nos últimos 20 anos no caminho das urnas.

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