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Assassinados e dissolvidos em ácido os três estudantes de cinema desaparecidos no México

Membros do Cartel Jalisco Nova Geração confundiram os alunos com seus rivais na região

Sonia Corona
Protesto em Guadalajara no dia 22 de março contra o desaparecimento dos estudantes
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A terrível história dos desaparecidos no México teve um desfecho na segunda-feira em Jalisco. Os três estudantes de cinema sequestrados nessa região há um mês foram assassinados e dissolvidos em ácido sulfúrico pelo Cartel Jalisco Nova Geração, de acordo com a Promotoria. Alguns restos genéticos dos alunos da Universidade de Meios Audiovisuais foram encontrados nas últimas semanas em uma fazenda para onde foram levados após seu sequestro em 19 de março por um grupo armado em Tonalá, uma localidade vizinha à cidade de Guadalajara.

Salomón Aceves Gastélum, de 25 anos e originário de Mexicali (Baixa Califórnia); Jesús Daniel Díaz, de 20 anos e de Los Cabos (Baixa Califórnia Sul), e Marco Ávalos, de 20 anos e de Tepic (Nayarit) entram na extensa lista de 104.000 homicídios ocorridos desde que se iniciou o Governo de Enrique Peña Nieto e aos mais de 200.000 assassinatos relacionados à guerra contra o tráfico de drogas, que já dura 11 anos. Os três estudantes foram assassinados ao mais puro estilo dos traficantes mexicanos: com uma violência excessiva e tentando apagar qualquer evidência com um químico corrosivo.

Gastélum, Díaz e Ávalos não sabiam por que na noite de 19 de março um grupo disfarçado de agentes da Promotoria os interceptou em uma estrada quando pararam seu carro para consertar um problema mecânico. Os três estudantes voltavam com mais três colegas de um longo período de filmagem para um trabalho escolar, realizado em uma cabana em Tonalá. Na solidão da estrada, seis homens com armas de grosso calibre desceram de duas caminhonetes e ordenaram diretamente aos três alunos que subissem em um dos veículos. Atiraram para cima antes de partir rapidamente, sem deixar mais rastros além de uma nuvem de pó.

A Promotoria de Jalisco confirmou que os jovens não tinham a menor ligação com os traficantes da região e que só estavam no local e na hora errados. “Não há nenhuma prova de que tenham algum vínculo com algum cartel criminoso”, disse Ivette Torres, chefa da investigação à imprensa mexicana. O único erro dos aspirantes a cineastas foi montar durante dois dias a filmagem escolar em uma propriedade que já foi casa de segurança de um grupo criminoso. A tia de um deles – as autoridades não revelaram sua identidade – lhes emprestou a cabana para seu projeto. Enquanto trabalhavam, pelo menos oito membros do Cartel Jalisco Nova Geração os vigiavam sem que eles soubessem.

Após o sequestro, os três estudantes foram levados a uma casa onde foram torturados, interrogados e assassinatos. Lá a Promotoria encontrou traços do sangue de Jesús Daniel Díaz que mostram o terror pelo qual passaram os jovens em suas últimas horas de vida. Seus corpos, sempre de acordo com a versão da Promotoria, foram levados a outra casa onde os criminosos os submergiram em ácido sulfúrico, comumente utilizado em fertilizantes, para dissolver qualquer evidência. As autoridades estão analisando o conteúdo de três tinas (depósitos utilizados para armazenar água) e 46 tambores cheios com o químico dissolvente para encontrar mais provas de que os estudantes morreram ali.

Os traficantes do Cartel Jalisco Nova Geração teriam confundido os alunos com membros do grupo rival Cartel Nova Praça, ao vê-los ocupando a cabana que já serviu como depósito de armas e drogas. A Promotoria prendeu dois dos oito homens que participaram do sequestro e assassinato dos jovens: Gerardo N. e Omar N. Os dois confirmaram o relato sobre o homicídio dos alunos e que seus colegas de cartel acreditaram que as vítimas eram criminosos como eles, e não um grupo de jovens cineastas com a criatividade e seus sonhos em efervescência.

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