México começa a campanha que pode levar o país a uma guinada à esquerda
López Obrador, favorecido pela insegurança e a corrupção do sistema, tem 79% de chances de ganhar, de acordo com uma comparação entre as pesquisas
O México começa a percorrer 90 dias definitivos para seu futuro. Na sexta-feira começou oficialmente uma campanha que há meses vem se prolongando e na qual o candidato da esquerda Andrés Manuel López Obrador (AMLO) caminha vitorioso nas pesquisas, mais pelos erros dos demais do que por seus próprios acertos. Em sua terceira tentativa – e última, segundo suas palavras – para chegar ao poder, o líder do Morena (Movimento de Regeneração Nacional) se beneficia da guerra desatada entre seus dois rivais. Ricardo Anaya, candidato do Pelo México à Frente, uma coalizão heterodoxa entre o direitista Partido de Ação Nacional (PAN) e o Partido da Revolução Democrática (PRD, de centro-esquerda), disputa o segundo lugar com José Antonio Meade, concorrente do histórico Partido Revolucionário Institucional (PRI), que governou o país durante décadas, incluindo os últimos seis anos.
López Obrador também possui a seu favor que a sensação de saturação e desencanto em relação ao Governo atual, repleto de corrupção e com os níveis de insegurança mais altos já vistos, é muito maior do que o medo gerado por sua eventual chegada ao poder. Um temor ainda latente, sobretudo no setor empresarial, mas diluído em relação às duas eleições anteriores nas que ele já foi concorrente, naquela época pelo PRD. Um estudo realizado pelo EL PAÍS a partir das pesquisas publicadas indica que López Obrador tem 79% de chances de vitória, contra 16% de Anaya e somente 5% de Meade.
Depois de 70 anos de governo hegemônico do PRI, de dois sexênios de alternância do PAN e do retorno ao poder do histórico partido, todos os candidatos apelam ao rompimento com o estabelecido nas eleições de 1 de junho, nas quais 90 milhões de mexicanos podem votar. López Obrador, de 64 anos, o candidato mais velho, encarna para muitos a ruptura mais radical. O líder do Morena, o partido que criou após abandonar o PRD, parte como favorito há meses. Não somente isso, ele também recebe toda a atenção. A maioria das informações relacionadas a ele, sejam positivas ou negativas, tem mais eco do que as de seus rivais. “A importante liderança inicial de Obrador pode não ser fácil de ser retirada nos 100 dias que restam até as eleições, com exceção de um erro importante na campanha”, disse um relatório recente do Goldman Sachs, que acentua a sensação dividida pela maioria dos analistas de que o principal problema de Obrador é ele mesmo.
El Peje (Astuto) e AMLO (as iniciais de seu nome), os dois apelidos pelos quais é conhecido, cercou-se de um grupo heterogêneo. Em um movimento que é bastante familiar aos brasileiros, o líder do Morena não hesitou no momento de aliar-se ao ultraconservador Encontro Social para receber o voto evangélico. Também não se importou com a questionada figura de Napoleón Gómez Urrutia, um líder sindical que fugiu ao Canadá após ser acusado de corrupção. Além disso, abraçou o apoio dos descontentes do PRI e do PAN, caso de seu ex-presidente Germán Martínez, um dos artífices, em 2006, da campanha de “um perigo ao México” com a qual López Obrador foi atacado. Ele perdeu aquela eleição por meio ponto, entre acusações de fraude.
Pelos temores de sua eventual vitória, Obrador afirmou que se conquistar a presidência não iniciará uma caça às bruxas. Não conseguiu, entretanto, dissipar alguns medos especialmente entre empresários e investidores. AMLO soube gerir sua vantagem entre as pesquisas e tirar proveito da encarniçada luta pelo segundo lugar entre Anaya e Meade, deixando que se destrocem. Mas o tempo das boas intenções parece ter chegado ao fim e agora deverá concretizar algumas das propostas que sugeriu, como uma possível anistia a envolvidos em casos de tráfico de drogas, a criação de uma Guarda Nacional e uma Constituição moral.
Com López Obrador, Ricardo Anaya representa a outra opção mais clara de renovação. O ex-presidente do PAN, de 39 anos, demonstrou uma ambição incontestável. Convencido de que a única saída ao país é um governo de coalizão – baseando-se nos exemplos da Alemanha e Chile –, apostou pela criação do Pelo México à Frente, um amálgama entre o PAN e os progressistas PRD e Movimento Cidadão, à custa de cercear uma parte de seu partido. As divisões no PAN não significaram um retrocesso de Anaya nas pesquisas. Entre janeiro e fevereiro cresceu até que, em março, um suposto caso de lavagem de dinheiro na venda de um galpão industrial de sua propriedade o atingiu e o fez retroceder. As autoridades não provaram que a origem do dinheiro – 53 milhões de pesos (9,6 milhões de reais) – seja ilícita e que Anaya se beneficiou dele, mas as dúvidas sobre como a venda se realizou se mantêm. Anaya acusou o Governo de orquestrar uma operação contra ele para favorecer o PRI. José Antonio Meade é o primeiro candidato do PRI que concorre à presidência sem militar no partido, mas não conseguiu se desvencilhar da imagem ruim do partido e superar suas divisões internas.
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