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Jornalista morre com tiro na cabeça enquanto filmava protestos na Nicarágua

Protestos contra as reformas promovidas pelo presidente Daniel Ortega já deixaram uma dezena de mortos

O jornalista Miguel Ángel Gahona morreu de um disparo na cabeça enquanto filmava um enfrentamento entre manifestantes e policiais na localidade costeira de Bluefields, Nicarágua. O repórter foi atingido quando caminhava pela rua enquanto retransmitia pelo Facebook Live os protestos de rua que se espalham por todo o país contra a reforma da previdência social colocada em prática pelo Governo de Daniel Ortega, nas quais já morreram pelo menos dez pessoas e dezenas ficaram feridas. A morte foi filmada por um colega de Gahona que estava atrás dele.

Miguel Ángel Gahona.
Miguel Ángel Gahona.Foto do Facebook
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“Acreditamos que foi um franco-atirador que fez o disparo; não foram os jovens (...), os únicos que portavam armas eram os policiais e os agentes antidistúrbios”, declarou ao Canal 15 de televisão a jornalista Ileana Lacayo. “Havia uma batalha campal (...), dispararam quando Ángel caiu, foi uma confusão (...mas há vários vídeos e foi um disparo que o atingiu”, acrescentou. “Ángel, Ángel!”, se escuta na gravação em que se vê a morte do jornalista, gravada pelo colega.

O vídeo que Gahona estava fazendo continua circulando nas redes sociais. Nele se pode ver como Gahona mostrava os danos causados pelos manifestantes no edifício da Prefeitura. Em seguida se escuta um disparo e a câmera cai no chão.

Lacayo negou que Gahona estivesse trabalhando para a televisão estatal, segundo a versão de órgãos oficiais, mas, sim, para uma mídia independente. O vídeo que ele estava gravando foi postado na página do Noticiiero El Meridiano, no Facebook.

Miguel Ángel Gahona.
Miguel Ángel Gahona.

Durante os protestos que abalam o país desde quarta-feira, jornalistas de órgãos independentes têm sido agredidos e detidos temporariamente. Alguns tiveram equipamentos roubados, segundo denunciaram. O governo bloqueou a transmissão de quatro mídias independentes, embora somente uma continue fechada.

O presidente Ortega, na tentativa de frear os protestos, aceitou neste sábado dialogar com o setor privado sobre a reforma da lei da previdência social, mas excluiu outros setores e os jovens participantes dos protestos, o que atiçou ainda mais os ânimos dos manifestantes.

Diante do crescente descontentamento, a entidade empresarial respondeu a Ortega que “não pode haver um diálogo” se o Governo “não interrompe de imediato a repressão policial” e respeita a liberdade de manifestação e de imprensa.

Continúa protesta

Gepostet von Noticiero El Meridiano am Samstag, 21. April 2018

FacebookLive, pelo qual Gahona estava filmando até o momento em que levou o tiro na cabeça

Ortega diz que os protestos são estimulados por grupos políticos de oposição a seu Governo e que recebem financiamento de setores extremistas dos Estados Unidos. Fazem isso para “semear o terror, semear a insegurança”, fustigou. Depois desse discurso, o primeiro desde que na quarta-feira tiveram início as virulentas manifestações, centenas de jovens e policiais anti-motim entraram em confronto na capital.

A origem do protesto é uma reforma do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) aprovada em 16 de abril, pela qual a contribuição salarial dos trabalhadores à previdência social passará dos atuais 6,25% para 7%; a dos empresários, conforme os benefícios, de 19% a 22,5%; e os aposentados terão que começar a contribuir com uma retenção em suas pensões de 5%.

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