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Coluna
Artigos de opinião escritos ao estilo de seu autor. Estes textos se devem basear em fatos verificados e devem ser respeitosos para com as pessoas, embora suas ações se possam criticar. Todos os artigos de opinião escritos por indivíduos exteriores à equipe do EL PAÍS devem apresentar, junto com o nome do autor (independentemente do seu maior ou menor reconhecimento), um rodapé indicando o seu cargo, título académico, filiação política (caso exista) e ocupação principal, ou a ocupação relacionada com o tópico em questão

Em face dos últimos acontecimentos

Que democracia é essa, na qual um juiz federal, egocêntrico e vaidoso, elege seus inimigos e os persegue sem trégua, fazendo justiça com as próprias mãos?

Crianças brincam durante um ato em apoio a Lula do lado de fora da embaixada brasileira em Montevidéu, Uruguai, na quarta-feira, 11 de abril
Crianças brincam durante um ato em apoio a Lula do lado de fora da embaixada brasileira em Montevidéu, Uruguai, na quarta-feira, 11 de abril Matilde Campodonico (AP)
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Nossa democracia em xeque
Às armas, cidadãos!
Em busca de um salvador da pátria

O profeta Jeremias, aquele do Antigo Testamento, escreveu no livro que leva seu nome: “Atentai para estas palavras, ó povo insensato e tolo! Sim, vós que tendes olhos, mas não querem enxergar; que tendes ouvidos e se negam a ouvir”:

Que democracia é essa, na qual militares, que deveriam entronizar o papel de guardiães da Constituição, vêm a público para ameaçar, sem meias palavras, os juízes da Suprema Corte a votarem não segundo a lei, mas segundo suas, deles, conveniências?;

Que democracia é essa, na qual um juiz federal, egocêntrico e vaidoso, enlouquecido pelo poder, se arvora no papel de deus exmachina, e, travestido de herói de filme B, elege os seus inimigos e os persegue sem trégua, fazendo justiça com as próprias mãos?;

Que democracia é essa, na qual pessoas instigam os condutores de um avião que leva um ex-presidente da República a jogá-lo pela janela – “joga esse lixo pela janela aí” -, evocando uma tática bárbara muito usada pelas ditaduras militares para eliminar adversários no chamado Cone Sul?;

Que democracia é essa, na qual um “empresário do sexo” comemora a prisão de um ex-presidente da República distribuindo nove mil latas de cerveja e instigando seu assassinato, com a promessa de que, “se matarem ele, na cadeia, o mês todo a cerveja é de graça”?;

Que democracia é essa, na qual um candidato à Presidência da República, homofóbico, racista e misógino, que admite a tortura e prega o armamento da população, celebra a condenação de seu adversário afirmando que seus seguidores devem ficar atentos, pois “o inimigo não está eliminado ainda”?;

Que democracia é essa, na qual a Justiça, protegida pela falácia da isonomia e da equidade, atropela prazos e ignora apelações, com o claro e único intuito de proibir que o principal candidato às eleições presidenciais possa concorrer?;

Que democracia é essa, na qual uma presidente da República é destituída do cargo, sob uma bizarra acusação – um problema contábil -, sem que uma única prova de seu envolvimento com algo que caracterize crime tenha sido levantada?;

Que democracia é essa, na qual o presidente em exercício, ocupando ilegitimamente o poder, sofre uma série de acusações de corrupção e mantêm-se governando o país por meio da compra da consciência de deputados e senadores?;

Que democracia é essa, na qual uma liderança política em ascensão é assassinada, e, passado um mês, nenhuma informação a respeito dos responsáveis é lançada?;

Que democracia é essa, na qual 10% da população concentra 43% do total da renda do país e na qual 1% da população mais rica ganha 37 vezes a média mensal de 50% da população mais pobre – R$ 27,9 mil contra R$ 754?;

Que democracia é essa, na qual 45% do total da população não conta com rede de esgoto, 10 milhões de residências não têm acesso à água tratada (o que equivale a cerca de 40 milhões de pessoas) e há um déficit de 6,2 milhões de moradias?;

Que democracia é essa, na qual foram registrados mais de 61 mil assassinatos em um ano (a maioria absoluta de pobres e afrodescendentes); 50 mil estupros (crime sempre subnotificado); um feminicídio a cada duas horas; um assassinato de LGBT a cada 25 horas?

Que democracia é essa, na qual acesso à educação é privilégio; acesso à saúde é privilégio; acesso ao lazer é privilégio; mobilidade é privilégio; segurança é privilégio?

A maior parte da população não tem tempo nem energia para discutir os problemas coletivos – seu tempo e sua energia são despendidos nos longos trajetos entre a casa e o trabalho para ganhar 85% de um salário mínimo por mês, renda com a qual sobrevive metade dos trabalhadores brasileiros. Assim vive a maior parte da população: em casas inadequadas, destituídas de água tratada e rede de esgoto, sem acesso à educação de qualidade, a um sistema de saúde digno, a lazer, utilizando um sistema de transporte precário, acossada pelo desemprego, e achacada por marginais – traficantes, milícia, policiais corruptos – e por lideranças religiosas fundamentalistas.

A quem interessa esse estado de coisas?

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