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Caso Marielle Franco
Coluna
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Quiseram assassinar a esperança de Brasil sem ódios

Já são demais os símbolos que acabam assassinados neste país com poucos sinais de que essa guerra dos infames contra os justos possa ser vencida

Manifestante no Rio.
Manifestante no Rio.MAURO PIMENTEL (AFP)
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Marielle, a jovem negra, vereadora do PSOL, não foi uma vítima a mais da violência que aflige o Rio e o Brasil. Nela quiseram sacrificar um símbolo de esperança de um país sem ódios. Por isso criou tanta comoção dentro e fora do país. Seu sacrifício foi mais do que o de uma mártir política. Se em vez de uma política tivesse sido uma dona de casa, lutadora como ela, contra a violência gratuita que golpeia este país, na maioria das vezes com as armas daqueles que deveriam defendê-la, sua morte teria sido igualmente atroz.

O assassinato de Marielle é mais grave, se possível, porque com ele se quis eliminar um símbolo da luta pelas causas pelas quais vale a pena morrer, embora seus verdugos ignorem que os símbolos acabam ressuscitando com maior força. A jovem executada na flor de sua vida e de sua carreira de combatente pela justiça é uma mártir que não se resignava a que as pessoas inocentes com as quais convivia em seu território fossem massacradas por um poder incapaz de proteger os cidadãos trabalhadores e honestos. E se pôs a gritar isso. Lutava por um Brasil no qual se possa andar pela rua sem medo de levar um tiro de bala perdida ou ser vítima de poderes corruptos que, em vez de proteger as pessoas, sacrificam-nas sem piedade.

Marielle foi vítima e símbolo do ódio contra quem luta por um Brasil sem ódios e discriminações. Negra, mulher e militante das causas que parecem perdidas, três títulos que conjugados a levaram a ser sacrificada para que não pudesse continuar defendendo essa gente excluída, à margem do asfalto, transformada em carne de canhão em um mundo amuralhado e abandonada a sua sorte.

Já são demais os símbolos de esperança que acabam assassinados neste Brasil com poucos sinais de que essa guerra dos infames contra os justos possa ser vencida. Símbolos, como os de Marielle, ou como foi um dia o jornalista Tim Lopes, atrozmente torturado e executado em uma favela que tentava resgatar da tirania da violência dos traficantes, ou a emblemática execução do pedreiro Amarildo, transformado em símbolo de todos os inocentes que nas favelas como a sua morrem todos os dias sem saber por quê.

Até quando o Rio, até quando o Brasil continuará aceitando passivamente esse massacre de símbolos da luta contra a barbárie da violência gratuita ou intencional? A esperança dos que lutam e continuam morrendo sob as balas é que os brasileiros despertem e, diante de crimes como o de Marielle, não se conformem em chorar em seus enterros, mas saltem para as ruas, inundem-nas, e como ela fez, gritem ao poder, a quem for: “Agora basta!”. Do contrário nos tornaremos todos cúmplices da impunidade e do desprezo pela vida.

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