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Por que ir ao Loollapalooza no Brasil pode custar o dobro do que no Chile e na Argentina?

Promotores apontam meia-entrada como um dos vilões, embora só 40% dos ingressos sejam vendidos nessa categoria. Entradas para festival que começa dia 23 já esgotaram

Show na edição 2017 do Lollapalooza Brasil
Show na edição 2017 do Lollapalooza BrasilDivulgação
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Logo de saída, os primeiros preços divulgados para o Lollapalooza, um dos maiores festivais de música do mundo, que teve sua primeira edição na cidade de São Paulo, em 2012, superavam em mais de 300 reais o atual salário mínimo brasileiro. O preço cheio, sem descontos, para participar dos três dias de festival era de 1.300 reais. O valor, que aumenta de acordo com a venda de lotes, chegou a 2.000 reais. Apesar disso, o sucesso do evento é inegável. O Autódromo de São Paulo, local afastado do centro da cidade, tem ficado lotado ano após ano. E, desta vez, com o festival marcado entre os dias 23 e 25 de março, não foi diferente: todos os ingressos já foram vendidos.

O que está por trás de preços tão altos? E por que há uma variação grande de preço dos mesmos shows entre países vizinhos? No caso do Lollapalooza, por exemplo, o valor de três dias de evento no Chile custa algo como 1.000 reais e, na Argentina, fica por volta de 900 reais. Para o economista e organizador de eventos Carlos Martinelli, a diferença de valores e o próprio preço alto da taxa completa do festival são motivados por uma distorção causada pela obrigatoriedade da meia-entrada para estudantes. Para ele, o percentual de público beneficiado pelos ingressos com 50% aumentou drasticamente – muitas vezes pela falta de fiscalização e facilidade em obter carteirinhas de estudante –, o que levou promotores a adotarem uma “meia-entrada universal”.

“Para correr menos riscos, muitos promotores simplesmente dobram o preço do ingresso, mas passam o benefício do desconto de 50% a todos os outros clientes, usando diferentes artifícios, como ‘doação de alimento’, ‘descontos de patrocinadores’ ou ‘preços promocionais’. Em termos práticos, cobra-se metade do dobro dos ingressos”, diz Martinelli. Em outras palavras, segundo o economista, hoje a meia-entrada corresponde, na realidade, ao preço cheio do ingresso – que poucas pessoas chegam a, de fato, pagar. Seguindo essa lógica, argumenta Martinelli, o preço cobrado na edição brasileira do Lollapalooza é, na realidade, menor do que a dos países vizinhos – neste ano, o festival ofereceu desconto de 50% nos ingressos para quem comprovasse contribuição de 30 reais com o programa Criança Esperança. Mesmo com a limitação da meia-entrada para 40% do público, instituída em 2013, a lógica, segundo o economista, continuou sendo a mesma.

Para o programador de festivais Marcos Boffa, a meia-entrada causa uma distorção nos preços, mas ela não pode ser tratada como uma vilã. “É preciso criar uma política de fato para o desconto de estudantes. Se a intenção é possibilitar o acesso desse público, é preciso criar compensações, como isenção de taxas, para que os eventos se tornem viáveis para os produtores”, diz. Fabrício Nobre, do festival Bananada, de menor escala e que, ao contrário do Lollapalooza, dedica-se muito mais ao cenário musical brasileiro, concorda. “A questão é que todos passaram a conseguir carteiras de estudante e, assim, a meia-entrada acabou virando regra”, diz Nobre.

Outros motivos são apontados pelos promotores e programadores ouvidos pelo EL PAÍS, como a variação da taxa de câmbio; o custo da infraestrutura, que conta com equipamentos importados; a escassez de casas e locais apropriados para os shows. Martinelli ainda lembra que durante um período de crescimento da economia brasileira houve uma concorrência muito acirrada entre empresas promotoras de show, o que acabou por inflacionar o cachê de artistas, principalmente internacionais. “Isso pode ser considerado como responsabilidade dos promotores, mas nenhuma explicação sozinha é suficiente para explicar a questão”, diz.

Por fim, Boffa lembra que os ingressos de grandes festivais na Europa, por exemplo, apesar de terem preços menores do que os brasileiros, também não são baratos. Aí, segundo ele, entra a questão da desigualdade brasileira. O preço do ingresso, quando comparado com o salário médio da população, parece muito mais acessível, apesar de ainda ser elevado. Nobre concorda e também acrescenta a questão de oferta e demanda. Show após show, festival após festival, os ingressos continuam sendo vendidos, apesar dos preços altos. O resultado acaba sendo a elitização, cada vez maior, de eventos musicais com atrações internacionais.

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