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Fórum de Davos se reúne em São Paulo sob a sombra de Trump

Guerra comercial desatada pelo presidente dos EUA será tema de líderes políticos e empresariais que discutem as perspectivas para o continente

Xosé Hermida
Alckmin, a diretora do Fórum Econômico Mundial para a América Latina, Marissol Argueta de Barillas, e Joao Doria.
Alckmin, a diretora do Fórum Econômico Mundial para a América Latina, Marissol Argueta de Barillas, e Joao Doria.Fernando Bizerra Jr. (EFE)

A América Latina enfrenta um ano contraditório, com razoáveis perspectivas de crescimento econômico mas também com importantes incertezas no futuro imediato. Além da guerra comercial começada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o continente vai viver eleições presidenciais em seis países, dentre eles os dois gigantes da região, Brasil e México, em ambos os casos com desfecho difícil de adivinhar. Esses vão ser os grandes temas de discussão nos dois dias de sessões do Fórum  Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês), que nesta quarta e quinta-feira reúnem em São Paulo dirigentes políticos e econômicos da região.

O Brasil acolhe este ano as sessões para a América Latina do mais conhecido como Fórum de Davos, uma oportunidade para que políticos, empresários, líderes de opinião e representantes do mundo acadêmico troquem impressões sobre os rumos do continente nos próximos meses. A abertura oficial do Fórum será nesta quarta-feira com um ato no qual participarão o presidente do Brasil, Michel Temer, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o prefeito da capital paulista, João Doria. O evento chega na esteira do impacto internacional da recente decisão de Trump de impor aumentos unilaterais de tarifas para as importações de aço e alumínio. Foi a aplicação da política de “América primeiro” que o próprio presidente dos EUA já havia anunciado claramente em janeiro passado quando encerrou o debate anual do WEF na cidade suíça de Davos.

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O assunto ocupará inevitavelmente boa parte das atenções em São Paulo, entre outras razões porque o país anfitrião do Fórum é um dos mais afetados pela medida. Os EUA são o destino de um terço das exportações brasileiras de aço, setor do qual dependem 200.000 empregos diretos. O Governo de Michel Temer já manifestou sua preocupação com as consequências da medida e, embora tente encontrar uma solução diplomática, não exclui a abertura de uma batalha legal em organismos internacionais. Um dos participantes do evento em São Paulo será precisamente o diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), o brasileiro Roberto Azevedo.

A decisão de Trump acelerou o interesse de alguns países em buscar acordos comerciais alternativos. Na semana passada, as negociações do Mercosul com o Canadá foram abertas oficialmente, enquanto esse organismo tenta dar um impulso para alcançar o pacto comercial eternamente adiado com a UE. Nas últimas semanas, Temer se mostrou muito ativo nesse campo, com conversas telefônicas bilaterais com vários líderes europeus.

O Governo brasileiro se dedicou à reunião de São Paulo para prolongar o esforço que iniciou na última cúpula de Davos. Na ocasião, Temer foi aos Alpes suíços com o propósito de vender que seu país, depois dois anos de profunda recessão, encontrou o caminho para recuperar a economia. “O Brasil voltou”, foi a frase com que Temer resumiu sua mensagem em Davos. Os cálculos do Governo e de vários organismos do país indicam que o crescimento econômico em 2018 pode chegar a 3%.

Mas o Brasil também é o melhor exemplo de que o continente americano se encontra entre duas situações opostas neste ano. As boas perspectivas econômicas se chocam com uma incerteza política sem precedentes. Apesar da melhoria dos indicadores, o Governo Temer acumula enorme impopularidade e os candidatos apresentados pelos partidos que o apoiam –todos no espectro da centro-direita– aparecem, por enquanto, com muito pouco apoio nas pesquisas para as eleições presidenciais de outubro. Em todas elas o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva continua sendo o grande favorito, embora tudo indique que sua condenação judicial por corrupção o impedirá de chegar às eleições de outubro e pode até mandá-lo para a prisão nas próximas semanas. Atrás de Lula, o mais bem colocado, com cerca de 20%, é o ultradireitista Jair Bolsonaro, que tenta atrair setores econômicos com um programa liberal.

O complicado ano eleitoral na América Latina será o tema de uma das mesas-redondas. Além do Brasil, a incerteza sobre o resultado final também é muito grande no México, com o esquerdista Andrés Manuel López Obrador à frente nas pesquisas, e em outros países como a Colômbia.

Nas sessões do fórum não faltarão outros assuntos mais recentes, como a corrupção, depois dos escândalos que nos últimos meses atingiram vários países, com a construtora brasileira Odebrecht como grande protagonista. A presidenta do Supremo Tribunal Federal (STF), Cármen Lúcia, participará numa mesa redonda sobre esse tema. Fora da esfera estritamente econômica haverá também debates sobre, por exemplo, o assédio sexual ou as fake news, com um debate mediado pelo diretor-adjunto do EL PAÍS, David Alandete.

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