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Coluna
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Maia, novidade política ou acólito do cardeal Temer?

Desde o primeiro momento, o deputado sonhou herdar o manto púrpura de seu cardeal oferecendo-lhe lealdade com uma mão e conspirando politicamente com a outra

Juan Arias
Rodrigo Maia durante o lançamento de sua pré-candidatura no dia 8 de março
Rodrigo Maia durante o lançamento de sua pré-candidatura no dia 8 de março SERGIO LIMA (AFP)
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Que o jovem deputado Rodrigo Maia se apresente, ele e seu partido, o DEM, como a novidade da política nessas eleições soa cômico. É tamanho hoje o afã pelo surgimento de atores diferentes que se chega ao extremo de confundir um acólito com um cardeal. Quem acompanhou a trajetória meteórica de Maia à sombra do polêmico governo Temer após o impeachment de Dilma, não deixará de ver que sua força política se fortaleceu à sombra das vicissitudes do “vampiro”, sem as quais hoje não teria a visibilidade de que goza.

Quando Maia renega hoje ser o candidato da era Temer, como se nunca o houvesse conhecido, se esquece que passará à História como seu acólito fiel, a quem ajudou a salvar duas vezes no Congresso e que lutou para aprovar as polêmicas medidas econômicas de seu Governo. Quantas vezes se encontraram a sós? Quantos juramentos de fidelidade a Temer existem em sua biografia? Maia se distanciava de Temer à medida que esse desabava nos índices de popularidade, enquanto tentava apropriar-se de suas conquistas econômicas. Até a vendedora do mercado da esquina sabe que, desde o primeiro momento, o jovem acólito sonhou herdar o manto púrpura de seu cardeal oferecendo-lhe lealdade com uma mão e conspirando politicamente com a outra.

Seu pai foi muito mais lúcido. César Maia, veterano cardeal da política, que já foi de esquerda e esteve no exílio, é um bom observador e analista político. Viu que o filho quis correr muito e deve ter temido que acabasse tropeçando na cauda da capa cardinalícia de Temer. Aconselhou Rodrigo que moderasse suas ambições, que esperasse amadurecerem, já que a pressa, e ainda mais na política, nunca é boa conselheira.

Tarde demais. O filho já havia matado freudianamente seu pai legítimo assim como o adotivo. Pode ser que sua aposta arriscada de se disfarçar de nova política e renegar Temer leve-o à vitória. A não ser que tropece com alguém de maior astúcia política do que a sua que queime suas asas antes de poder voar ao Planalto.

Querer passar tão rapidamente da fidelidade quase religiosa ao cardeal Temer a quase ignorar que o conheceu e menos ainda que o salvou, ele que é católico, deveria fazê-lo se lembrar das negações de Pedro na noite em que Jesus foi preso no jardim de Getsêmani. Aos que o reconheceram como um dos seus, Pedro chegou a responder por três vezes: “Eu não conheço esse homem”. Ao jovem Maia, que se disfarçou com as vestimentas da nova política, só falta dizer: Quem é Temer? Por acaso o conheço?

Já que não lhe faltam qualidades, é melhor que escute seu pai e siga o sábio ditado italiano: Chi va piano va lontano (devagar se vai ao longe). Os tropeços, por querer correr demais, podem acabar quebrando até as pretensões políticas mais legítimas. As frutas mais saborosas são as que temos a paciência de esperar amadurecer na árvore.

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