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Troca de comando na PF: uma posse talhada para enviar mensagem política

“A sorte está lançada”, diz ex-chefe da corporação ao se despedir. Sucessor, discreto, promete reforço da Lava Jato e foge da imprensa

Os delegados Fernando Segovia e Rogério Galloro.
Os delegados Fernando Segovia e Rogério Galloro.UESLEI MARCELINO (REUTERS)

O delegado Fernando Segovia caiu da direção-geral da Polícia Federal por falar demais. Nesta sexta-feira, ao transmitir o cargo para seu sucessor, Rogério Galloro, decidiu discursar com grandiloquência: “A sorte está lançada”. A referência feita em latim (Alea jacta est) foi proferida no ano 49 antes de Cristo pelo general romano Júlio Cesar momentos após ele atravessar o rio Rubicão com sua tropa e iniciar a série de batalhas que o levaram ao cargo de imperador de Roma. Não se sabe se Segovia apenas fazia uma referência erudita ao seu próximo posto - nos próximos dias o ex-diretor será lotado na embaixada do Brasil em Roma, na Itália, como adido de segurança - ou se queria enviar um recado à corporação, que terá de levar adiante investigações contra políticos, entre eles o próprio presidente Michel Temer, em em pleno ano eleitoral.

Segovia deixa o comando da PF magoado. Desde o seu primeiro dia na direção-geral (em 20 de novembro do ano passado) defendeu com unhas e dentes seus padrinhos políticos do MDB. Disse, por exemplo que apenas uma mala com 500.000 reais em propina, carregada pelo ex-deputado Rodrigo Rocha Loures (MDB), não era suficiente para se comprovar o crime de corrupção Delito pelo qual o presidente Michel Temer (MDB) fora denunciado pelo Ministério Público Federal. Neste ano, foi proibido pelo Supremo Tribunal Federal de se posicionar sobre inquéritos em andamento. A razão da proibição foi uma entrevista que ele concedeu à agência Reuters na qual indicou que uma outra investigação contra o presidente poderia ser engavetada por falta de provas.

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Em seu discurso de despedida, as negativas que Segovia proferiu pareciam mais confirmações do que veio à tona nos últimos dias. “Ao contrário do que a imprensa e algumas pessoas pensam, sempre nos demos muito bem”, afirmou em relação ao ministro da Justiça, Torquato Jardim. O ex-diretor não era o preferido para ocupar o cargo. Galloro era o favorito de Torquato, mas a influência de dois figurões do MDB – o ex-presidente José Sarney e o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha – garantiram a posse de Segovia.

Sem políticos e sem entrevista

O apoio político de Segovia foi claramente notado na ocasião de sua posse, no ano passado. Na plateia estavam o presidente Temer, o presidente do Congresso Nacional, Eunício Oliveira (MDB), o vice-presidente do STF, Dias Toffoli, além de um séquito de deputados e senadores. Na de Galloro, nesta sexta-feira, quase não se via parlamentares. O presidente não foi. E o único representante do poder Judiciário era Herman Benjamin, um ministro do Superior Tribunal de Justiça sem cargo de direção do órgão.

Agora, com a queda de seu antigo defensor, Temer se viu obrigado a uma escolha mais discreta. Após assinar seu termo de posse, Galloro fez um discurso protocolar. Garantiu que a operação Lava Jato “continua forte”. Comprometeu-se também a reforçar o grupo de delegados e agentes que atuam nos 150 inquéritos contra políticos que tramitam no Supremo Tribunal Federal. E reforçou que o crime não vencerá.

Ao contrário do ex-diretor, o atual decidiu não conceder entrevista coletiva em seu primeiro dia no cargo. Literalmente, fugiu da imprensa ao deixar o salão pelo lado oposto ao que estavam repórteres, fotógrafos e cinegrafistas. “Está escaldado”, disse um policial que conhece as disputas internas de sua corporação. Na PF, há quem diga que a lei do silêncio deverá imperar e as informações só chegarão após as investigações estarem concluídas ou encorpadas. A gestão de Galloro deverá ser similar a de Leandro Daiello Coimbra, o mais longevo diretor-geral que ficou sete anos na função, antes de deixá-la no fim de 2017.

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