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Lula durante ato em São Paulo: “Quero avisar a elite que espere, porque nós vamos voltar”

Apoiadores do ex-presidente se reuniram na praça da República e caminharam até a Paulista. Horas antes, movimentos de direita também fizeram ato na principal via da cidade

Ex-presidente Lula discursa nesta quarta-feira, em São Paulo.
Ex-presidente Lula discursa nesta quarta-feira, em São Paulo.STRINGER (REUTERS)

Enquanto os três desembargadores do Tribunal Regional Federal 4 (TRF-4) ainda terminavam de julgar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Porto Alegre, por volta das 17h uma multidão se aglomerava na praça da República, no centro de São Paulo, para um ato em defesa do petista, organizado pela Frente Povo Sem Medo. Também esperavam o máximo líder da esquerda brasileira fazer um discurso depois de ter sido condenado por unanimidade em segunda instância, o que complicou suas chances de concorrer à Presidência da República em outubro. Três horas depois, por volta das 20h, o ex-presidente subiu no palanque e, passados mais uns minutos, finalmente discursou:  "Quero avisar a elite brasileira que esperem. Esperem porque vamos voltar"

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O ex-presidente, que aparentava estar cansado e emocionado, discursou durante cerca de meia hora diante de milhares de simpatizantes e militantes de partidos e movimentos sociais — até o fechamento desta reportagem não havia uma estimativa da Polícia Militar ou dos organizadores sobre quantos eram.  "Esse ato é infinitamente maior que um ato de eleição. Esse é um ato de defesa da soberania nacional", começou. Sobre a sentença do TRF-4, que acabou aumentando sua pena para 12 anos e um mês, disse: "A decisão eu até respeito, que é deles. O que eu não aceito é a mentira que fizeram eles tomarem essa decisão". Ele garantiu, mais uma vez, ter sido condenado por um apartamento que não é dele. "E se é meu, o Boulos poderia até mandar alguém então ocupar aquele apartamento. Que ocupem!".

O petista disse ainda acreditar que "tudo o que eles estão fazendo" é para que ele não seja candidato. "Eu quero disputar com eles a consciência do povo brasileiro. Se apresentarem meu crime, desisto da candidatura. Quero desafiar os três juízes que me condenaram que apresentem algum crime que eu tenha cometido", discursou.

Cercado de dirigentes sindicais e apoiadores como o líder do MTST Guilherme Boulos, a presidenta do PT Gleisi Hoffmann e deputados como Maria do Rosário, Zeca Dirceu, Benedita da Silva, Jandira Feghali, Arlindo Chinaglia, entre outros, o ex-presidente argumentou ainda que "houve um pacto entre o Poder Judiciário e a imprensa para acabar" com os governos petistas no país.

"Quero que vocês saibam que quem está no banco dos réus é o Lula, mas quem foi condenado é o povo brasileiro", acrescentou em outro momento. "Eles podem prender o Lula, mas eles não podem prender a esperança, não podem prender as ideias. E as ideias já estão na cabeça da sociedade brasileira", disse. "As pessoas não querem coisas de segunda. As pessoas já viram que é gostoso ter carro, ter casa com televisão e computador... As pessoas querem ter as mesmas oportunidades que eles".

Depois do discurso de Lula, os manifestantes começaram a caminhar em direção a Avenida Paulista, escoltados pela Polícia Militar. Inicialmente não havia autorização para que fossem para a principal via da cidade, mas os partidários de Lula puderam marchar sem incidentes.

"Quem agora vai ser o próximo presidente?"

Durante o ato, os amigos Sebastião Almeida, de 60 anos, e Donizete Fernandes, 54, relembravam de seus primeiros anos de militância. Para eles, a condenação de Lula vai contra "um projeto" de Brasil. "A condenação não é uma surpresa, pela linha de conduta desde 2014 do judiciário. Era pra chegar nessa situação", diz Sebastião. "Existe um projeto não só pra inviabilizar a candidatura de Lula, mas para inviabilizar um projeto de país que a elite nunca aceitou. Lula sintetiza isso", acrescenta. Já Donizete argumenta: "Nossa democracia é muito verde, muito nova. O que está havendo é um ataque da mídia e da elite. É só ver o presidente que temos agora".

Já artista plástica Simone Ishizuka, de 30 anos, considera a condenação de Lula um "atentado contra a democracia", uma vez que afasta o petista de sua candidatura a presidência. "Acho que Moro não apresentou provas o suficiente. Pode ser que Lula de fato seja culpado, mas o processo é totalmente político. Eles estão condenando mais do que deveria", diz ela.

Após o discurso do ex-presidente, enquanto seus partidários já marchavam em direção à Avenida Paulista, a desempregada Adriana Pinto Conceição, de 31 anos, resumiu tudo o que está acontecendo da seguinte maneira: "É uma falta de noção". Para ela, durante o Governo Lula "a gente tinha escola, faculdade, mas depois que ele saiu tudo decaiu". Mesmo durante o Governo de Dilma Rousseff, ela diz. "A condenação não foi boa porque agora quem vai ser o próximo presidente? Um igual ao Temer, para o Brasil se afundar ainda mais", questiona ela, que está em uma ocupação do MTST em Guarulhos e levou seu filho Eric, de apenas 9 meses, para o grande ato.

Manifestação da direita

Mais cedo, a avenida Paulista estava ocupada por pessoas que torciam pela prisão de Lula e que atenderam ao chamado dos movimentos de direita para celebrar o veredito do TRF-4. Além de erguer um Pixuleco gigante em frente ao Museu de Arte de São Paulo (MASP), representantes do MBL, Nas Ruas e Revoltados Online instalaram dois carros de som para incentivar um buzinaço aos motoristas que passavam por ali, e convocar uma manifestação apoiando os magistrados do tribunal. Em determinado momento conseguiram preencher uma das pistas da avenida, no quarteirão do Masp. Algumas pessoas foram com as tradicionais camisetas do Brasil, outras empunhavam bandeiras do Brasil, pixulecos comprados a 10 reais, e cartazes pedindo “Lula na cadeia”.

Diferentemente de outros anos, os manifestantes podiam ser contados às dezenas, e não aos milhares como nos atos de 2015 e 2016 pelo impeachment de Dilma Rousseff convocados pelos mesmos movimentos. “Esperamos que o brasileiro venha para as ruas mesmo se manifestar contra todos os corruptos”, disse Wagner Brambilla, ator de 40 anos que esteve hoje na avenida, e acompanhava os votos dos magistrados.

Brambilla, que vestia uma camiseta amarela, entendia como corruptos não só o ex-presidente petista, mas também o presidente Michel Temer – “é protegido pela bancada Boi, Bíblia e Bala, queixou-se” –, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e boa parte do Congresso. “Precisamos de renovação”, disse ele, que quer votar em Álvaro Dias para presidente.

Eleitores de Jair Bolsonaro e até de Levy Fidelix também marcaram presença no ato. “Precisamos renovar diante de tudo que está aí”, dizia Jociel, residente na Zona Leste da cidade, vestindo uma camiseta de Bolsonaro. Do alto de um carro de som, o vereador Fernando Holiday tentava empolgar a plateia. “Hoje, diante da Justiça, nós provamos que Lula é um bandido e chefe de quadrilha que vai parar na cadeia”, gritava ele ao microfone. Quando o julgamento no TRF-4 já encaminhava suas considerações finais, um grupo abriu uma bandeira gigante com a inscrição “Lula na cadeia”, que tomou um bom pedaço do quarteirão. “Esperei tanto por isso”, dizia uma das mulheres que estendia o tecido verde.

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