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“Não quero meu sobrinho nas redes sociais”, diz Tim Cook, CEO da Apple

Executivo-chefe mostra sua preocupação com abuso da tecnologia entre os jovens

Tim Cook, CEO da Apple, durante uma recente visita a Reno (Nevada).
Tim Cook, CEO da Apple, durante uma recente visita a Reno (Nevada).Andy Barron (AP)

Tim Cook, CEO da Apple, quer colocar limites às crianças no uso da tecnologia, embora, teoricamente, isso vá contra os interesses de sua empresa, na qual a educação e design são parte de suas estratégias-chave. “Não acredito no uso excessivo da tecnologia. Eu não sou daqueles que acreditam que você será bem-sucedido usando-a o tempo todo”, disse neste fim de semana durante uma visita ao Harlow College, em Essex, um dos 70 centros educacionais da Europa que adotará o programa da Apple para aprender a programar dentro do seu plano de ensino.

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O executivo-chefe não concorda que o uso de dispositivos seja algo necessário em todas as matérias: “Há conceitos que são mais bem explicados por meio do diálogo. A tecnologia faz falta na literatura? Provavelmente não”. O sucessor de Steve Jobs foi mais longe: “Eu não tenho filhos, mas tenho um sobrinho [de 12 anos] a quem coloco alguns limites. Por exemplo, não quero vê-lo nas redes sociais”.

Cook enfatizou seu interesse na difusão da programação como motor social de mudança e linguagem necessária para o futuro, mas ele não a vê tanto como uma opção de lazer para os jovens. Junto com a Fundação Malala, a Apple criou um sistema de bolsas para meninas do ensino médio. Na opinião de Cook, a educação é uma grande força de equalização.

Esse novo programa oferece um iPad para cada aluno com conteúdo e ferramentas para aprender a programar. “Se eu tivesse que escolher, acho mais importante aprender programação do que aprender uma língua estrangeira. Sei que muita gente não concorda com isso, mas a programação é uma linguagem universal com a qual se pode alcançar mais de 7 bilhões de pessoas”, disse durante a reunião.

Nick Bilton, jornalista e autor de Hatching Twitter, a história romanceada sobre a fundação da rede social, diz que Evan Williams, um dos fundadores do Twitter, mantém os dois filhos longe das telas sensíveis ao toque e limita o tempo de televisão. Uma tendência cada vez mais forte em Silicon Valley. O próprio Steve Jobs, fundador da Apple, era um defensor dessas medidas. O mesmo vale para Bill Gates, fundador da Microsoft.

A experimentação é uma das máximas dessa capital tecnológica, desde a primeira infância se acredita que é uma das fórmulas para ter sucesso no futuro. Os líderes do setor disputam vagas nas escolas infantis que seguem o método Montessori, com o qual cresceram os dois fundadores do Google.

Outra voz autorizada em Silicon Valley, a de Chamath Palihapitiya, um dos primeiros diretores do Facebook, responsável por sua rápida implementação, advertiu sobre o vício que provocam em uma entrevista recente ao portal CNBC: “Eles que se virem, que saiam às ruas e ralem os joelhos, que caiam, que joguem, que percam, e depois venham me ver para me contar e possamos falar como seres humanos racionais: assim eu poderei dizer-lhes por que é bom ter essas experiências”. Palihapitiya dirige um fundo de investimento de 2,6 bilhões de dólares (cerca de 8,4 bilhões de reais) em Palo Alto, a cidade mais seleta de Silicon Valley. “Nem iPad, iPhone ou computador. Em casa, não há tempo para telas”, diz esse pai de três filhos. “Quero que eles fiquem com os amigos. Ocasionalmente, vemos um filme”, acrescenta.

Embora o dano que possa ser causado pelo uso de dispositivos eletrônicos em idades precoces ainda não esteja claro, começam a se multiplicar estudos que tentam medir seu impacto na capacidade de concentração.

A Apple é a empresa que está recebendo a maior pressão. Jana Partners – e um grupo de professores aposentados do estado da Califórnia –, enviou uma carta à empresa pedindo que seus produtos fossem mais seguros para os jovens. “Comprovamos nossa sensação e temos evidências para pensar que a Apple deve propor aos pais mais opções e ferramentas para garantir que esses jovens consumidores usem seus produtos da melhor maneira”, diz a carta.

Em dezembro, um estudo da Universidade de Michigan apontou na mesma direção. A pesquisadora responsável pelo estudo acredita que o abuso das telas sensíveis ao toque é um vetor de problemas de socialização. “Ainda não está claro quanto tempo é considerado normal, saudável ou prejudicial, mas demonstramos que causa problemas em alguns aspectos da vida normal, torna-se vida dedicada apenas ao consumo”, diz Sarah Domoff, psicóloga infantil dessa universidade.

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