Por que na Alemanha você pode conseguir um bom emprego sem ir à universidade
País germânico, Suíça e Holanda são referências do modelo de formação profissional que combina estudos com trabalho
Nas escolas alemãs, quando os alunos têm entre 13 e 15 anos, são informados de que a Universidade não é a única opção. Uma série de professores formados em Formação Profissional Dual e com presença em todos os centros conta a eles que, com esse programa poderão ganhar cerca de 800 euros por mês enquanto estudam e que 68% deles conseguirá um contrato no final da formação, que dura entre dois e três anos. No ano letivo 2016-2017, um total de 520.000 estudantes optaram pela FP Dual na Alemanha e 80.600 ficaram sem vaga, 13% dos candidatos. Desde que o modelo foi introduzido em 1969, 50% da força de trabalho foi formada na FP Dual.
“O nível de envolvimento das empresas é enorme, elas se preocupam com a evolução do aluno e com as notas obtidas, porque na maioria dos casos serão contratados por elas”, explica Beate Gröblinghoff, diretora do Instituto de Formação Profissional de Hamburgo. Em algumas empresas, o tipo de contrato que será oferecido ao formado vai depender diretamente da nota obtida no exame final. Contrato de um ano, fixo ou por tempo indeterminado. O Governo alemão reconhece que esse sistema é a chave para que a taxa de desemprego entre os jovens esteja abaixo de 7% na Alemanha. “Dá a eles as ferramentas para se encaixar no mercado: combinam com perfeição os conhecimentos teóricos com a experiência prática”, diz Gröblinghoff.
Ao contrário do que acontece na Espanha, são os estudantes alemães que entram em contato com as empresas para que saibam que gostariam de se formar lá. Para isso, investigam quais empresas de sua região geográfica participam do programa e tentam descobrir as que mais se encaixam em seus interesses. Se as empresas os escolhem em uma pré-seleção, vão até o escritório para se submeter a uma entrevista pessoal. Quando têm o sim definitivo, formalizam a matrícula no centro de estudos. “As empresas escolhem os alunos com um processo semelhante a uma seleção de emprego, de modo que existe um ajuste perfeito entre o número de aprendizes que serão formados e a demanda real do mercado de trabalho”, salienta Gröblinghoff. Em 75% dos casos, é o aluno que busca a vaga na empresa, o resto é ajudado pelos serviços públicos de emprego.
A participação das empresas alemãs no sistema de formação dual chega a 21% e mais de meio milhão de novos aprendizes são treinados a cada ano, de acordo com dados do Escritório Federal de Estatísticas da Alemanha. Os estudantes podem escolher entre 327 profissões e o investimento médio das empresas em cada um é de 18.000 euros por ano. As câmaras de comércio definem as competências necessárias para cada profissão, desenvolvem as provas comuns em nível estadual, controlam a qualidade da formação recebida e certificam as empresas formadoras.
María Guardia, catalã de 31 anos, foi para Hamburgo há quatro anos para estudar seguros e finanças. Licenciada em Economia, estava há vários anos vivendo de bolsas de estudo, nenhuma por mais de seis meses. Ficou sabendo através da Câmara de Comércio de Barcelona que a empresa de seguros alemã HanseMerkur estava procurando estudantes europeus para incorporar no programa de FP Dual. Foi selecionada com um nível B1 de alemão. “Não dominava bem a língua, e me pagaram aulas de alemão”, conta. A principal diferença com o sistema espanhol, garante Guardia, é que sentia que a empresa pagava para que ela estudasse e fosse para a aula. “Pediam explicações se fosse mal em uma prova. No final do programa eles me contrataram.” Agora ganha mais de 2.000 euros por mês.
A Suíça é outro país de referência quanto ao sucesso do modelo dual. A participação das empresas é de 30% na formação de aprendizes e todos os governos regionais (os chamados cantões) promovem o sistema, afirmam na Aliança para a Formação Dual. Dois terços dos estudantes suíços escolhem um dos 250 títulos disponíveis em cada curso. As empresas participam na criação de conteúdo e programas acadêmicos. Como na Alemanha, são os próprios estudantes que procuram a empresa antes de se matricular no centro e o salário pago durante a formação vai de 1.000 a 1.500 euros por mês, dos quais os cantões subsidiam cerca de 25%.
Na Holanda, a FP também está bem estabelecida e 40% de sua força de trabalho é formada nesse modelo. Entre os alunos de FP, 55% optam por um itinerário dual, com uma duração que varia de seis meses a quatro anos. O salário dos aprendizes é regulado pelos setores profissionais através de acordos coletivos. Um estudante não recebe o mesmo em uma empresa mecânica que em uma de construção.
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