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A jovem negra que faz história na academia militar mais famosa dos EUA

Simone Askew é primeira mulher negra a chegar à posição mais alta do corpo de cadetes de West Point

Amanda Mars
Simone Askew
Simone AskewAFP

É uma tradição dos Estados Unidos: todo ano é disputado um jogo de futebol americano entre as academias militares do Exército e da Marinha, um clássico de rivalidade máxima, um Super Bowl militar com seu espetáculo prévio regulamentar: paraquedistas, desfiles e bandeiras. Neste ano, quem passou em revista a tropa de cadetes da lendária academia de West Point e a guiou até o gramado foi Simone Askew, a primeira capitã, primeira também em algo mais: nunca uma mulher afro-americana tinha ocupado a mais alta posição estudantil de West Point.

Askew, de 21 anos recém-completados, transformou-se na primeira mulher negra nomeada primeira capitã dos 4.400 cadetes de West Point em agosto, um posto de prestígio que já foi ocupado por militares muito reconhecidos nos Estados Unidos. O desfile prévio ao jogo de sábado foi a primeira grande exibição dessa barreira rompida pela garota para sua raça e seu gênero. Foi no estádio Lincoln Financial da Filadélfia, em um acontecimento que a jovem estava acostumada a acompanhar com devoção quando era criança. “Nunca tinha visto algo assim e perguntei à minha mãe como poderia ficar à frente de algo assim algum dia”, contou a cadete na semana passada ao jornal The Washington Post. “É surreal ver tudo que aconteceu comigo neste semestre”, acrescentou.

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A primeira capitã desta turma de West Point é filha de mãe solteira. Pam Askew costumava levar sua filha aos jogos de futebol americano das Forças Armadas, inscrevia a garota nos acampamentos do verão nas academias do Exército e da Marinha e acompanhava religiosamente com ela o grande jogo anual. Em seus olhos de menina, era a máxima expressão do esplendor militar e da camaradagem. Em seus olhos de adulta, pelo que contou nos últimos dias à imprensa dos EUA, também.

O duelo, que no sábado foi vencido pela Marinha, é uma tradição de mais de 100 anos que une dois elementos essenciais no patriotismo americano: o principal esporte do país, juntamente com o beisebol, e as Forças Armadas. No ano passado, depois de 14 anos engolindo derrotas, o Exército venceu pela primeira vez no estádio de Baltimore. No primeiro quarto, marcou presença o então presidente eleito, um ufanista Donald Trump, que triunfara nas eleições apenas um mês antes.

Simone Askew se transformou na primeira capitã 37 anos depois que uma mulher negra se formou pela primeira vez em West Point − Pat Walter Locke, que se aposentou como major de artilharia do Exército em 1995. O primeiro homem negro se formou em 1877, chamava-se Henry Ossian Flipper e tinha sido escravo. A academia começou como um posto defensivo crucial durante a Guerra da Independência e seus primeiros cadetes se formaram em 1802.

Na semana passada, em uma entrevista ao programa da CBS This Morning, Simone Askew tentava se esquecer de sua condição de pioneira: “Meu objetivo agora é me concentrar muito para ser a melhor primeira capitã que puder, independentemente de meu gênero ou de minha raça, e para que quando a turma se formar, em maio, eu seja lembrada como uma boa líder, não necessariamente como uma boa líder mulher afro-americana”. 

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