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Tensão aumenta em Honduras e Governo decreta toque de recolher

Terceiro dia de distúrbios na rua enquanto continua a polêmica contagem das eleições com vantagem para o atual presidente

Jacobo García
Manifestantes entraram em confronto com a policia nesta sexta-feira, em Tegucigalpa.
Manifestantes entraram em confronto com a policia nesta sexta-feira, em Tegucigalpa.Gustavo Amador

Mais de sete anos depois do golpe de Estado que tirou do poder Manuel Zelaya– o presidente chavista que burlou a lei para tentar a reeleição –, Honduras vive novamente uma grave crise política e social. Protestos ocorrem há dias em Tegucigalpa, a capital do país, enquanto continua a contagem das eleições presidenciais do domingo passado. Segundo os organizadores das manifestações, os distúrbios já teriam deixado três mortos e uma dezena de feridos.

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Na sexta-feira, novos incidentes ocorreram em vários pontos da cidade e nas imediações do Instituto de Formação Profissional, transformado em uma fortaleza onde são recebidas e vigiadas as cédulas eleitorais. O Governo decretou um toque de recolher de 10 dias, com efeito desde a noite da sexta-feira.

Há dois dias, o ex-presidente Zelaya fez uma aparição no Instituto junto a dezenas de simpatizantes, aos gritos de “Fora JOH, fora JOH" contra o atual presidente, Juan Orlando Hernández. A polícia respondeu com gás lacrimogênio. O órgão eleitoral afirmou que esses distúrbios “poderiam terminar com a eleição”. Com mais de 94,3% dos votos contados, o Tribunal se prepara para confirmar a vitória de Hernández, do Partido Nacional, por 46.000 votos de diferença para o segundo colocado, o esquerdista Salvador Nasralla – em um universo de 2,6 milhões de votos recebidos. Com isso, Hernández voltaria a mais quatro anos de mandato, apesar de a reeleição ser proibida pela Constituição hondurenha.

A atenção se concentra agora em outras 1.030 cédulas – 5,7% do total – sobre as quais há dúvidas ou inconsistências. Nasralla, no entanto, insiste que o verdadeiro número de votos que o favorecem e que não foram contabilizados é de mais de 5.000. Ainda que até o momento não tenha se confirmado a fraude denunciada pelo candidato de oposição, a lenta contagem realizada pelo Tribunal Eleitoral serviu de combustível para a desconfiança. Se há quatro anos o resultado das eleições presidenciais foi conhecido apenas algumas horas depois do fim da votação, desta vez foram necessários cinco dias. Para por mais lenha na fogueira das suspeitas, houve um estranho apagão informático na última quarta-feira, que para muitos lembrou a fraude de 1988 no México, quando Carlos Salinas ganhou as eleições contra Cuauhtémoc Cardenas.

Em uma sequência de fatos similares, na terça-feira, Nasralla tinha mais votos que Hernández, mas quando a eletricidade voltou, o atual presidente vencia com milhares de votos à frente. O Tribunal Eleitoral hondurenho é formado por quatro membros. Nenhum deles é do partido de Hernández, nem mesmo o presidente do órgão, David Matamoros, nomeado pelo governo. Os demais membros foram designados por partidos como o Liberal e o Democrata-Cristão, que conseguiram apenas um punhado de votos nas últimas eleições. Até o momento, tanto a Organização dos Estados Americanos (OEA) como a União Europeia (UE) endossaram a jornada eleitoral como válida, mas pediram transparência na contagem para evitar a violência e uma maior divisão em um país que ainda não curou as feridas de sete anos atrás.

Nasralla, um popular apresentador de televisão que se declara “apolítico” e cujo principal mérito foi utilizar seu horário eleitoral para denunciar a corrupção do atual governo e se unir a Zelaya, se disse incapaz de conter seu eleitores nas ruas.“Posso fazer um chamado pela paz hoje, mas não posso responder sobre as manifestações em massa de meus simpatizantes. Isso é impossível”.

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