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Após queda de braço com Disney, diretoria do ‘Los Angeles Times’ é demitida

Em represália a publicação de uma reportagem, o estúdio chegou a deixar o jornal fora de suas pré-estreias, mas voltou atrás em meio a uma onda de solidariedade da imprensa

P. X. Sandoval
Fotograma de 'Thor: Ragnarok', a estreia mais recente da Disney.
Fotograma de 'Thor: Ragnarok', a estreia mais recente da Disney.AP
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Toda a direção do Los Angeles Times, tradicional jornal norte-americano, foi trocada de surpresa, em 21 de agosto, após uma investigação sobre as práticas da Disney em uma pequena cidade da Califórnia. A tensão entre o gigante do entretenimento e o jornal começou no final de setembro, quando uma reportagem do Times questionou a influência da Disney na política e na economia de Anaheim, uma cidade de 350.000 habitantes onde fica a Disneylândia, um dos pilares econômicos da região.

Em represália, a Disney chegou a vetar os jornalistas do Los Angeles Times em suas pré-estreias, mas voltou atrás, em meio a uma onda de solidariedade da imprensa no país. Os jornais The New Times e The Washington Post anunciaram que não compareceriam às projeções da Disney, e as associações de críticos dos Estados Unidos ameaçaram boicotar os filmes da companhia em solidariedade ao matutino de Los Angeles.

Na sexta-feira passada, o Times publicou uma carta aos leitores, junto com seu habitual suplemento de estreias, explicando que não havia podido ver Thor: Ragnarok porque a Disney tinha vetado seu crítico no credenciamento da imprensa. O Times também afirmou que a Disney decidira vetá-lo nas pré-estreias porque considerava injusta a matéria sobre Anaheim. O jornal continuaria cobrindo as estreias, mas somente quando pudesse assistir aos longas nas salas de cinema.

Em comunicado à imprensa, a Disney confirmou que se tratava de uma represália. O Times “mostrou um total desprezo pelos padrões básicos do jornalismo”, dizia a nota. “Embora tenhamos fornecido numerosos dados indiscutíveis ao jornalista, a vários editores e ao dono da publicação durante meses, o Times continuou com uma série parcial e incorreta, totalmente guiada por questões políticas.”

Em questão de horas, o veto esbarrou na solidariedade de conhecidos jornalistas do mundo do espetáculo e fora dele. A crítica de cultura pop do The Washington Post, Alyssa Rosenberg, escreveu numa coluna que não voltaria a ver nenhuma pré-estreia da Disney até que acabasse o veto. Na manhã de terça, o The New York Times publicou um comunicado unindo-se ao boicote: “Quando uma companhia poderosa castiga um meio de comunicação por uma reportagem que não lhe agrada, faz isso para gerar medo. Este é um precedente perigoso, que de nenhum modo beneficia o público.”

Ainda na terça, as principais organizações de críticos dos EUA aderiram ao boicote contra a Disney. A Associação de Críticos de Los Angeles, o Circuito de Críticos de Nova York, a Sociedade de Críticos de Cinema de Boston e a Sociedade Nacional de Críticos de Cinema publicaram um comunicado conjunto contra o veto. E anunciaram que os filmes da Disney não seriam considerados em seus votos nos prêmios no final do ano. Pouco depois, a Associação de Críticos de Televisão aderiu ao boicote.

As críticas à Disney cresceram também nas redes sociais durante o fim de semana. Jake Tapper, apresentador da CNN, publicou um tuíte anunciando que havia feito uma assinatura do Times em solidariedade pela represália. Por volta do meio-dia de terça, a Disney anunciou que retirava o veto contra o jornal. “Tivemos conversas produtivas com a nova liderança do Los Angeles Times sobre nossas preocupações e, como resultado, decidimos permitir novamente o acesso de seus críticos às pré-estreias.”

Na última sexta, em plena comoção nas redes sociais após o veto, o editor de tecnologia do Times, Ben Muessing, informou no Twitter que a matéria mais vista do dia no jornal havia sido exatamente a sobre Anaheim. O Los Angeles Times nunca se retratou.

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