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Cientistas encontram câmara vazia dentro da maior pirâmide do Egito

Espaço desconhecido foi encontrado na pirâmide de Queóps, no Egito, através de técnicas não invasivas

Nuño Domínguez
Imagem ilustrativa da pirâmide de Quéops
Imagem ilustrativa da pirâmide de QuéopsScanPyramids
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A cada minuto, centenas de partículas elementares atravessam nosso cérebro sem causar danos. São os múons, produzidos quando os raios cósmicos se chocam contra os átomos nas camadas externas da atmosfera e que caem em milhões sobre a Terra. Uma equipe internacional de cientistas usou esse fluxo constante de partículas com a mesma carga que os elétrons, mas cerca de 200 vezes mais pesadas, para fazer uma espécie de radiografia no interior da Grande Pirâmide de Quéops, em Gizé (Egito). Isso permitiu descobrir um "grande espaço vazio" que ficou escondido atrás das grossas paredes da edificação.

Construída por ordem do faraó Khufu — que reinou entre 2.509 e 2.483 a.C. —, a pirâmide tem 139 metros de altura e, durante mais de três milênios, foi a construção mais alta do planeta. Mesmo hoje, não há consenso sobre como foi construída, nem se sabe se há câmaras a serem descobertas em seu interior. Os turistas entram na pirâmide através de um túnel escavado no nível do solo no ano 820, na época do califa Almamune, que permite o acesso às suas três câmaras: a subterrânea, a da rainha e a do rei, estas duas últimas conectadas pela Grande Galeria, uma passagem de 46 metros de comprimento e quase 9 metros de altura. Desde o século XIX, nenhuma nova câmara havia sido descoberta, embora existam indícios arquitetônicos de que poderia haver mais, especialmente grandes blocos em forma de cunha na face norte, que poderiam ser o telhado de um corredor ou uma grande sala.

Em 2015, o Governo egípcio lançou um projeto de pesquisa para explorar o interior do monumento com técnicas não invasivas. Três equipes de físicos do Japão e da França instalaram vários detectores de múons na pirâmide, dois deles dentro e um fora. A pedra absorve parte dos múons que caem do céu, por isso sua concentração é maior nessa área, onde há menos densidade, especialmente em espaços vazios. Os três sistemas de detecção identificaram corretamente as três câmaras e galerias conhecidas, mas também mostraram uma concentração de múons a 21 metros acima do solo, concentrados em um "grande vácuo" com mais de 30 metros de comprimento e com volume, altura e largura semelhantes à Grande Galeria. Os resultados dos três detectores, instalados por físicos da Universidade de Nagoya e do laboratório KEK, do Japão, e da Comissão de Energias Alternativas e Energia Atômica da França, fazem parte de um projeto conhecido como ScanPyramids e foram publicados nesta quinta-feira na revista científica Nature.

A nova estrutura descoberta ainda é um mistério

A nova estrutura descoberta ainda é um mistério. "É preciso considerar muitas hipóteses arquitetônicas. O grande vácuo pode estar composto de uma ou várias câmaras contíguas e ser inclinado ou plano", explicam os autores do estudo. Os pesquisadores seguiram o rastro deixado por Luis Álvarez, um físico norte-americano de avô espanhol. Em 1970, este cientista, vencedor do Prêmio Nobel de Física em 1968, foi o primeiro a usar a radiografia de múons para explorar o interior de outra pirâmide egípcia, a de Quéfren, e demonstrar que não havia nenhuma câmara a ser descoberta em seu interior. Desde então, os múons vindos do espaço também permitiram analisar o interior dos vulcões, as entranhas da central nuclear de Fukushima, os sítios arqueológicos em Roma e Nápoles e o interior da Pirâmide do Sol, no México.

A equipe do ScanPyramids utiliza realidade aumentada para ver o 'vazio' de Quéops
A equipe do ScanPyramids utiliza realidade aumentada para ver o 'vazio' de QuéopsScanPyramids mission

Mehdi Tayoubi, codiretor do projeto, explica que seria muito difícil "chegar até o grande vazio sem fazer grandes buracos nas paredes da pirâmide", algo que não é contemplado no momento. Em 2016, sua equipe encontrou outro espaço vazio de menor tamanho na parede norte, justo do outro lado dos blocos em forma de cunha. O próximo objetivo é explorar esse corredor com pequenos robôs e continuar fazendo radiografias da pirâmide com mais detectores de múons. Tayoubi é muito cuidadoso ao não fazer suposições sobre o conteúdo dos dois espaços descobertos, que podem ou não estar conectados. Este projeto, diz, inclui cientistas de muitas disciplinas, geógrafos, físicos, especialistas em robótica e inteligência artificial, mas exclui deliberadamente os egiptólogos. "Se queremos entender melhor esse monumento, precisamos de um novo olhar", ressalta.

"Os múons atmosféricos são partículas carregadas muito penetrantes, que se movem em linha reta", afirma o físico Arturo Menchaca-Rocha, da Universidade Autônoma do México. "Seu fluxo natural é atenuado pela matéria, por isso tem uma relação de um-para-um com a quantidade de matéria atravessada. Nos espaços vazios, o que aparece é um excesso de múons nessa direção que ajudam a localizar e conhecer a forma do vazio", destaca o físico. Menchaca-Rocha usou essa mesma técnica para escanear a Pirâmide do Sol, no México. Assim como Álvarez, não encontrou nada em seu interior, uma decepção que ainda assim é um êxito científico para este tipo de técnica de imagem baseada na física de partículas, destaca. O pesquisador, que não participou do estudo, acrescenta que os três instrumentos utilizados são bem desenhados e coletaram múons por tempo suficiente, o que confirma, em sua opinião, a existência da nova câmara. O que por enquanto é um mistério, é se tem "importância arqueológica ou é apenas um corredor abandonado", acrescenta.

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