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Do que se falará na nova cúpula europeia: Brexit, imigração, Turquia (e Catalunha)

Desafio independentista não está na pauta, mas será um dos assuntos em destaque

A chanceler alemã Merkel nesta quinta-feira em Bruxelas.
A chanceler alemã Merkel nesta quinta-feira em Bruxelas.JOHN THYS (AFP)
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A Europa não precisa mais lidar com as urgências da Grande Recessão, o problema migratório está mais ou menos sob controle e o divórcio Londres-Bruxelas está sendo difícil, mas as louças ainda não estão voando por cima das cabeças de Theresa May, Angela Merkel e companhia. A extrema direita não consegue chegar aos Governos. A recuperação econômica voltou. As águas, enfim, estão um pouco mais calmas em quase todos os aspectos e esta não é uma daquelas cúpulas de vida ou morte dos últimos tempos. No entanto, a Grande Crise apresenta na Europa uma formidável capacidade de criatividade: a história do último século dá à expressão “desafio nacionalista” um sobrepeso semântico que transforma o procés (processo independentista catalão) em um problema europeu de primeira grandeza.

Brexit: um aceno para May. Os líderes da UE devem mandar um sinal para o Reino Unido. O discurso de Theresa May em Florença abriu uma dinâmica mais positiva, um tom menos inflamado. Não há progresso suficiente para começar a negociação do futuro acordo comercial. Entretanto, os países da UE (sem o Reino Unido) abrem as portas para a preparação do período de transição. Mas note bem: “Isso não obriga a nada”, afirma um diplomata de uma das grandes delegações. “A Europa está preparada para o cenário de um não acordo”, com que Londres ameaça há algum tempo.

Londres e Bruxelas ameaçam sem partir para as vias de fato: esse cenário não interessa a ninguém. Para avançar, porém, é preciso haver acordo quanto ao processo do Brexit (e há grandes diferenças aí), aos direitos de cidadania (Londres não aceita o papel que Bruxelas quer dar ao Tribunal Europeu de Justiça) e à Irlanda do Norte. Talvez o tom tenha mudado. Mas não há nada parecido com um acordo à vista. A Alemanha pode estar suavizando sua posição, segundo um documento do ministério do Exterior, e pode suavizar ainda mais se a chanceler Angela Merkel conseguir um pacto com os liberais (e os verdes) para formar Governo: os liberais alemães defendem as propostas da patronal, e a indústria alemã quer continuar vendendo carros em solo britânico. “Mas a patronal alemã não está disposta a aceitar que o Reino Unido tenha acesso ao mercado interno se houver risco de dumping”, afirmam fontes diplomáticas.

Imigração: a pista do dinheiro. Os líderes se parabenizarão pela redução de entradas de imigrantes pelo Mediterrâneo Central (Itália, basicamente). Mas ao mesmo tempo algumas chancelarias se queixam de que certos países não deram sua contribuição ao Fundo Fiduciário para a África, que visa melhorar a situação nos países africanos enviando fundos para desenvolver essas economias de modo a frear a emigração.

Preocupação com a Turquia. As eleições alemãs voltaram a pôr na mesa o problema das negociações de adesão da Turquia à UE. Não há unanimidade para congelar essa negociação. Mas se discutirá a possibilidade de reduzir as ajudas ao país (que recebem todas as nações que negociam a entrada na UE). Não há avanços na união aduaneira. A Europa não quer romper com a Turquia, um elo essencial do problema migratório, mas tampouco está disposta a dar um único passo adiante. Além da Turquia, a cúpula abordará a situação do acordo nuclear com o Irã depois do afastamento norte-americano. E ratificará as sanções autônomas à Coreia do Norte aprovadas pelos ministros de Relações Exteriores na segunda-feira passada.

Política comercial: a França na ofensiva. Macron está em meio à aprovação de complicadas reformas estruturais e quer um primeiro sinal de assentimento europeu a suas propostas que lhe permita vender seu programa em casa com menos contestação. A França quer um equilíbrio entre a tradicional posição da UE em favor do livre comércio e as críticas da população a acordos comerciais como o CETA (com o Canadá) ou o TTIP (com os Estados Unidos). Macron já fracassou na última cúpula com sua proposta de limitar os investimentos estrangeiros de países como a China. Mas a agenda comercial ganhou fôlego com a sentença sobre o acordo com Cingapura e as negociações com o Mercosul, Austrália e Nova Zelândia.

De olho na Catalunha. Rajoy, que chega a Bruxelas nesta quinta-feira, não irá à tradicional reunião de líderes do PP. Sua equipe afirma que ele não pretende abordar o desafio independentista catalão. “Se os primeiros-ministros perguntarem nos corredores, contará a eles como está a situação, mas a Catalunha não está na pauta”, dizem as fontes consultadas, que recorrem ao “nada a declarar” para quase tudo. O hermetismo da delegação espanhola contrasta com o vivo interesse dos ministérios de Relações Exteriores, que falam abertamente da Catalunha, em geral de maneira informal. Em suma: toda a Europa apoia Rajoy. A Alemanha sugeriu que se houver declaração de independência começa a correr o relógio constitucional: veria com bons olhos a aplicação do artigo 155. Nisso, as instituições e os parceiros europeus fecham posição com a Espanha. Com duas observações: a Europa exige que Rajoy dialogue (a grande maioria dos líderes acrescenta que esse diálogo deve acontecer dentro do marco constitucional, mas não todos eles), e não quer ver mais imagens como as do dia 01 de outubro, quando aconteceu a votação do referendo catalão: “A força da razão é melhor que a razão pela força”, sintetizou o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk. A gestão de Rajoy na crise catalã encontrou vozes críticas dentro do próprio Partido Popular Europeu (PPE, em que figura o PP espanhol).

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