Macron corta impostos e gastos públicos no seu primeiro orçamento
Governo francês pretende respeitar o 2,9% de limite do déficit imposto por Bruxelas
Para distribuir a riqueza, primeiro é preciso criá-la. E aqueles que a geram são os “ousados”, aqueles que apostam na criação de um emprego que não foi possível gerar com políticas de aumento do gasto público. Essa é a base ideológica do “orçamento de transformação” para a França em 2018, o primeiro da era macronista e que prevê um corte de impostos de até 10 bilhões de euros e uma forte redução no gasto público, até 16 bilhões de euros, o que gerou críticas sociais.
“O problema da França não vai ser resolvido com mais gasto público”, afirmou o ministro de Economia, Bruno Le Maire, ao apresentar o orçamento na quarta-feira. “Assumimos a decisão de reduzir o gasto público e a dívida, porque mais gasto público não leva a menos desemprego, pelo contrário, segundo a experiência”, acrescentou o político recrutado das fileiras conservadoras dos Republicanos, como o outro responsável pela elaboração do orçamento, o ministro de Finanças Gérard Darmanin.
A visão de Macron para reativar a economia francesa e reduzir a taxa de quase 10% de desemprego é a longo prazo. Este primeiro orçamento é apenas a “primeira etapa” de um plano de cinco anos que Le Maire descreveu como um “5-3-1”: reduzir a dívida pública em cinco pontos até chegar, em 2022, a 91,4% do PIB, embora pelo caminho ela vá se recuperar levemente; diminuir também, ao longo dos cinco anos, a despesa pública em três pontos e conseguir um ponto menos de gastos para famílias e empresas no final do mandato de Macron.
Para 2018, o objetivo é reduzir o gasto público em 0,7 pontos do PIB. Uma meta “difícil”, mas “necessária” e para cumprir isso estão previstos cortes em quase todos os orçamentos ministeriais, embora os mais afetados serão os dedicados à ajuda para moradia e emprego, com uma redução drástica dos contratos subsidiados e o congelamento de grandes projetos de infraestrutura.
“Temos apenas um objetivo: inverter a curva do gasto público. Pensar que é possível gastar mais de um ano para outro (...) é um erro contra o qual precisamos lutar”, disse o porta-voz do Governo, Christophe Castaner.
O executivo também quer reduzir o déficit público durante o próximo ano em 0,3 pontos – de 2,9% previsto este ano para 2,6% em 2018, de qualquer forma, inferior ao limite de 3% fixado por Bruxelas e continuamente descumprido na última década – e em 0,3 pontos as retenções obrigatórias de famílias e empresas.
“É hora de uma mudança de lógica, de forma de pensar, e de ter um orçamento ofensivo a serviço do crescimento e do emprego”, insistiu Le Maire ao apresentar um orçamento que chamou de “prudente”, “sincero em seu desejo de transformar a economia francesa” e “justo porque responde às esperanças de todos os franceses”.
A esquerda e organizações como Oxfam não demoraram em denunciar o orçamento afirmando que certamente vai causar uma “injustiça social” que só beneficiará os mais ricos.
Uma das medidas criticadas é a forte redução no imposto sobre a fortuna (ISF), que no ano passado contribuiu com 3,5 bilhões de euros para o Estado. A partir de agora só será cobrado o ISF daqueles que possuem patrimônio imobiliário – antes era tributado também o patrimônio financeiro e outros ativos – superior a 1,3 milhão de euros. A medida pretende estimular o investimento empresarial e atrair parte do negócio financeiro que abandonará Londres como resultado do Brexit.
“Queremos criar riqueza para distribuí-la”, defendeu o chefe do ministério de Economia, assim como reduzir progressivamente o imposto sobre as sociedades para as empresas dos atuais 33% para 25% em cinco anos.
As reformas fiscais “vão beneficiar todos os franceses, sem exceção, e não apenas os mais ricos”, respondeu Le Maire às críticas, afirmando que estes planos também servem para proteger “os mais modestos e frágeis”, ao melhorar o “poder aquisitivo” de toda a população.
O Governo pretende, neste sentido, cumprir a promessa de reduzir gradualmente o imposto sobre a moradia para 80% dos franceses, bem como a redução das contribuições sociais para assalariados e autônomos que, afirma, vão aliviar uma carga tributária “excessiva e injusta”. O executivo estima que um casal ganhando o salário mínimo vai acabar economizando uma média de 540 euros por ano, no final do mandato de Macron.
No total, o Governo espera cortar 10 bilhões de euros de impostos até 31 de dezembro de 2018, embora a média para o ano será de apenas 7 bilhões. Os 3 bilhões de diferença são consequência da decisão do Governo de adiar por alguns meses a redução de contribuições por desemprego e doença pagas pelos trabalhadores do setor privado, uma medida destinada a aumentar seu poder de compra.
Os planos do Governo estão baseados em uma previsão de crescimento de 1,7% este ano e no próximo. Uma estimativa “prudente” para 2017 e “razoável” para 2018, estimou esta semana o organismo independente Alto Conselho de Finanças Públicas.
Tu suscripción se está usando en otro dispositivo
¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?
Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.
FlechaTu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.
Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.
En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.
Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.