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Novo assassinato de jornalista no México põe em dúvida mecanismos de proteção

Três dos últimos nove profissionais de imprensa mortos no país contavam com medidas de segurança

O jornalista Cándido Rios foi morto na última terça-feira
O jornalista Cándido Rios foi morto na última terça-feiraFACEBOOK
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O assassinato de jornalistas no México deixou de ser uma consequência a mais da violência que permeia o país para se tornar uma macabra cadeia que soma novos mortos a cada mês. Cándido Ríos, um veterano da cobertura policial, foi o último jornalista alvejado, num crime ocorrido na terça-feira em Hueyapan de Ocampo, no sul do Estado de Veracruz. Sua morte é a nona de um repórter no México neste ano. Ou a décima, levando-se em conta o michoacano Salvador Adame, cujo desaparecimento foi denunciado por sua esposa. O assassinato de Ríos põe em dúvida a eficácia dos mecanismos de proteção a jornalistas criados pelo Governo mexicano, ao qual o próprio Ríos estava vinculado. Dos últimos mortos, três contavam com medidas de proteção. Em outros dois casos, morreram guarda-costas cuja tarefa era tentar evitar a morte de um jornalista. O Executivo federal, no entanto, nega que a morte de Ríos tenha relação com sua profissão.

O assassinato de Cándido Ríos é o 17º a ter um jornalista como vítima em Veracruz desde 2011. Esse Estado do sudeste mexicano, com oito milhões de habitantes, tem um longo histórico de agressões a comunicadores. Ríos estava acompanhado de outras duas pessoas – incluindo um ex-policial – perto de uma loja de comestíveis quando foi alvejado várias vezes por desconhecidos. A vítima, que cobria o noticiário policial havia 10 anos, trabalhava para o Diario de Acayucan e estava sob o amparo de um programa governamental de proteção a jornalistas e defensores dos direitos humanos.

“Todos os indícios apontam que o ataque não está vinculado ao jornalista; todos os indícios apontam que se tratou de um ataque contra outra pessoa e suas escoltas”, afirmou nesta quarta-feira o subsecretário de Governo (Casa Civil) do México, Roberto Campa. Entretanto, para a filha do jornalista, Cristina Ríos Nieves, seu pai foi assassinado por exercer o ofício de informar. “Através dessa atividade jornalística ele desmascarava, acusava pessoas poderosas, caciques da cidade”, comentou durante o funeral em sua casa, segundo a agência AFP.

A residência de Ríos tinha câmeras de segurança e grades com arames farpados, e a polícia local fazia percursos de vigilância em frente a ela. Essas medidas eram parte do Mecanismo de Proteção a Jornalistas do Governo Federal, no qual ele se inscreveu em 2012. Apesar de tudo isso, Campa negou que a morte de Ríos demonstre o fracasso dos mecanismos de proteção, mas prometeu uma “revisão” desse programa.

Depois do assassinato do conhecido jornalista Javier Valdez, em maio, o Governo de Enrique Peña Nieto anunciou mais recursos, mais meios e mais medidas de proteção. Entretanto, elas não estão sendo aplicadas, ou não estão funcionando para quem efetivamente as recebe, como no caso de Cándido Ríos. Segundo diversos meios de comunicação locais, a principal proteção à disposição do jornalista era um telefone por satélite com um botão de alerta conectado à polícia. A Comissão Estadual de Proteção a Jornalistas confirmou que o repórter denunciava desde 2012 ameaças feitas contra ele por um ex-prefeito, que teria lhe dito em mais de uma ocasião: “Maldito repórter, vou te matar”.

O mecanismo de proteção para defensores de direitos humanos e jornalistas, criado em meados de 2012 a fim de proteger pessoas que estivessem em risco devido à sua atividade profissional, não conseguiu frear as agressões e continua apresentando problemas na sua implementação, segundo as acusações de jornalistas e ativistas beneficiados pelos diversos métodos de segurança, informa Zorayda Gallegos. Os problemas técnicos em alguns equipamentos, como telefones e botões de pânico, e a burocracia para ter acesso a algumas das medidas oferecidas pelo Governo mexicano são as principais queixas após cinco anos de implementação. Atualmente, há cerca de 500 pessoas beneficiadas por algumas das medidas, que consistem em escoltas, telefones, botões de pânico, atendimento psicológico, cursos de autodefesa, rondas noturnas, vigilância domiciliar, transferência temporária e auxílio à alimentação, entre outras.

Ríos havia optado por ser protegido pelo Governo federal, e não pelo estadual de Veracruz, governado até dezembro pelo hoje encarcerado político Javier Duarte. “O próprio Ríos escolheu ser protegido pelo Governo Federal, e nós [Veracruz] lhe demos assessoria jurídica, cursos, formação, mas a proteção física dependia da Secretaria de Governo”, explica ao EL PAÍS Ana Laura Pérez, responsável pelo programa de proteção a Jornalistas de Veracruz. Atualmente, 70 jornalistas do Estado se beneficiam do programa, e 18 deles contam com medidas físicas (câmeras, microfones, botões de pânico, escoltas), e outros 50 pertencem ao segundo grupo.

O jornalista cobria o noticiário policial e era muito crítico em seus textos com o ex-prefeito Gaspar Gómez, a quem culpava preventivamente por qualquer coisa que viesse a lhe acontecer. “Em casa estava protegido, mas fora ele estava totalmente desprotegido. Sempre [sofria ameaças], e acredito que no fundo ele sabia que isto iria acontecer. Indiretamente nos preparou para isto”, acrescentou sua filha à agência AFP. O jornalista assassinado investigou e documentou que Gómez, quando prefeito, concedida contratos de obras públicas às suas próprias empresas fornecedoras de areia e cimento.

Fontes próximas à investigação confirmaram ao EL PAÍS que essa é a principal linha de investigação. A outra tem a ver com seu acompanhante executado, um ex-policial com quem se encontrou antes do crime. Para um jornalista que cobre o noticiário policial, é normal se reunir com policiais aposentados ou da ativa, mas o Ministério Público concluiu que essa deveria ser outra linha de investigação.

Há menos de uma semana, a ONG Artigo 19, que denuncia agressões e ameaças a jornalistas, informou que o primeiro semestre de 2017 foi especialmente nefasto no México. Além dos assassinatos, a organização documentou 276 agressões e ameaças a repórteres, 1,5 por dia, 52 a mais que nos primeiros seis meses de 2016. Juan Vázquez, um dos pesquisadores, disse que a impunidade era, como sempre, um dos principais problemas. “Não há um só detido por nenhum dos jornalistas assassinados neste ano. Apesar do compromisso público, não se vê uma atitude diferente nem uma mudança na maneira de agir.”

A violência afeta a categoria em todo o país, embora especialmente os repórteres que trabalham no interior. Dos nove assassinados neste ano, nenhum vivia na capital. Mesmo assim, na Cidade do México as ameaças são habituais. Na semana passada, um usuário do Twitter publicou um vídeo no qual tirava uma foto do repórter Héctor de Mauleón. Cronista da história e do submundo da cidade, De Mauleón denuncia continuamente os chefes do narcotráfico locais e sua proximidade com o poder.

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