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George Pell, diretor de finanças do Vaticano, é acusado de abusos sexuais

Santa Sé respalda o cardeal australiano George Pell, que terá de depor a um juiz em Melbourne

Daniel Verdú
O cardeal George Pell.
O cardeal George Pell.Alessandro Bianchi (REUTERS)
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O caso estava prestes a estourar. O papa Francisco confiava na inocência dele e decidiu não afastar um de seus homens mais importantes na Cúria Romana, o diretor de Finanças do Vaticano, cardeal George Pell. Mas o Pontífice decidiu aceitar o desgaste e as duríssimas críticas que atrairia durante esse tempo.Então, o muro de contenção se rompeu. Pell foi formalmente acusado nesta quarta-feira de múltiplos abusos sexuais na Austrália, conforme anunciou o policial Shane Patton. O cardeal negou todas as acusações, e o Vaticano lhe ofereceu seu claro apoio, sem exigir que se demitisse.

O caso foi sendo revelado em câmera lenta. Há oito meses, policiais interrogaram Pell em Roma sobre as acusações, que ele agora desmente de forma categórica. Mas durante este tempo foram publicados dezenas de artigos e livros citando o assunto. Encurralado, o religioso de 76 anos, máxima autoridade da Igreja Católica na Austrália, deverá comparecer em 18 de julho a um tribunal de primeira instância em Melbourne para dar explicações. É suspeito de ter cometido abusos sexuais quando era sacerdote na cidade de Ballarat (1976-80) e quando foi arcebispo de Melbourne (1996-2001), ambas no Estado de Victoria (sul da Austrália).

Às 8h30 desta quinta (hora de Roma; 3h30 em Brasília), Pell compareceu perante jornalistas – a entrevista coletiva havia sido convocada às 4h30 da madrugada – para negar as acusações e anunciar que viajaria à Austrália para se defender. “Estes problemas estão sendo investigados há dois anos. Foram vazados para a imprensa, é um assassinato implacável. A decisão se prolongou durante mais de um mês. Estou ansioso para que chegue meu dia de ir ao tribunal para me defender, sou inocente destas acusações. São falsas. Toda a ideia de abuso sexual é aberrante para mim”, disse, acompanhado do diretor de comunicação do Vaticano, Greg Burke.

Pell relatou que conversou bastante com o Papa durante a última semana. “A última vez foi ontem. Decidimos que limparei meu nome na Austrália, e sou muito grato a ele por seu apoio. Sou completamente claro e consistente na rejeição a estas acusações. Quero limpar meu nome e voltar a Roma para continuar trabalhando.”

O Vaticano respalda Pell de forma cabal. Com a leitura do comunicado, após o qual não foram admitidas perguntas, não restou nenhuma dúvida. “A Santa Sé recebe com desagrado a notícia do envio a julgamento do cardeal, que, no pleno respeito pelas leis civis e reconhecendo a importância de sua participação a fim de que o processo se desenvolva de forma justa e se favoreça a busca da verdade, decidiu voltar para o seu país. O Santo Padre lhe concedeu um período de licença para poder se defender.” O comunicado menciona também a opinião do Papa sobre o cardeal. “O Santo Padre, que pôde apreciar a honestidade do Cardeal Pell durante três anos de trabalho na Cúria Romana, agradece a sua colaboração, em especial por se encarregar das reformas econômicas e administrativas e por sua ativa participação no Conselho de Cardeais (C9). “

A Santa Sé expressou seu respeito pelas decisões judiciais. Mas também quis se arriscar a defender o cardeal. “Pell condenou durante décadas, aberta e repetidamente, os abusos cometidos contra menores como atos imorais e intoleráveis, cooperou no passado com as autoridades australianas e apoiou a criação de uma Comissão Pontifícia para a tutela de menores e a prestação de ajuda às vítimas de abusos.”

O indiciamento é o resultado de uma longa investigação, solicitada pelo Governo australiano em 2012 dentro de uma série de respostas institucionais aos abusos sexuais contra menores. Pell, que depôs em três ocasiões à comissão de inquérito, afirmou ter errado na gestão dos padres pedófilos no Estado australiano de Victoria nos anos setenta.

O eclesiástico foi ordenado padre em 1966 em Roma, antes de retornar em 1971 à Austrália, onde subiu na hierarquia católica. Em 2014, o papa Francisco o escolheu para trabalhar na transparência das finanças do Vaticano.

Uma das primeiras medidas que Francisco tomou como Papa foi impulsionar uma cruzada contra a pedofilia. No final de 2013, foi criada uma comissão específica para lutar contra esse problema dentro da Igreja. Um ano depois, o Papa se desculpou publicamente “pelos pecados de omissão por parte da Igreja” nos casos de abusos sexuais cometidos por padres e bispos.

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