Presidente da Uber se demite após revolta de investidores contra crise da empresa
Travis Kalanick se afasta em meio a acusações de adoção de políticas negativas na gestão de recursos humanos e práticas machistas
Travis Kalanick pediu demissão na noite desta terça-feira diante das pressões exercidas pelos investidores da Uber. O presidente-executivo e fundador da popular empresa de transporte privado enviou uma carta a eles em que anuncia sua saída da empresa em meio a várias polêmicas que a tem prejudicado nos últimos meses. Um porta-voz da Uber confirmou à AFP a demissão definitiva de Kalanick. Ela ocorre exatamente uma semana depois de ele ter anunciado que tiraria uma licença temporária sem prazo definido para descansar e guardar luto pela morte de sua mãe em um acidente três semanas atrás.
“Eu amo a Uber mais do que nada neste mundo, e neste momento difícil de minha vida pessoal aceitei a demanda dos investidores de me afastar para que a Uber volte a crescer e não se desvie em mais uma disputa”, afirma Travis Kalanick em nota enviada ao jornal The New York Times, que informa que vários sócios vinham se mostrando incomodados com os últimos escândalos e já tinham expressado o seu temor em relação a quedas abruptas no valor de suas ações em consequência desses fatos.
Desde a eclosão, em fevereiro, do escândalo de discriminação sexual e trabalhista e da investigação subsequente, a Uber vem acumulando problemas, e políticas negativas na gestão de recursos humanos e práticas machistas no dia-a-dia foram reveladas.
A investigação foi realizada pela empresa do ex-procurador-geral dos EUA Eric Holder, contratado no começo do ano depois que uma programadora de software afirmou que a direção da Uber havia ignorado as suas queixas e de outras colegas sobre situações de assédio moral e machismo por parte dos seus superiores. No começo de junho, a Uber demitiu 20 funcionários em consequência de uma outra investigação sobre casos individuais de comportamento negativo relacionados a assédio sexual e psicológico e discriminação.
Além da polêmica sobre a sua cultura corporativa, a Uber tem outras frentes em aberto: uma ação da Alphabet, que detém o Google, pelo suposto roubo de informações sobre veículos autônomos e uma investigação federal sobre suas operações negociais. Recentemente, a empresa admitiu ter retido, por erro, milhões de dólares de seus motoristas nova-iorquinos durante cerca de dois anos.
Um dos investidores que pediram que Kalanick renunciasse imediatamente foi Bill Gurley, um dos principais sócios da empresa. Ele o fez por meio de uma carta à qual o The New York Times e o The Information tiveram acesso. Sob o título de Moving Forward Uber, Gurley reivindicava uma mudança de comando urgente. Kalanick decidiu se retirar depois de receber essa carta bastante dura.
O Uber funciona como aplicativo em mais de 80 países e é avaliada em mais de 60 bilhões de dólares. A grande incógnita está em saber se será possível reerguer a empresa com a fuga de talentos constante que tem ocorrido. Neste momento, por exemplo, ela está sem um diretor técnico, sem um chefe de operações, sem o presidente e o diretor financeiro. Embora os investidores tenham retirado todo poder executivo de Kalanick, ele continua a ser um dos sócios majoritários e manterá, apesar de tudo, um assento no conselho de administração da companhia. Assim como Mark Zukerberg no Facebook, Kalanick reservou para si uma grande participação societária como fundador.
Há mais de dois anos a Uber namora a ideia de começar a abrir capital na Bolsa. A quantidade de conflitos judiciais em curso no mundo todo, porém, não estimula a que esse passo seja dado. E a má gestão das despesas nos últimos trimestres inviabiliza essa possibilidade no curto prazo.
Horas antes da demissão, houve um vazamento dos planos da Uber para negociar com os motoristas, setor que se sente particularmente incomodado com a situação da empresa na qual depositou sua confiança. No fim de julho, a empresa fará uma grande atualização do aplicativo que incluirá a opção de deixar uma gorjeta para o motorista e para que este possa cobrar pelo tempo que ficou à espera da chegada do cliente.
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