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Governo português desmente queda de avião que combatia incêndio

Fogo persiste três dias depois da tragédia enquanto se acentuam as críticas à gestão das autoridades

Imagem de uma das aeronaves que ajudam no combate ao fogo em Portugal.
Imagem de uma das aeronaves que ajudam no combate ao fogo em Portugal.Rafael Marchante

A Proteção Civil de Portugal retificou a informação inicial em que relatava que uma das aeronaves envolvidas na extinção do fogo havia caído. “Não há nenhum aparelho de combate aos incêndios que tenha caído ou sofrido algum problema”, afirmou um porta-voz da Proteção Civil ao jornal português blico. A mesma fonte acrescentou que não poderiam garantir que outro tipo de aeronave, não incluída nas ações de combate ao fogo, possa ter sofrido um acidente.

Às 17h15 (hora local) desta terça-feira, 20 de junho de 2017, um membro da Proteção Civil alertou a agência de notícias portuguesa Lusa que um aparato envolvido nas operações de extinção do fogo se havia acidentado na área municipal de Pedrógão Grande. A Força Aérea da Espanha informou em seguida em sua conta do Twitter que o avião de combate ao fogo acidentado não era espanhol. O secretário de Estado da Administração Interna de Portugal afirmou em Góis aos jornalistas que não podia confirmar que um aparelho caíra.

Em uma coletiva de imprensa, o responsável pela Proteção Civil, Vitor Vaz Pinto, explicou que a origem da confusão poderia estar na explosão de um trailer abandonado, que tinha botijões de gás em seu interior. No entanto, Vaz Pinto admitiu que tinham sido enviadas equipes de busca para a área, nas proximidades de Ouzenda, na área municipal de Pedrógão Grande.

As chamas vão de um lado a outro, de Pedrógão Grande a Góis, como as perguntas que se fazem os moradores que vivem o terceiro dia de incerteza em meio a incêndios que já mataram 64 pessoas. Os políticos concordam em que não é momento para as críticas, mas estão abertos às perguntas. O próprio primeiro-ministro, António Costa, quer saber por que não foi bloqueada a tempo a N236, a estrada da morte. Também se soube que o plano contra incêndios tem quatro anos, quando deveria ser renovado a cada dois anos.

Em 500 metros de asfalto encontraram a morte 47 das 64 pessoas que morreram nos incêndios. Aprisionadas em seus carros, algumas voltavam das praias, outras saíam de aldeias próximas, de Figueira, de Nodeirinho, de Pobráis, porque, segundo uma sobrevivente, lhes disseram que o caminho era a alternativa segura à estrada local I8. E se depararam com um caldeirão em chamas.

O primeiro-ministro Costa pergunta aos dirigentes da Guarda Nacional Republicana por que a N236 não foi bloqueada; também pede explicações sobre as previsões meteorológicas e as falhas do serviço de comunicações. “Por que, desde quando e que impacto teve no planejamento, direção e execução das operações que os sistemas de vocês não estivessem funcionando? O que foi feito para estabelecer conexões alternativas?”, perguntou Costa, segundo a agência Lusa, informa a Reuters.

Nesse novo cenário de perguntas sem críticas, foi revelado que o Plano Florestal Contra Incêndios está congelado há quatro anos; o anterior, de 2012, foi publicado ontem, depois da denúncia do jornal Público. Este plano deveria ser atualizado a cada dois anos, mas nada foi feito em quatro anos.

Também não avançou a lei de reflorestamento que vai proibir –segundo o Partido Socialista (PS)– o aumento da superfície de eucaliptos. Além disso, está em tramitação o primeiro cadastro de florestas. Não se conhece a propriedade de quase a metade dos lotes rurais e florestais. Sem essa ferramenta básica torna-se muito difícil o planejamento e encarar qualquer programa de prevenção.

Agora a culpa é atribuída à falta de limpeza dos campos, mas o secretário de Estado das Florestas, Amândio Torres, deu pouca importância a esse argumento, pois recordou que foram limpos 25.000 hectares em uma superfície florestal de 3,1 milhões e que o arbusto também cumpre uma função ecológica.

Não é que faltem leis, diz o próprio secretário de Estado Torres, mas é necessário que se cumpram as existentes. É proibido plantar árvores a 10 metros das estradas, os proprietários das florestas têm a obrigação de mantê-las limpas e deixar os sistemas corta-fogos livres, mas se desconhece quantas multas o Governo aplicou pelo descumprimento dessas medidas.

No quilômetro 7,5 da estrada da morte tudo está carbonizado, mas se intui o que havia ali: a floresta de eucaliptos, a clareira corta-fogo, mas depois, junto às sarjetas, mais eucaliptos que brotam de modo selvagem. Nesta terça-feira, três dias depois da tragédia, operários substituíam as muretas de proteção queimadas por outros novos. Ainda se vê o asfalto levantado pelo calor, os sinais de tráfego continuam de pé, mas pretos. Em um deles alguém colocou um ramalhete de flores. Aqui, o jovem Miguel, morador de Pobráis, encontrou sua mãe carbonizada. Miguel diz que aquilo que viu não era sua mãe, embora saiba que era porque reconheceu o carro.

Os cidadãos se fazem outras perguntas. Por exemplo: como pode ser que 47 cadáveres estivessem quase 24 horas ali, no meio da estrada, dentro de seus carros alguns, um outro no local para onde fugia? Só um médico especialista poderia retirar os corpos... e era a tarde de um sábado de praia.

O banco BPI e a instituição bancária La Caixa anunciaram que destinarão, em colaboração com a Prefeitura de Pedrógão Grande, um milhão de euros (3,7 milhões de reais) para o reassentamento e as necessidades básicas dos afetados, segundo informaram em um comunicado.

Há um ano, para festejar o Dia da Floresta, o primeiro-ministro Costa lembrava –como se pode ler em sua página oficial – que Portugal tinha “um sistema de prevenção melhor e um sistema de combate melhor; agora precisamos de um melhor ordenamento florestal”.

Não há crítica, é hora de trabalhar unidos, dizem, desde o presidente Rebelo de Sousa ao líder da oposição, Pedro Passos Coelho, mas, sim, é o momento de lançar perguntas, mais uma: Por que um país com tantas terras florestais não tem uma corporação de Guardas Florestais?

O DRAMA VOA A GÓIS

Cumpriu-se o que mais temia o bombeiro espanhol Aitor Soler, que o fogo se espalhasse pelas escarpadas montanhas, quase impossível de combater a pé.

No sábado, o fogo começou em uma planície em Fundeiros, perto de Pedrógão Grande. A imprevisibilidade –com as condições meteorológicas agravando a situação– provocou o desastre, mais do que a difícil topografia. Mas as montanhas de Góis são outra questão.

Na noite passada, outra vez com ventos mutantes e muita seca, o fogo se espalhou pela difícil topografia de Góis. Desde as 7 da manhã os hidroaviões, principalmente espanhóis e franceses, lançavam água sobre as densas matas. Em Pedrógão era dado por controlado e extinto na metade da manhã, mas do outro lado, no conselho de Góis, aumentavam os problemas. A fumaça se elevava e os aviões deixaram de poder operar. Aldeia após aldeia começavam a ser esvaziadas: Cadafaz, Cabreira, Sandinha...

- É preciso entrar nas casas? Perguntava um bombeiro espanhol aos portugueses.

- Sim, casa a casa, mas antes batam à porta.

Mesmo batendo, há idosos que não querem ir embora. Os bombeiros não têm autoridade e precisam chamar a Guarda Nacional Republicana. Foram esvaziadas mais de 27 aldeias até o meio da tarde, a maioria com idosas, dispersas em casas aqui e ali, moradias tão integradas na densa mata que são difíceis de serem detectadas.

Os idosos saem levados em cadeiras e retirados com firmeza por membros da guarda ou voluntários. Os aviões se desviaram para Pedrógão, onde a situação se agravou. Aqui também foi esvaziada a aldeia de Ouzenda. São 40 focos ativos, reativados pelo capricho do vento e uma terra que segue fumegante como a cratera de um vulcão.

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