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Boca de urna: aposta de May falha e premiê britânica perde maioria absoluta

Primeira-ministra deve vencer Corbyn embora por uma margem menor que a esperada

Pablo Guimón

A pesquisa de boca de urna indicou na noite da quinta-feira que Theresa May voltará ao número 10 da Downing Street enfraquecida. A primeira-ministra e candidata conservadora caminha para a vitória em uma eleição da qual, no entanto, não sairá incólume. A campanha mostrou as debilidades da liderança e do projeto da pessoa que, caso a apuração confirme o que apontaram as pesquisas, deverá começar dentro de 10 dias as negociações para romper com a UE. Essa será a prioridade do Governo que sair do parlamento eleito na quinta-feira pelos britânicos. Mas outras frentes também o aguardam. Entre elas a segurança nacional ameaçada pelo terrorismo islâmico, as tensões territoriais encarnadas no desafio independentista escocês e, finalmente, tirar o país dessa fase de excepcionalidade política na qual continua instalado.

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A primeira-ministra, de acordo com a pesquisa de boca de urna, ficará longe do resultado esperado e até mesmo pior do que estava antes de convocar as eleições, já que não obteve maioria absoluta (deve conseguir 314 assentos, a 16 da maioria). No dia 18 de março, ela anunciou a intenção de antecipar as eleições em busca de uma maioria mais ampla capaz de reforçar sua posição de negociação na Europa. A debacle do anti-europeu e populista UKIP – o partido que, com 12,5% dos votos em 2015 e um único assento no parlamento, marcou a agenda política dos últimos anos – prometia que um bom número de votos voltaria às mãos conservadoras. A crise do trabalhismo, com os deputados em guerra contra um líder que puxa o partido para a esquerda, fazia sonhar com pescar votos do centro. Theresa May queria tudo. Apelou aos órfãos do UKIP com dureza no Brexit e na imigração. Quis oferecer aos trabalhistas descontentes um conservadorismo “para a classe trabalhadora”.

Foi um roteiro ambicioso que, no papel, funcionava. Mas a coreografia provou ser complicada demais. E a atriz principal não esteve à altura. Se for confirmada a tendência apontada pela pesquisa de boca de urna, Theresa May vencerá a eleição. Mas ficará sem a maioria absoluta que antes, embora frágil, possuía.

O cenário, que ainda precisa ser confirmado pelos resultados eleitorais, complicaria o colossal trabalho legislativo que será exigido pela saída da União Europeia. Seria um grande revés para May.

Mas May deixou uma parte de sua autoridade pelo caminho. A primeira-ministra, que sucedeu David Cameron sem passar pelas urnas, era uma incógnita. Na primeira campanha da qual participava da primeira fila, mostrou-se nervosa, distante, forçada. Repetiu slogans mecanicamente, não aprofundou. Cometeu erros gravíssimos: a insólita mudança do programa eleitoral quatro dias depois de ter se apresentado se juntou a um longo histórico de retificações que a distanciaram da imagem de “líder estável” que queria projetar. A campanha, longe de reforçar sua figura no país e na Europa, expôs suas fraquezas.

O contrário aconteceu com o líder trabalhista. Mesmo sem haver ainda a confirmação de se o resultado final o fortalecerá ou não em seu assediado trono, a campanha mostrou que o trabalhismo de Jeremy Corbyn não é necessariamente um projeto suicida. A autoridade que não demonstrou em dois anos como chefe da oposição parlamentar surgiu em sete semanas da campanha. Ele mobilizou as massas jovens. Os resultados confirmarão se isso foi traduzido em votos ou se o partido caminhará, pela terceira vez em dois anos, para uma batalha pela liderança e identidade.

As fortes medidas de segurança em torno das urnas fizeram os britânicos lembrarem a situação de excepcionalidade na qual desenrolou-se a campanha, duas vezes interrompida pelo terrorismo islâmico. Na reta final, encurralada pelas críticas aos cortes na polícia em seus anos à frente do Ministério do Interior, Theresa May prometeu medidas de uma dureza sem precedentes para combater o extremismo. Nessa linha de atrito entre as liberdades civis e segurança nacional transcorrerá, previsivelmente, outro aspecto fundamental da legislatura que se inicia.

Uma legislatura que terá, mais do que todas as outras, uma prioridade: o Brexit. Nos próximos dias começará o verdadeiro jogo. A eleição confirmará de que maneira o Reino Unido vai encará-lo. Ao sair de um jantar em Downing Street, antes do parêntese eleitoral, Jean-Claude Juncker, presidente da Comissão Europeia, disse que a primeira-ministra estava “em outra galáxia”. O posicionamento final dos astros no Parlamento que os britânicos elegeram na quinta-feira determinará se a órbita o aproxima ou o afasta da Europa.

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