_
_
_
_
Gal Galdot | Atriz

Gal Gadot: “O público ainda vai admirar personagens femininos fortes”

‘Wonder Woman’ é primeiro filme protagonizado por uma super-heroína nos últimos dez anos

Gal Gadot, em um fotograma de 'Wonder Woman'.
Gal Gadot, em um fotograma de 'Wonder Woman'.

A estrela do mais recente filme de super-heróis é uma mulher que fala inglês com sotaque mediterrâneo e que nunca se interessou por histórias em quadrinhos. Gal Gadot nasceu alguns anos depois que Lynda Carter rompeu com os tabus dos anos setenta protagonizando Wonder Woman na televisão. Agora, a atriz israelense reúne os braceletes e o laço da deusa Diana, filha da rainha das amazonas Hippolyta, com a vontade de fazer tremer as bases de Hollywood.

A entrevista com Gadot (Rosh Ha’ayin, 1985) foi realizada de pé, na última quinta-feira, véspera da estreia do filme nas salas de cinema em boa parte do mundo. Ela sentia dores nas costas e pediu para conversar nessa posição. Com quase 1,80 metro de altura, bonita e de traços finos, bem diferentes dos rostos angulosos que predominam nos filmes de ação, a modelo, fã de motocicletas de altas cilindradas, conta que teve de engordar 6,5 quilos para interpretar a Mulher Maravilha.

Mais informações
‘Batman vs Superman’: a batalha dos ícones
Trailer de ‘Esquadrão Suicida’ mostra porque o filme é um sucesso antes mesmo de estrear
A persistência de Ben Affleck

Wonder Woman conta a história de como Diana, símbolo da castidade na mitologia greco-romana, e transformada em ícone do feminismo na era moderna, vai descobrindo aos poucos ser filha de Zeus. Uma heroína em conflito permanente, deusa guerreira elogiada por sua força, porte atlético, beleza e habilidades no manejo de armas, mas ao mesmo tempo cruel e vingativa. O grande desafio, diz Gadot, era encontrar o equilíbrio para definir o personagem. Diana, observa a atriz, “tem de ser otimista sem ser ingênua, feroz, mas não assustadora, bondosa, mas não entediante, alheia, mas não inumana”. Isso permite, acrescenta ela, falar ao público sobre o mundo real por meio de seus olhos, os de uma heroína que não deixa de atacar depois de 75 anos salvando o mundo nos quadrinhos da editora DC e na televisão.

“Um super-herói é sinônimo de força e poder, qualidades que são sempre relacionadas a homens. Diana é a guerreira mais poderosa, embora ao mesmo tempo tenha de exibir suas qualidades femininas, porque uma mulher forte gera certa resistência”, explica. A forma de resolver esse emaranhado, acrescenta a atriz, era fazendo com que Wonder Woman não tivesse uma ideia de gênero. “Isso é o mais interessante”.

“Feminismo é liberdade de escolha, simples assim”

O combate travado para levar a Mulher Maravilha às telinhas continua o mesmo hoje, cinquenta anos depois. Gal Gadot se desespera, literalmente, quando suas amigas dizem ser conservadoras no campo social. “E têm suas carreiras”, exclama. Depois, argumenta que, para ela, o feminismo é uma qualidade: “É liberdade de escolha, simples assim. Não são mulheres queimando sutiãs”.

O filme se desenrola durante a Primeira Guerra Mundial, em Flandres. O roteiro retoma a origem da história de Diana, quando cresce em Themyscia, um paraíso apenas de mulheres que se preparam para uma batalha (que nunca acontece) contra Ares, o deus da guerra. Ela descobre a sua vocação de heroína quando o avião de Steve Trevor (Chris Pine) cai no oceano que banha o santuário protegido por Zeus. A descrição feita pelo agente duplo sobre a devastação causada pelo conflito comove a heroína, que decide se envolver na luta em um território totalmente desconhecido, para pôr um fim à guerra de todas as guerras.

Gadot já havia estreado como Mulher Maravilha um ano atrás em Batman v. Superman: o amanhecer da justiça. Seu papel fazia uma espécie de contraponto, ao mesmo tempo em que servia de apresentação. Agora ela ganha o seu próprio filme e é dirigida por uma outra mulher, Patty Jenkins (a diretora de Monster). Nenhum dos 55 blockbusters produzidos por Hollywood nos últimos dez teve uma mulher como protagonista. É preciso voltar a Elektra, de 2005, e a Catwoman, um ano antes. Esses filmes, porém, não geraram, nem de longe, a mesma expectativa de Wonder Woman, e foram um verdadeiro desastre do ponto de vista financeiro.

Agora, a atriz se apresenta nas salas de cinema como se tivesse se preparado a vida inteira para o personagem. Começou como bailarina, ganhou o título de Miss Israel em 2004, fez o serviço militar obrigatório durante dois anos, cursou Direito e, antes de concluir a faculdade, passou a atuar em séries para televisão. “Nunca pensei em ser atriz”, conta Gadot. “Uma coisa foi levando à outra”. E assim ela acabou na série Fast & Furious.

Embora as atenções tenham se voltado para a questão de gênero, Wonder Woman é, ao mesmo tempo, um filme bélico, de ação, comédia romântica e uma história mágica com uma mensagem de esperança para a humanidade em um momento em que as discussões são dominadas pelo confronto e pela desinformação. Como o primeiro Superman... mas o público é jovem demais para lembrar disso. “Por isso esse personagem é universal”, observa, “porque fala de amor, compaixão e paz. Isso dá na mesma sendo homem ou mulher, na Espanha, em Israel ou nos Estados Unidos. É uma mensagem importante, especialmente no momento em que estamos vivendo”.

“Que importa o gênero do diretor com quem você trabalha?”

As Nações Unidas festejaram o 75º aniversário da heroína outorgando-lhe o título de embaixadora honorária para representar a igualdade de gênero e o empoderamento das mulheres e meninas. Dois meses depois, devido às críticas recebidas, a campanha foi encerrada. “Fiquei paralisada, principalmente depois do que aconteceu nas eleições dos Estados Unidos”, comenta. “É isso que realmente preocupa as pessoas?”. A atriz diz que por isso Wonder Woman não pode fracassar no cinema. Não se trata de mudar Hollywood, explica, “não é para isso que o filme foi feito”. “Nós o fizemos porque acreditamos em tudo o que esse personagem representa”, afirma. “É só uma questão de tempo para que as pessoas acabem admirando também personagens fortes que sejam mulheres. Ainda há muito caminho pela frente”.

“Ninguém tinha me perguntado antes sobre como é trabalhar com um diretor, comenta ela, depois de três meses de entrevistas, “mas que importa o gênero da pessoa com quem você trabalha?”. O fato de se fazer essa diferenciação, acrescenta, “mostra que a batalha ainda não foi vencida”. “A vitória chegará somente quando o gênero não for mais uma questão”.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_