Fuja e vá encontrar o Divino em São Luiz do Paraitinga
Festa, a cerca de 170 km da capital paulista, dura dez dias e termina no próximo domingo

Uma fila de pra lá de 100 metros se alonga pelas ruas de São Luiz do Paraitinga, no interior de São Paulo. São famílias, casais, crianças e idosos à espera de um tanto de afogado – ensopado de carne de vaca, batata e macarrão servido com arroz e farinha de mandioca. Esse “um tanto” não depende de quanto dinheiro há no bolso de cada um, mas da fome e, principalmente, do tamanho do tapauer que o vivente carrega. É que o prato, preparado em fogões à lenha improvisados no pátio do Mercado Municipal da cidade, faz parte da Festa do Divino e é oferecido de graça no primeiro e segundo sábado dos dez dias de comemorações. Este ano, a festa vai até este domingo, 4. O que significa que, se você não conhece, ainda dá tempo de provar o afogado.
A meio caminho entre a litorânea Ubatuba e o Vale do Paraíba – região de cidades como Taubaté, Pindamonhangaba, Nossa Senhora de Aparecida e Guaratinguetá –, São Luiz fica a cerca de 170 km da capital paulista. A cidade, com uma população de pouco mais de 10 mil habitantes, é conhecida pela preservação e incentivo aos festejos e tradições da cultura popular. Assim, a Festa do Divino é, talvez, o principal desses momentos. De origem europeia na Idade Média, em São Luiz do Paraitinga a festa promove uma confluência de procissões religiosas em louvor ao Divino Espírito Santo, música caipira de raiz, danças folclóricas e, claro, gastronomia.

Durante um sábado, é possível primeiro se esbaldar com o afogado, herança dos tropeiros que escoavam as riquezas do planalto para o litoral, para depois dar com uma congada, em que dançarinos vestidos com roupas típicas simulam uma luta de espadas com pedaços de pau. E é possível também que lá pelas tantas a congada, de origem afro-brasileira, seja interrompida por uma procissão. Assim, a dança cessará e abrirá espaço, como num túnel, para que o padre, louvando o Senhor Jesus Cristo, e os fiéis, carregando cetros coloridos ornados com pombinhas que simbolizam o Divino, possam passar.
Ali na mesma Praça Dr. Oswaldo Cruz – batizada com o nome do sanitarista mais conhecido do Brasil, filho de São Luiz – e de frente para a Igreja da Matriz, reconstruída praticamente do zero depois que uma enchente devastou a cidade em 2010, também acontecem os shows que este ano reúnem grandes nomes da música caipira, como Renato Teixeira e Sérgio Reis. Em São Luiz do Paraitinga, durante a Festa do Divino, é possível lembrar um pouquinho do que o Brasil é. Independentemente da crise que esteja a nos acometer. Por isso, o EL PAÍS compartilha abaixo a programação de encerramento da festa. Vai ver você também não sei anima a entrar na fila do afogado.

03/06 – Sábado
Às 12h acontece a distribuição gratuita do afogado no Mercado Municipal da cidade. Às 14h sai a Cavalhada de São Pedro, celebração de origem portuguesa que simula torneios medievais a cavalo. Ao longo de todo dia acontecem procissões católicas e batuques e danças afro-religiosas ao redor da Praça Dr. Oswaldo Cruz, quando, às 22h30, o grupo A Barca, que retoma as pesquisas folclóricas de Mário de Andrade, no projeto Aprendiz.
04/06 – Domingo
Às 6h começa o dia com a passagem do batuque de grupos de cultura popular, às 6h30 há distribuição de café da manhã gratuito no Mercado Municipal. Às 10h sai a congada. Às 13h30, depois do almoço, há uma saída dos bonecos gigantes, também usados no Carnaval de São Luiz. Às 19h30 há uma queima de fogos na Praça Oswaldo Cruz e, por fim, o encerramento da Festa do Divino com o show de Renato Teixeira.
Para ver a programação completa da Festa do Divino, acesse o site da Prefeitura de São Luiz do Paraitinga.