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Reunião do G7 começa marcada por fortes atritos entre Trump e outros líderes

Cúpula vai pressionar presidente dos EUA para que respeite acordos de Paris sobre mudança climática

Daniel Verdú
O primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, e o presidente francês, Emmanuel Macron, na cúpula do G7 em Taormina (Sicília).
O primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, e o presidente francês, Emmanuel Macron, na cúpula do G7 em Taormina (Sicília).STEPHANE DE SAKUTIN (AFP)
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Ninguém esconde que o G7, que começa nesta sexta-feira, em Taormina, é o mais dividido e tenso dos últimos tempos. Um desencontro provocado principalmente pela ideia de mundo que começou a implantar o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e que choca com muitos dos acordos conseguidos nos últimos anos pelas democracias mais industrializadas. Esta manhã, o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, e o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker já admitiram fortes atritos em temas como o comércio, o meio-ambiente e as relações com a Rússia. E num tom de ensaiada gravidade, alertaram para as consequências de não conseguirem uma maior unidade no final da cúpula: “A situação no mundo pode escapar das nossas mãos”.

A coletiva de imprensa dos dois presidentes europeus estabeleceu desde o início uma posição e um tom contundentes e decididos da UE, algo pouco comum, que procura recuperar algo da personalidade política perdida recentemente. “Este é o G7 que apresenta mais desafios nos últimos anos. Não é nenhum segredo que os líderes que se encontrarão hoje têm posições diferentes em assuntos como a mudança climática e o comércio. Mas vamos fazer de tudo para manter a unidade em todas as frentes, especialmente nas regras para a manutenção da ordem global”, apontou Tusk, citando o conflito na Síria e o desafio nuclear da Coreia do Norte.

Tusk e Juncker admitem que é o G7 com maior divisão e que apresenta maiores desafios

Um dos desafios das discussões da cúpula, disse o presidente do Conselho Europeu, é a linha política que será mantida em relação à situação da Ucrânia. “Espero que o G7 demonstre a unidade no conflito. Apoiamos a independência da Ucrânia, sua soberania e integridade territorial. Só haverá solução com a aplicação completa dos acordos de Minsk”. E, claro, a política de sanções contra a Rússia, que é aplicada desde que o conflito começou. “Desde o último G7 no Japão, não vimos nada que faça mudar nossa política de sanções contra a Rússia. Assim, gostaria de pedir aos outros líderes que reconfirmem essa política”.

A Rússia e seu papel no conflito sírio são outro dos pontos fortes das discussões que acontecerão em matéria de segurança nestes dias. Tusk, especialmente duro com o tema, disse que tanto o governo de Vladimir Putin como o de Teerã, “têm responsabilidade especial porque se envolveram na crise e cooperam com o regime de Assad”. “Em lugar de perder tempo, deveriam usar sua influência para conseguir um cessar-fogo, acabar com o uso de armas químicas e permitir assistência médica”, disse Tusk que também sublinhou a força e a “grande união” da UE após o Brexit.

Em questões como a mudança climática e o comércio, como já adiantou o assessor econômico da Casa Branca, Gary Cohn, são esperadas discussões “intensas”. “Acreditamos no meio-ambiente. Mas também no crescimento econômico, na recuperação da fabricação de produtos nos EUA. Então queremos encontrar um equilíbrio”, disse durante o voo do Air Force One para a Sicília.

A UE não vê motivos para alterar a política de sanções contra a Rússia e pede que atue com responsabilidade no conflito sírio

A 43ª edição do G7 gera, até agora, um certo sentimento de folha em branco. Quatro mandatários estão debutando: Emmanuel Macron, Paolo Gentiloni, Theresa May e Donald Trump. Os olhares estarão dirigidos a eles, especialmente para britânica – que pela primeira vez nesta cúpula representará um Reino Unido com um pé fora da União Europeia, mas deverá partir antes devido ao atentado de Manchester – e para o presidente dos EUA, cuja voz e programa de Governo, baseados em uma política de unilateralismo multiuso, ficarão bem contrastados em um fórum internacional baseado na busca de acordos.

Tudo isso, após a recepção fria e desconfortável que Trump teve em Bruxelas: primeiro com alguns líderes europeus, quando foi difícil esconder as diferenças que existem, e depois na sede da OTAN, onde ele novamente atacou os baixos gastos militares da maioria dos países. Além do óbvio, há expectativa de saber exatamente o que ele quer dizer com “America First” – o primeiro-ministro de Montenegro, Dusko Markovic, já pode intuir –, indicavam ontem à tarde nos primeiros grupos de trabalho.

Porque Trump lançou mensagens contraditórias sobre quase tudo: Brexit, o Papa, Rússia... Mas esta cúpula, que começa a trabalhar ao meio-dia, também servirá para descobrir até que ponto ele está disposto a tomar decisões unilaterais, como tirar os EUA dos acordos climáticos de Paris apoiados por 195 países. Uma ideia que conta com a oposição inclusive de algumas vozes no Partido Republicano e de seu próprio Gabinete, que está dividido sobre o assunto. “Esse é um dos pontos interessantes, porque, ao contrário do que fez George Bush com o Protocolo de Kyoto, ele disse que iria ouvir antes de tomar uma decisão”, disseram algumas fontes.

Na verdade, Trump adiou sua decisão final sobre esse assunto até a conclusão do G7. Antes de chegar a Taormina o papa Francisco pediu a Trump expressamente que seu país permanecesse no marco dos acordos que ele considera negativo para a economia dos EUA. O secretário de Estado, Rex Tillerson, explicou assim: “O presidente indicou que ainda estamos pensando sobre isso, que ele não tomou uma decisão final. É algo que vai decidir quando voltarmos desta viagem”. Por isso, espera-se que os outros países (Japão, Alemanha, Itália, Canadá, França e Reino Unido) pressionem os EUA para que não se desvie desse caminho.

A África e a crise migratória também vão ocupar um espaço destacado. Pela primeira vez estão convidados ao G7 países como Etiópia, Níger, Nigéria, Marrocos e Quênia. É muito inquietante o papel da Líbia e sua instabilidade, origem da rota de fuga que cruza pela Itália. Enquanto durar a cúpula, no entanto, não serão permitidos desembarques na Sicília e se acontecerem resgates – nos últimos dois dias cerca de 4.000 pessoas foram auxiliadas em duas grandes operações – serão transferidas diretamente para o continente. Todas as associações a favor dos direitos humanos e que trabalham nas costas italianas com resgate pediram que a cúpula sirva para estabelecer políticas migratórias “mais humanas”.

Durante o dia serão realizadas três sessões de trabalho, com foco na segurança internacional, relações exteriores e o crescimento econômico. O dia terminará com um concerto nas ruínas do teatro grego oferecido pela Orquestra de La Scala de Milão.

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