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Papa Francisco recebe Trump com frieza

Pontífice tocou em questões como a necessidade de paz e a importância da proteção ambiental

O presidente de EUA, Donald Trump, e sua mulher, Melania, reúnem-se com o papa Francisco.Vídeo: FOTO ALESSANDRA TARANTINO / POOL EFE | VÍDEO REUTERS-QUALITY

Às 8h31 desta quarta-feira (3h31 em Brasília), depois de meses de declarações cruzadas e mútuas alusões veladas, o papa Francisco e o presidente dos EUA, Donald Trump, se reuniram no Vaticano. O mandatário norte-americano chegou acompanhado de uma comitiva formada, entre outros, por sua esposa, Melania, sua filha, Ivanka, e seu genro Jared Kushner. Não se esperava grande sintonia, pois ambos se encontram em antípodas ideológicos. O semblante do Papa, sempre tão transparente, era de extrema seriedade. Ao final da reunião, em que a preservação ambiental e a paz estiveram na pauta através dos presentes trocados entre ambos, o ambiente era um pouco mais relaxado. "Não esquecerei sua mensagem", prometeu-lhe Trump na despedida.

Francisco o havia recebido minutos antes com um “encantado de conhecê-lo” e desculpando-se por não falar corretamente inglês. “É uma grande honra para mim”, respondeu Trump. O Pontífice não respondeu. Às 8h35 se sentaram à mesa da biblioteca privada e a porta se fechou, dando início a uma reunião que durou 27 minutos, com a ajuda de um intérprete – o Papa falou espanhol o tempo todo, e Trump, inglês. Havia certa tensão. Os dois líderes discordam em praticamente todas as grandes linhas de gestão empreendidas pelo novo Governo dos EUA: proteção ambiental, imigração, venda de armas, neoliberalismo... E não foi um encontro longo, especialmente levando-se em conta que Francisco dedicou 50 minutos ao antecessor de Trump na Casa Branca, Barack Obama, com quem mantinha uma grande sintonia.

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Não se sabe qual foi o conteúdo da conversa desta quarta, mas, dada a grande distância de pensamento que existe entre ambos – o Papa, entre outras coisas, questionou a fé de Trump quando este anunciou que construiria um muro entre os EUA e o México –, e levando em conta o recente atentado de Manchester, supõe-se que eles terão tentado estender pontes através da ideia da paz e da luta contra o terrorismo. De fato, entre os presentes que o Papa ofereceu a Trump ao final do encontro, um momento que ele costuma usar para salientar questões tratadas, encontra-se a mensagem que Francisco lançou no último dia das Jornadas Mundiais pela Paz e um medalhão com um ramo de oliveira gravado. “É uma medalha de um artista romano. É a oliveira, símbolo da paz”, disse o Papa ao término da reunião. Segundos depois, insistiu: “Eu o dou para que seja instrumento da paz”. Ao que Trump respondeu: “Necessitamos de paz”.

Além disso, o Pontífice entregou documentos que elaborou durante seu pontificado. A exortação apostólica Amoris Laetiia, o texto Evangelii Gaudium e sua poderosa encíclica sobre a ecologia, Laudato Se. “Sobre a cura da nossa casa comum, o meio ambiente”, salientou Francisco. “Lerei”, prometeu Trump, que deu de presente ao Pontífice uma caixa preta com livros de Martin Luther King. “É um presente para você, livros de Martin Luther King, acho que vai gostar… espero que sim”, disse.

A parte final do encontro, quando os dois mandatários receberam o resto da comitiva, foi muito mais descontraída. O encontro tinha começado com caras sérias – como a que o Papa dedicou ao presidente da Argentina, Mauricio Macri – e com um Trump um pouco incomodado nos segundos finais da espera para ser recebido. Mas a entrada de Ivanka e especialmente da primeira-dama Melania Trump clareou o ambiente. Ela, eslovena de influência católica (não é batizada), que viveu um tempo em Milão, fala um pouco de italiano e foi crucial para essa distensão, pediu ao Papa que lhe abençoasse um rosário. Além disso, brincou com o Pontífice sobre o que Trump come: “O que você dá para ele comer? Potizza?”, perguntou Francisco, em referência a um doce esloveno que ele aprecia muito e sempre encomenda quando encontra alguém dessa nacionalidade.

Durante sua breve visita ao Vaticano, o presidente dos EUA também se reuniu com o número dois da Santa Sé, cardeal Pietro Parolin, e com o secretário para as Relações com os Estados, uma espécie de ministro das Relações Exteriores, monsenhor Paul Gallagher. Essa reunião durou outros 50 minutos, mais do que o habitual. Um dado que leva a pensar que os assuntos discutidos anteriormente com o Papa foram tratados em profundidade, chegando a detalhes técnicos.

No comunicado oficial do Vaticano, de forma absolutamente genérica, comentam-se alguns dos assuntos abordados. “Manifestou-se o desejo de uma colaboração serena entre o Estado e a Igreja Católica nos Estados Unidos, comprometida no serviço à população nos campos da saúde, educação e assistência aos imigrantes. As conversas também permitiram um intercâmbio de pontos de vista sobre alguns temas relacionados à atualidade internacional e à promoção da paz no mundo, através da negociação política e o diálogo inter-religioso, com especial referência à situação no Oriente Médio e à tutela das comunidades cristãs.”

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