_
_
_
_

Almodóvar: “Parece um enorme paradoxo premiar um filme que não pode ser visto em uma sala”

A tradicional coletiva de imprensa do júri do festival foi marcada pela polêmica Netflix e sua recusa a estrear seus filmes em cinemas

Gregorio Belinchón
Pedro Almodóvar fala durante a coletiva de imprensa do júri de Cannes. À sua esquerda, a partir do fundo, Maren Ade, Will Smith e Agnès Joui.
Pedro Almodóvar fala durante a coletiva de imprensa do júri de Cannes. À sua esquerda, a partir do fundo, Maren Ade, Will Smith e Agnès Joui.REGIS DUVIGNAU (REUTERS)
Mais informações
Piratas cibernéticos roubam novo ‘Piratas do Caribe’ e pedem resgate à Disney
Margaret Atwood: Maldita profecia
70 anos do Festival de Cannes

A polêmica que está marcando o festival de Cannes desde o início, além do fato de que o evento está sendo protegido até com medidas antidrones contra um possível ataque terrorista, nasce da recusa da Netflix de estrear suas produções em salas antes de passar pela plataforma. E isso contaminou a competição na 70ª edição do festival, já que dois dos filmes no certame principal (Okja, de Bong Joon-ho, e The Meyerowitz Stories, de Noah Baumbach) foram produzidos pela Netflix. O festival anunciou na semana passada que filmes que não tiverem assegurada distribuição nas salas francesas não poderão competir pela Palma de Ouro a partir do próximo ano.

Por isso na metade da coletiva de imprensa do júri da competição, presidido por Pedro Almodóvar, e composto pelos diretores Park Chan-Wook, Paolo Sorrentino e Maren Ade, a atriz e diretora Agnès Jaoui, os atores Will Smith, Jessica Chastain e Fan Bingbing e o compositor Gabriel Yared, o espanhol respondeu a uma pergunta da estação de rádio Cadena SER com uma declaração previamente escrita: Era de se esperar. “Netflix é uma nova plataforma para oferecer conteúdo pago, o que, em princípio, é bom e enriquecedor. No entanto, esta nova forma de consumo não pode tentar substituir as já existentes, como ir ao cinema, não pode alterar o hábito de espectadores, e acho que esse é o debate agora. Para mim, a solução é simples: as novas plataformas devem respeitar as regras atuais, tais como a existência de janelas de exibição, e cumprir as regras de investimento que já regulam as televisões. É a única maneira de coexistir. Parece um enorme paradoxo dar uma Palma de Ouro ou qualquer outro prêmio a um filme que não pode ser visto na tela grande. Respeito as novas tecnologias, mas enquanto continuar vivo vou defender algo que as novas gerações parecem não conhecer: a capacidade hipnótica de uma tela. Acho que a tela em que vemos um filme pela primeira vez não pode ser parte da nossa mobília, temos que ser pequenos para estar dentro do filme que nos captura”. E se tivesse que escolher entre ganhar a Palma de Ouro ou que seu filme seja visto em 190 países (aos quais chega Netflix), soltou: “Prefiro que vejam em todos os países possíveis em tela grande”.

O júri de Cannes: a partir da esquerda, Jaoui, Bingbing, Chastain, Smith, Almodóvar, Sorrentino, Yared, Park e Ade.
O júri de Cannes: a partir da esquerda, Jaoui, Bingbing, Chastain, Smith, Almodóvar, Sorrentino, Yared, Park e Ade.ERIC GAILLARD (REUTERS)

Assim pareceram ficar reduzidas as opções da Palma para os trabalhos de Jong e Baumbach. Embora Will Smith tenha defendido logo depois: “Na minha casa, e digo com conhecimento de causa pelas idades diferentes dos meus filhos, Netflix não tem importância no que vemos no cinema. São duas maneiras muito diferentes de entretenimento”.

Até então, a coletiva de imprensa avançava a passo de elefante, marcada pelas diferentes traduções ao coreano, espanhol, italiano, inglês, francês e chinês que salpicavam a conversa. Sobre a honra de presidir o júri, Almodóvar lembrou: “Meu primeiro sonho era fazer filmes. Cannes parecia algo inatingível. Desde 1982, comecei a vir como espectador, para mim Cannes é como uma grande festa onde é celebrado o cinema de autor, meu gênero favorito como espectador e, obviamente, como diretor. Como membro deste júri eclético espero que ocorra a sensação de ver pela primeira vez Viridiana, A Doce Vida ou Apocalypse Now, que volte esse milagre e sejamos seus primeiros espectadores”. Perto dele, Smith lembrava que cresceu no oeste da Filadélfia (como contava na série Um maluco no pedaço), e que Cannes estava muito longe daqueles bairros. “O festival é o local de maior prestígio no mundo do cinema. Venho aprender deste nível de arte”. Ao contrário de Chastain, cuja carreira, sente, “está conectada a Cannes, com foco em festivais como este”.

"Estou aberto a todo tipo de incorreções" (Pedro Almodóvar)

O ecletismo do júri também deparou com diferentes declarações: “Sempre quis trabalhar com Chastain, Will Smith e Bingbing, escrever com Sorrentino, Park ou Ade, que Yared musicasse meu filme...”, disse Almodóvar, sem perceber que se esquecia de Agnès Jaoui. Sobre o outro grande debate atual no cinema, a igualdade de oportunidades para os cineastas, independentemente do gênero, ele disse: “Eu me sinto suficientemente feminino para ter certeza de que minhas opiniões conterão feminilidade. Mas posso assegurar que todos os gêneros, variações e opiniões estão neste júri. No entanto, o importante são os filmes em si, não quem os faz. Espero que todas estas questões sejam levadas em conta”. E Smith brincou: “Vou assistir os filmes com um olho afro-americano... No meu caso, acho que esperamos confrontar nossos pontos de vista pessoais, e ter uma conversa global”.

O que será premiado em Cannes? O presidente do júri deu uma dica: “Estou aberto a todo tipo de filme em todos os sentidos. O que não posso prometer é que ao sentar em uma sala de projeção vou mudar minha personalidade. E é ela que vai julgar. Estou aberto a todo tipo de incorreções”. E o júri foi sofrer o calor que fazia borbulhar hoje a Costa Azul.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_