Corinthians, a “quarta força de São Paulo” reencontra seu passado contra a Ponte Preta
Timão encara a Macaca 40 anos depois da decisão histórica, que findou longo jejum de títulos e estigma de mais fraco dos quatro grandes paulistas
O Corinthians busca o seu 28º Campeonato Paulista, na tarde deste domingo, às 16h (horário de Brasília), na Arena Corinthians, contra a Ponte Preta, adversário de outra histórica decisão do estadual. Em 1977, o clube da zona leste de São Paulo quebrou um jejum de quase 23 anos sem títulos ao vencer o esquadrão campineiro por 1 x 0, no terceiro jogo da final. Assim como há quatro décadas, o estigma de "quarta força de SP" voltou a fazer parte da rotina corintiana, e foi gradativamente espantado pelo eficiente time comandado do técnico Fábio Carille. No jogo de ida, em Campinas, vitória por 3 x 0 (Rodriguinho, duas vezes, e Jadson), deixando o time paulistano muito próximo de mais uma conquista.
Apesar das recentes boas atuações, a nódoa carregada pela equipe alvinegra em 2017 se justifica: no ano anterior, eliminações precoces em Copa Libertadores, Paulistão e Copa do Brasil, e o insosso 7º lugar no Campeonato Brasileiro, além das perdas de peças importantes do elenco - mal repostas, posteriormente - e constantes trocas de técnicos, compuseram a frustrante temporada do clube.
Enquanto isso, o Corinthians, que fora campeão nacional em 2015, com Tite e companhia, via o sucesso dos três rivais: o Santos venceu seu quinto estadual dos últimos sete disputados, o Palmeiras garantiu o Brasileirão e o São Paulo, apesar de passar 2016 em branco, se preparou melhor para o ano seguinte, com a chegada do ídolo Rogério Ceni para o cargo de treinador, e de contratações como as de Lucas Pratto e Jucilei, entre outros.
Ainda que o elenco corintiano não alegrasse a torcida e fosse inferior aos plantéis rivais, Fábio Carille construiu um time sólido na defesa - a melhor do Paulistão, com dez gols sofridos - e pragmático no ataque - sete das 12 vitórias no ano foram por um gol de diferença -, que, assim, surpreendeu ao vencer Palmeiras, Santos e São Paulo e chegar à final do Paulistão. Um "azarão" que não precisou contar com a sorte, pois mereceu, dentro de campo, os resultados alcançados nos primeiros meses de 2017.
Entre Campeonato Paulista, Copa do Brasil e Copa Sul-Americana, são 24 jogos disputados no ano: 13 vitórias, nove empates e duas derrotas, com 29 gols marcados e 13 sofridos. Praticamente metade dos tentos anotados pelos corintianos veio de Jô e Rodriguinho. O primeiro, centroavante titular da equipe, marcou quatro de seus sete gols em clássicos paulistas, além de dar a assistência para Rodriguinho abrir o marcador no primeiro jogo da final, no Moisés Lucarelli. Em Campinas, o meia ainda deu um passe para Jadson superar Aranha e ampliar o placar, e balançou as redes outra vez - a sétima, em 2017 -, fechando o triunfo por 3 x 0. Enquanto a defesa formada por Fagner, Pablo, Balbuena e Arana mantém a força defensiva - passou 13 das 24 partidas sem ser vazada -, a dupla formada por "God of Clássicos" e "Deusdriguinho", como são carinhosamente chamados pela torcida, é a principal arma do treinador de 43 anos para manter um ataque eficiente.
Título histórico e quebra de jejum
22 anos, oito meses e sete dias sem comemorar sequer um título. Essa foi a realidade da torcida do Corinthians entre fevereiro de 1955, quando venceu o Paulistão de 1954 - o torneio teve sua fase final disputada no ano seguinte ao de seu início - e outubro de 1977, mês em que pôde soltar o grito que entalara as gargantas de milhões de alvinegros por mais de duas décadas. Enquanto isso, taças estaduais, nacionais e internacionais preenchiam as salas de troféus de Palmeiras, Santos e São Paulo.
Com essa descrença começava 1977 para o Timão, comandado por Oswaldo Brandão, ídolo da torcida corintiana e, coincidentemente, vencedor do último título antes da fila, o Paulista de 54. Brandão, conhecido por ser um ótimo motivador e gestor de elencos, chegava para acabar com o fantasma do jejum, mas tinha em mãos um plantel de jogadores considerado aquém dos demais adversários paulistas. Entre eles, a ótima Ponte Preta, que contava com os selecionáveis Oscar (presente nas Copas de 78, 82 e 86) , Polozzi (78) e Carlos (78, 82 e 86), além de ter como armador o meia Dicá, maior ídolo da história do clube. Assim como em 2017, o Corinthians superou seus grandes rivais em seu caminho até o jogo do título.
Após deixarem para trás equipes como Santos, Palmeiras, São Paulo, Portuguesa e Guarani, Corinthians e Ponte encontraram, na decisão, um divisor de águas: entre 1954 e 1977, o alvinegro paulistano, grande clube em âmbito nacional, havia sido vice-campeão em seis oportunidades, sendo duas delas em finais (Paulista de 74 e Brasileiro de 76), e precisava, mais do que nunca, de um título importante; o campineiro, equipe mais longeva do Brasil em atividade, nunca havia sido campeão, e chegava à primeira final de sua história com a intenção de se consolidar como uma das maiores equipes do estado.
Para sempre Basílio
CORINTHIANS: Tobias, Zé Maria, Moisés, Ademir e Wladimir; Ruço, Basílio e Luciano; Vaguinho, Geraldão e Romeu. Téc.: Oswaldo Brandão
PONTE PRETA: Carlos, Jair, Oscar, Polozi e Ângelo; Wanderlei, Marco Aurélio e Dicá; Lúcio, Rui Rei e Tuta (Parraga). Téc.: José Duarte
Local: Estádio do Morumbi - São Paulo (SP)
Data: 13/10/1977
Árbitro: Dulcídio Wanderley Boschillia (SP)
Público: 86.677
Renda: Cr$ 3.325.470,00
Gol: Basílio (36 - 2º)
No primeiro jogo, 1 x 0 para o Corinthians, com gol de Palhinha. No segundo, Dicá e Rui Rei deram a vitória por 2 x 1 para a Ponte contra o Timão, que descontou com Vaguinho. Como não existiam critérios de desempate para definir o campeão, um terceiro jogo foi forçado. Assim como nos dois outros confrontos, o palco da finalíssima seria o Morumbi. 86.677 pessoas receberam a decisão na zona oeste paulistana, e viram um jogo dificílimo para os dois lados, vencido pela insistência corintiana, retratada no gol do triunfo: aos 36 minutos da etapa final, após um longo "bate-rebate" na área pontepretana e duas finalizações bloqueadas, a bola parou no ar, presenteando Basílio: ele chutou firme e marcou o gol que findou o jejum e deu sequência à sina dos campineiros.
A conquista abriu caminho para o período mais vencedor da história do alvinegro paulista, que conquistou, nessas quatro décadas, 27 títulos, entre eles seis Campeonatos Brasileiros, três Copas do Brasil, uma Copa Libertadoras e dois Mundiais de Clubes. Por outro lado, a Ponte, que completará 117 anos em agosto, seguiu sem ao menos um título de expressão. Além da pressão para acabar com a marca negativa, a Macaca tem uma desvantagem de três gols para reverter na Arena de Itaquera, que pode ter seu primeiro título desde sua construção, em 2014.
Rio-São Paulo de 66, o título que não valeu
O Corinthians poderia ter acabado com o jejum de títulos em 1966, quando ainda durava "apenas" 12 anos. O Torneio Rio-São Paulo daquele ano, disputado em pontos corridos entre dez equipes, chegou à sua última rodada com o Vasco na liderança, com 11 pontos, Corinthians e Santos, com 10, e Botafogo, com 9. Na jornada decisiva, os alvinegros do Rio de Janeiro se enfrentaram, assim como os alvinegros de São Paulo. Na Cidade Maravilhosa, 3 x 0 para o Fogão, que fechava sua participação no campeonato com os mesmos 11 pontos do Gigante da Colina - àquela época, as vitórias valiam dois pontos. Em São Paulo, Timão e Peixe ficaram no empate por 0 x 0, que levou ambos à mesma pontuação da dupla carioca. Assim, com o empate em pontos e o calendário enxuto, já que a Copa do Mundo se aproximava e a seleção brasileira contava com muitos atletas dos times envolvidos, as quatro equipes foram declaradas campeãs pela CDB (Confederação Brasileira de Desportos), entidade que administrava o futebol brasileiro. Embora o título fosse reconhecido pela federação nacional, o fato de ser dividido entre mais três clubes o fez não ter valor para o Corinthians, tampouco para os outros times vencedores. Portanto, o período da fila corintiana seguiu por mais 11 anos, até a memorável final de 1977.
Tu suscripción se está usando en otro dispositivo
¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?
Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.
FlechaTu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.
Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.
En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.
Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.