1º de abril: dia do orgasmo fingido
É na hora do falso gozo, masculino ou feminino, que a mentira ganha a sua narrativa mais dramática e, ao mesmo tempo, humanamente risível
Repito, em mais um primeiro de abril. Das mentiras sinceras, o orgasmo fingido talvez seja a mais interessante. Delícia. Quase uma obra de caridade cristã. Para levantar nosso ego, nossa moral. Sim, nós podemos.
Um orgasmo fingido repleto de gritos e sussurros. Bem pessoal e pessoano: a parceira é uma fingidora, finge tão completamente, que chega a fingir que é gozo, o gozo que deveras sente. Minha péssima paródia à parte, há uma nobreza em tal drama. Humaníssimo drama.
“Teatro, lo tuyo es puro teatro, /falsedad bien ensayada /estudiado simulacro, /fue tu mejor actuación /destrozar mi corazón.” A canção de La Lupe, trilha sonora do filme Mulheres à beira de um ataque de nervos (1988) decifra o babado. Esse Pedro Almodóvar, o diretor, sabe das coisas.
Teatrinho de leve. Tudo indica que é um tipo de mentira gerado por generosa mente feminina, me engana que eu gosto etc. Vale. Nem sempre, porém, bom camarada, o motivo é fazer um agrado, um dengo mental, um bilu-bilu teteia no nosso ego.
Em matéria de amor e sexo, não passamos de certos candidatos e/ou administradores marketeiros
Pode ser também uma estratégia para se livrar do incômodo produzido por um enviagrado animal que insiste em uma burra e infinita penetração sem delicadeza. É o que denunciam algumas amigas. As drogas contra a disfunção erétil, usadas e abusadas por ai, têm esse efeito colateral na transa.
Óbvio que muitas mulheres não recorrem a nenhum desses expedientes. Lançam a real na cara. Qualé, rapaz, se orienta.
Fingimento do macho
Não que o homem também não minta na riqueza dessa hora. Finge sim o orgasmo, embora com menos talento. Nosso dom de iludir é de quinta categoria, embora a mentira, no varejão da existência, seja um esporte sobretudo masculino.
Às vezes o macho transforma o que poderia ser definido categoricamente apenas como brochada em uma viril desculpa. Por exemplo: “Você é tão gostosa que não resisti, já fui gozando, blablablá”. Caras e bocas. E segue, solene, com a camisinha vazia, a melancolia emborrachada, direto ao vaso sanitário. Maldito rei da broma. E mente de novo: daqui a pouco seremos felizes. Promessa de campanha política? É o que parece. Em matéria de amor e sexo, não passamos de certos candidatos e/ou administradores marketeiros.
A verdade Sílvio Santos
Luciano Huck na corrida à presidência? O rapaz parece animado e competitivo, como vimos na reveladora entrevista colhida por Eliane Trindade, colunista da Folha de S. Paulo. No que me lembrei da breve candidatura do apresentador Sílvio Santos (PMN), em 1989. Jovem repórter, tive a sorte de cobrir esse momento espetacular. Nas entrevistas, me sentia no quadro Porta da Esperança, Roletrando, Tudo por dinheiro ou Show do Milhão.
A turma do Collor, sob ameaça de perder a parada, cassou no TSE o registro de SS na disputa, alegando irregularidade nas convenções do partido. Uma pena. Jamais um candidato fez desse país um auditório tão animado quanto o ex-camelô e patrão do SBT. Lembro de uma tarde em que conversamos quase uma hora no aeroporto de Brasília. Perguntei sobre o Pablo, o gênio do Qual é a música.
Minha mãe não acreditou quando liguei para o Cariri e contei desse grande encontro. Não havia a loucura de fazer fotos. Mandei depois a matéria, digo, a reportagem.
Feliz dia da mentira a todos.
Xico Sá é autor de A pátria em sandálias da humildade (ed. Realejo), entre outros livros. Comentarista dos programas Papo de Segunda (GNT) e Redação Sportv.
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