Kuczynski: “Não há como negar que o caso Odebrecht é um freio para a economia”
O presidente peruano anuncia medidas para reverter a queda do crescimento do país
O fim da participação da empreiteira brasileira Odebrecht em dois projetos de infraestrutura no Peru –a Rodovia Interoceânica Sul, que liga Peru e Brasil, e a represa Chavimochic III— e as acusações de corrupção contra ex-presidentes e ex-ministros dos três últimos Governos colocaram um freio no avanço econômico do país: “Não há como negar que [o caso Odebrecht] é um freio para a economia”, afirmou o presidente peruano, Pedro Pablo Kuczynski, em seu primeiro encontro com a imprensa estrangeira depois de sete meses no cargo.
Acompanhado do presidente do Conselho de Ministros Fernando Zavala, o chefe de Estado peruano alertou para a incerteza gerada por “um ambiente internacional complexo” e pela “corrupção, que virou o assunto mais importante nos meios de comunicação no Peru”. O Governo de Kuzcynski, que enfrenta uma dura oposição da maioria fujimorista no Congresso, anunciou no encontro, nesta quinta-feira, várias medidas para se gerar empregos, estimular o investimento na mineração, fomentar a construção de infraestrutura e se contrapor ao efeito negativo provocado pela corrupção no ambiente econômico.
“Precisamos reativar grandes projetos que estavam em compasso de espera, por isso anunciamos um novo investimento público global de 5,5 bilhões de sóis [cerca de 5,2 bilhões de reais]”, afirmou o presidente. “O impacto da Odebrecht pode nos custar meio ponto no crescimento, mas, até o fim do ano o PIB poderá ser um pouco superior a 4%, disse o economista e ex-banqueiro de investimento. Em 2016, o país cresceu 3,9%.
Kuzcynski anunciou que o Governo irá subsidiar a construção de moradias de proteção social, por parte de empresas privadas, até se completaram 150.000 unidades nos próximos cinco anos. Além disso, sua Administração destinará 1,1 bilhão de sóis (cerca de 1 bilhão de reais) para créditos voltados à aquisição ou reforma de ativos fixos, como máquinas ou imóveis, das pequenas e médias empresas. O dono de uma empresa de porte médio ouvido pelo EL PAÍS em Lima afirmou que, em decorrência das revelações das investigações sobre corrupção no Peru desde dezembro, “ninguém mais confia em ninguém, e assim fica difícil fazer negócios”.
Mineração e infraestrutura
Para Kuzcynski, “o efeito Trump fez os preços dos metais se recuperarem”, circunstância que é favorável para o país. “O Peru é o maior exportador do mundo de zinco”, afirmou. Além disso, o presidente anunciou a iminente aprovação de “um dos maiores projetos de exploração do cobre”, em Moquegua, sul do país, pela companhia Angloamerican. “Faltam acertar alguns detalhes financeiros sobre quem poderiam ser os sócios, mas temos mantido um diálogo constante com a empresa e no começo do próximo ano sua diretoria já poderá aprova-lo”, disse.
O líder do partido Peruanos por el Kambio (PPK) também enfatizou o desenvolvimento em curso de um projeto da empresa chinesa Shougang em Marcona, no litoral sul peruano, entre outros seis projetos do setor de mineração.
Em fevereiro, segundo a Defensoria Pública, havia 78 conflitos sociais declarados envolvendo empresas de mineração, sendo 26 deles na região de Apurímac, onde se localiza a maior área de extração de cobre do país, que está a cargo de companhias chinesas. A estratégia da Administração Kuczynski para reduzir a quantidade de conflitos entre as comunidades locais e as empresas de mineração consiste em investir em pequenas obras públicas locais e destinar verbas para saúde e educação para essas populações. “Esperamos que este ano o fundo chegue a 500 milhões de sois [cerca de 470 milhões de reais]”, observou.
Política externa e interna
Na semana que vem, o presidente do Peru irá participar da reunião de cúpula da Aliança do Pacífico, em Viña del Mar (Chile). “Há uma incerteza em relação aos acordos comerciais internacionais. Não sabemos como irá ficar o NAFTA. O presidente Peña Nieto disse que o México terá de renegociá-lo. A proposta que o Peru irá levar é de reforçar a Aliança eliminando obstáculos não alfandegários e reforçar o movimento de investimentos e de capitais entre os países”.
O presidente peruano, que contava no final de fevereiro com uma aprovação de 29% para sua gestão, enfrentará dentro de uma semana, no dia 16 de março, um novo embate com a Força Popular, a maioria fujimorista no Congresso, que já conseguiu obter a renúncia de um dos ministros em dezembro. Nesta quinta-feira, o Parlamento aprovou a convocação, para interpelação, do ministro dos Transportes e primeiro vice-presidente, Martín Vizcarra, por causa das condições desvantajosas para o Estado na construção do aeroporto de Chinchero, em Cusco, região que atrai a maior quantidade de turistas no país. “Estou convencido de que o ministro dos Transportes saberá responder perfeitamente às perguntas. Não será aprovada uma censura, pois isso seria inaceitável”, disse.
Pela primeira vez em dois meses de polêmica, o chefe de Estado se pronunciou a respeito do debate nacional em curso sobre a educação com enfoque no gênero e nas questões de igualdade de oportunidades. “O que eu quero que meninos e meninas recebam uma boa formação e uma sociedade em que as pessoas sejam respeitadas. Não queremos nenhuma homofobia”, enfatizou.
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