Tatiana Calderón: “Há cada vez mais mulheres no automobilismo”
Depois de 40 anos, Fórmula 1 pode ter uma mulher no grid de largada
Foi num prêmio nacional de kart em Medellín. O pai de um menino piloto de 10 anos ameaçou o filho e os amigos que tinham ido lá para vê-lo. Se perdesse da menina, compraria perucas para todos. Teve de pagar a promessa, pois a garota era Tatiana Calderón, a jovem de Bogotá (Colômbia) que a Sauber acaba de contratar como piloto de testes. Caso precise substituir algum dos titulares da equipe, ela pode se tornar a primeira mulher a correr um GP de Fórmula 1 desde a italiana Lella Lombardi, em 1976.
Sua história percorreu o mundo inteiro. Por telefone, ela ainda se mostra tímida e cautelosa na hora de responder. “Até o ano passado, diziam ‘quando o sinal estiver verde, você acelera’. Nunca acreditaram na mulher. Nem os engenheiros, nem os próprios competidores. O grid se divide sempre entre os que ficam na frente e os que ficam atrás”, diz após a entrevista a sua irmã, Paula Calderón, que a acompanha a todos os lugares.
P. Como aconteceu sua chegada à Sauber?
R. Vinha trabalhando nessa ideia há tempos. A equipe tinha me ligado depois de algumas boas corridas na GP3 e, a partir de dezembro, trabalhamos no limite para ver se podíamos começar a estar juntos. Poucas semanas atrás, oficializamos. Não esperava ter essa proposta, mas estou muito feliz por poder torná-la oficial.
P. Quais as possibilidades concretas que uma piloto de testes tem de disputar a Fórmula 1?
R. É um primeiro grande passo, mas meu objetivo este ano é ter um bom resultado na GP3, onde corro. Claro que sonho em me aprimorar como piloto e estar pronta para correr na Fórmula 1. Sei que é muito cedo e que as coisas mudam muito rapidamente nesse esporte. É preciso estar preparada: se me derem a chance, tenho que estar pronta para aproveitá-la.
P. Como começou a correr?
R. Sempre fui fã dos esportes, mas quando tinha nove anos fui a uma pista de aluguel de kart na Colômbia e adorei. Foi amor à primeira vista. Fui com minha irmã, Paula, e nós duas começamos a competir ao mesmo tempo. Meu pai, Alberto, também adora. Nunca teve a oportunidade de correr, mas gostaria muito. Então foi fácil convencê-lo.
P. Uma pista de aluguel?
R. Sim, dessas que você vai para se divertir com os amigos. Foi assim que comecei. Corria cinco minutos, depois dez, quinze, vinte... não podiam me tirar da pista. Os donos já me diziam: “Por que você não compra um kart? Vai sair mais barato.”
P. Sempre sonhou com a Fórmula 1 no automobilismo?
R. Sempre sonhei com a Fórmula 1 porque cresci vendo as corridas de Juan Pablo Montoya. Ele sempre foi uma inspiração, e eu queria chegar à máxima categoria. Embora não houvesse mulheres, para mim ele sempre foi uma referência. Hoje continuo admirando sua corrida, tenho muito a aprender com ele. Continua sendo o meu piloto favorito.
P. Por que as mulheres não chegam à Fórmula 1?
R. Acredito que não seja tanto por um problema de gênero. Ter oportunidades na Fórmula 1 é muito complicado para qualquer um. Há 20 lugares. Às vezes, você tem a chance de estar no momento certo, na equipe certa. Nos últimos anos, estavam Susie Wolff [a piloto britânica da Williams que participou de duas provas em 2014] e Simona de Silvestro [ex-piloto suíça da IndyCar, que hoje compete na Fórmula E]. Acho que elas estavam preparadas, mas a oportunidade não chegou. No final das contas, você precisa tomar decisões. Os tempos estão mudando, e há cada vez mais mulheres no automobilismo. Tomara que possa ser eu a pessoa que terá a oportunidade.
P. As mudanças nos carros exigem mais do físico do piloto. Pode ser uma barreira para você?
R. Não vejo isso como um problema. É verdade que será preciso trabalhar mais duro e treinar mais. Faremos isso. Não será um impedimento. Estou me preparando para estar pronta quando tiver de testar o carro, como objetivo de curto prazo.
P. Como é a relação entre homens e mulheres na Fórmula 1?
R. Estou muito surpresa com a quantidade de mulheres que trabalham na Fórmula 1. A Sauber é um grande exemplo, com Monisha Kaltenborn como chefe de equipe. Têm também Ruth Buscombe como chefe de estratégia, e muitas outras mulheres estão ali trabalhando. Os tempos estão mudando. Embora ainda haja muitos homens, as pessoas estão abrindo a cabeça: sabem que são as capacidades, e não o gênero, que devem contar na hora de escolher quem colocar na equipe.
P. Se tudo der certo, quando você deve começar a correr?
R. Se tudo acontecer como eu sonho, será o mais breve possível. Mas, sendo realista, nos próximos dois ou três anos – ainda que isso dependa de muitos fatores –, poderia surpreender e passar a essa categoria.
P. Seria uma revolução em seu país...
R. É uma revolução não só na Colômbia. Tem sido incrível o impacto da notícia, as milhares de mensagens de apoio. Isso me enche de energia para fazer com que aconteça o que desejo: chegar à Fórmula 1.
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